Jovem morre após ingerir nova droga usada para manter ereção

Reprodução/InternetPedra jamaicana: não existem estudos que comprovem eficácia

Pedra jamaicana: não existem estudos que comprovem eficácia

Ele chegou ao hospital consciente, com os batimentos cardíacos alterados, mas a tempo de dizer aos médicos que havia ingerido, por acidente, uma “pedra da Jamaica”.

O produto é vendido livremente na Internet e a promessa é de entrega segura em todo o mundo. Anunciada como um afrodisíaco poderoso, capaz de retardar a ejaculação em até quatro horas e manter a ereção por longos períodos, a indicação é para que “pedra” seja diluída em água e o líquido aplicado nas áreas sensíveis do pênis.

Não se sabe o motivo, mas o rapaz engoliu o produto. Submetido a todas as manobras de ressuscitação disponíveis em um hospital de grande porte, ele não resistiu aos efeitos da droga e morreu no dia 3 de novembro.

Segundo relatos obtidos pelo R7, o paciente procurou atendimento cerca de 12 horas após ter ingerido a pedra da Jamaica. Já havia passado tempo demais e não foi possível conter o processo de intoxicação. O nome do paciente e do hospital foram preservados, pois não houve um posicionamento oficial da instituição, que apenas alegou não comentar questões relativas aos atendimentos individualmente.

O jovem não é a primeira vítima da pedra jamaicana. Em 2008, o Departamento de Saúde de Nova York emitiu um alerta para que as pessoas ficassem longe da droga, também chamada de Black Stone, Pedra chinesa, Pedra do Amor ou apenas Pedra. Segundo o informe, o afrodisíaco, considerado ilegal, poderia causar intoxicação grave e morte.

Naquela ocasião, o Centro de Controle de Intoxicações de Nova York foi notificado da morte um homem depois de ingerir o afrodisíaco. Os produtos são proibidos pela FDA (Food and Drug Administration), órgão governamental do governo dos EUA que controla medicamentos e alimentos, mas acabam sendo importados de forma ilegal.

Sites de venda garantem entrega discreta em todo o mundoReprodução/Internet

A pedra jamaicana  é uma substância marrom escura, dura, normalmente vendida como um pedaço sólido de 1,5 a 2 cm. Pode ser embalado num saco de plástico transparente com alguma rotulagem. Seus ingredientes ativos não são divulgados, mas o FDA alerta que incluem vários produtos químicos conhecidos como bufadienolides. Eles são derivados do veneno de sapo e algumas árvores e podem perturbar o ritmo normal do coração.

O produto pode causar problemas cardíacos graves ou morte quando ingerido, mas também pode ser prejudicial quando aplicado sobre a pele, seu uso típico. Mesmo pela via cutânea,  há risco de absorção. Os sintomas de envenenamento podem incluir dores no peito, dor abdominal e vômitos.

Tratamento sem comprovação

Os registros de morte falam em ingestão do produto, cuja indicação é apenas tópica. Mas erá que usado de forma “correta”, apenas passando o produto no pênis, o negócio funciona? A SBU (Sociedade Brasileira de Urologia) não reconhece esse tipo de tratamento por não haver estudos com nível de evidencia ciencitica que comprovam sua ação e eficácia. Quem faz o alerta é o médico Antônio de Moraes Júnior, coordenador-geral do Departamento de Andrologia da SBU.

— Quais são os componentes químicos dessa pedra preta? Os fabricantes não revelam. E não existe estudo algum com nível de evidência científica. O que se sabe é que é uma pedra pedra, comum na Jamaica e Caribe, vendida em cubos 1,5 cm, possivelmente feita de uma seiva de planta, que acredita-se que seja tóxica. O produto teria uma função vasodilatadora e anestésica local. Eles prometem, com o uso tópico [se passada no pênis], que a pedra faz efeito em 10 minutos e retarda a ejaculação em até quatro horas.

Segundo Moraes Júnior, existem alguns anestésicos que são usados para dessensibilizar a glande, onde estão os receptores dos terminais neurológicos, e podem retardar o orgasmo. Mas o uso desses derivados da lidocaína têm um efeito pífio no tratamento da ejaculação precoce, que é, essencialmente, uma doença psicogênita.

