Um dos delatores da Operação Lava Jato, o doleiro Carlos Alexandre de Souza Rocha, conhecido como Ceará, que trabalhava para o doleiro Alberto Youssef transportando dinheiro, disse em depoimento que, em 2014, levou R$ 300 mil para o ex-presidente da República e atual senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) em pacotes de notas de R$ 100.
Em sua delação, que acabou homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Ceará também mencionou ter feito entregas de dinheiro a outros políticos. O depoimento em que cita Collor foi dado em julho, mas veio a público nesta semana.
Ele relatou que, no final de janeiro de 2014, Youssef pediu a ele que levasse R$ 300 mil para Maceió. Segundo o delator, o dinheiro estava dividido em 30 pacotes de notas de R$ 100.
No Hotel Radisson em Maceió, Ceará contou ter entregado o dinheiro a Rafael Ângulo Lopez, outro carregador de dinheiro de Youssef e que também fez acordo de delação premiada com a Lava Jato, que confirmou que, no total, seriam entregues R$ 900 mil ao mesmo destinatário.
Ao questionar para quem seria o dinheiro, Ângulo Lopez teria ficado em silêncio. Só ao retornar a São Paulo é que ele soube que o montante seria destinado a Collor.
Segundo Ceará, Youssef disse que tinha recebido uma reclamação porque Ângulo Lopez tinha chamado Fernando Collor de “velho e gordo”. Diante disso, o delator disse a Youssef: “Ah, então o dinheiro de Maceió foi para Collor”, ao que o doleiro respondeu: “Foi”.
O próprio Rafael Ângulo Lopez já havia dito em seu depoimento que entregou dinheiro vivo para o senador. Ele citou uma ocasião em que levou ao apartamento de Collor em São Paulo R$ 60 mil.
Em sua delação, Ceará também cita essa entrega. “Soube de uma entrega de dinheiro em espécie a Fernando Collor em São Paulo; essa entrega foi feita por Rafael Angulo Lopez”, contou, acrescentando que ficou sabendo disso por Youssef.
Collor é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) desde março, quando foram abertas as primeiras investigações pela Procuradoria Geral da República envolvendo políticos na Lava Jato.
Em agosto, Collor foi denunciado pela Procuradoria Geral da República por supostamente ter recebido, com um grupo de auxiliares, R$ 26 milhões, entre 2010 e 2014, como pagamento de propina por contratos firmados na BR Distribuidora. Ele sempre negou as acusações.
Em julho, a pedido da PGR, Collor chegou a ter veículos de luxo apreendidos por suspeita de que teria adquirido os bens para lavar dinheiro. Os veículos foram devolvidos ao senador no final de outubro. O STF quebrou o sigilo de contratos de financiamento para que investigadores analisem como foi feita a compra.
Outro lado
Por meio de uma nota divulgada pela sua assessoria de imprensa, Collor negou conhecer Ceará e questionou a credibilidade do seu depoimento.
“A delação retardatária e oportunista carece de mínima credibilidade: o delator nada sabe por si, mas limita-se a papagaiar informações que alega ter ouvido dizer não por acaso de outros delatores seus comparsas, todos irmanados em um único propósito: obter benefícios contando mentiras convenientes ao interlocutor de ocasião. O Senador Fernando Collor não conhece e nem faz ideia de quem seja Carlos Alexandre de Souza Rocha, pessoa de quem jamais ouviu falar”, diz a nota.