— A culpa não é do pênis, é do computador central, o cérebro. O tratamento de primeira linha para homens que têm perfil psicológico do ejaculador precoce é o uso de antidepressivos. Na verdade, retardar a ejaculação é um efeito colateral do remédio, usa-se de um efeito adverso da medicação para tratar uma doença.

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Segundo o médico, os profissionais brasileiros não relatam experiências de pacientes com a droga. No Congresso Brasileiro de Urologia, realizado entre os dias 31 de outubro a 4 de novembro, a pedra foi motivo de conversas informais, sem registro de casos concretos no País. Muitos médicos nunca ouviram falar do produto e a reação que a pedra causa é de incredulidade.

Para Tito Macri Bogaz, médico cirurgião geral e residente em urologia no Instituto de Urologia e Nefrologia de São José do Rio Preto, as promessas da pedra jamaicana parecem piada.

— Tanto a ejaculação precoce, ou ejaculação rápida, como a impotência sexual muitas vezes têm como principal causa um componente somático, comportamental. Anatomicamente e biologicamente falando, não tem porque alguma coisa que você passe no pênis levar à ereção. Não faz sentido algum. Depende de quem for passar a pedra, né? Se for uma mulher atraente, e passar um botão de camisa no pênis, ele vai subir. Depende de quem esfrega essa pedra.

Segundo Tito, pode haver um efeito placebo. Pessoas que têm esses problemas (de ejaculação precoce) devido a ansiedade, inexperiência, ao nervosismo na hora da relação, se e usarem algo que elas acreditam que vai dar certo, de fato, pode dar certo. No que diz respeito à ejaculação precoce, a pedra dessensibiliza a glande do pênis, deixando-a mais anestesiada.

— Faz sentido para quem tem prazer muito rapidamente com a fricção da glande. Deixá-la anestesiada até ajudaria sim. Agora, mais uma vez, a ejaculação rápida ou precoce também é multifatorial, principalmente de origem psicogênica, tanto que o melhor tratamento é antidepressivo e terapia sexual. Se o mero fato de anestesiar a glande resolvesse, bastaria ir à farmácia e comprar um anestésico tópico adequado. Não essa pedra maluca.

A equipe do site Rising Master relatou um experimento feito com a Pedra Jamaicana. Um voluntário aceitou testar o produto e, segundo sua experiência, a “pedra da jamaica é possivelmente uma das formas mais bizarras para ajudar a prolongar a ereção”. Anunciado como a solução definitiva para problemas de ejaculação precoce e impotência, a avaliação admite que a propaganda é ” boa demais para ser verdade”.

De acordo com o rapaz que fez o teste, a primeira coisa que assusta é a ausência de origem do produto. “Diz ser colhida a partir da seiva de árvore de uma árvore nativa da Jamaica e as ilhas do Caribe, embora ninguém fale o nome da árvore. Não diz no pacote, e nenhum site do fornecedor menciona o nome”.

Segundo ele, o uso do produto causou uma intensa sensação de queimação, que durou 15 minutos e custou a passar mesmo depois de lavar o pênis completamente. “E, mesmo assim, foram necessários mais 20 a 30 minutos para se acalmar completamente”. Levou cerca de 10 minutos para ter um efeito perceptível, mas 20 minutos parece ser o máximo potencial de dessensibilização.

O cobaia relatou que o efeito entorpecente foi definitivamente eficaz, e que uso da pedra jamaicana permitiu que ele tivesse relações sexuais por mais tempo, mas longe das quatro horas anunciadas pelos vendedores. Ainda assim, especialmente por conta dos riscos envolvidos, ele foi categório.

— Mas meu conselho é: fique longe da pedra jamaicana, e não apenas porque alguém morreu depois de bizarramente ter comido o produto. É porque a sensação de queimação é desagradável, e pode se transferir para o seu parceiro com muita facilidade. E, definitivamente, não é uma boa idéia usar jamaicana pedra durante o sexo oral, porque o sabor é forte e desagradável.

Fonte: R7

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