O Festival Ópera na Tela é uma mostra inédita totalmente dedicada ao gênero da ópera. Com exibição do melhor da temporada europeia recente, o evento torna acessível a atualidade lírica mundial ao público brasileiro. Nesta quinta-feira (04), às 19h30, o festival chega a Maceió com a apresentação de A Flauta Mágica, de Mozart, no Arte Pajuçara. A ópera terá uma nova exibição no sábado (06), às 15h30.
O projeto apresenta o que há de mais sofisticado em cultura lírica e atende a uma demanda crescente do público brasileiro. E ao mesmo tempo, incentiva a democratização dessa linguagem tão especial de encenação e música, através de ferramentas digitais de projeção.
Com o objetivo de proporcionar uma verdadeira experiência à plateia das montagens mais grandiosas do gênero, uma programação com 13 grandes óperas será vista em salas de cinemas de todo Brasil até junho de 2016, oferecendo uma verdadeira temporada operística. O Arte Pajuçara abraçou o projeto e vai exibir todos os títulos com exclusividade em Alagoas..
A Flauta Mágica, título escolhido para abrir o festival, tem sido tem sido uma das obras mais populares de Mozart por mais de 200 anos.
A FLAUTA MÁGICA
Por Maestro Ricardo Prado
Reis e rainhas, príncipes e princesas, monstros, desafios, florestas e passarinhos. Uma ópera para crianças? Mas o que fazer com disputas e manipulações cruéis entre pais e mães separados? E com tanta violência e até suicídio? Sim, eles já conhecem um bocado de tudo isso dos desenhos animados e vídeo games, das histórias da carochinha. Esta extraordinária versão do Festival de Páscoa de Baden-Baden – com a Filarmônica de Berlin, Sir Simon Rattle e Robert Carsen na direção e um elenco estelar – propõe uma leitura adulta de elementos tão infantis. Esta combinação, talvez única, de conto de fada, comedia dell’arte, rituais maçônicos e drama familiar, tem muito a dizer a todos nós. Uma obra para crianças, mas com tanto para fazer pensar os adultos. Especialmente, aqueles que têm a infância viva na maturidade.
Para Mozart, a parceria com o ator, empresário e libretista Schikanader foi estratégica. Os dois eram amigos desde Salzburg, onde o ator viveu em 1780, e planejavam criar algo, juntos, desde então. Schikanader queria “encher as salas e ganhar muito dinheiro”. Mozart acreditava poder livrar-se de patrões, como o Arcebispo de Salzburg ou o Imperador, vencer o vício das plateias em ópera italiana; viver de bilheterias. Schikanader possuía, desde 1789, o Theater auf der Wieden. Lá, montava ópera, teatro, tragédias e comédias, onde o forte eram os efeitos especiais e as canções. A plateia se divertia com sequências de atrações. É importante lembrar, que o teatro ficava em Wieden, um subúrbio da Viena da época. Daí a escolha de comporem um singspiel, forma de teatro cantado com os diálogos falados, sem recitativos – o que o torna ainda mais próxima do cinema. O texto de Schikinader se encaixava perfeitamente no estilo e tradições do teatro vienense popular de então.
Mozart logo entendeu que A Flauta Mágica precisava de uma grande variedade de estilos musicais – e ele foi grande para cada um deles. Nesta ópera, estão várias de suas melhores composições em música sublime, cômica e solene. A Abertura é um primor de brilho instrumental. Há fugas, contraponto sofisticado, canções e temas folclóricos. Esta variedade impõe um importante desafio aos regentes e diretores, acrescido pela aparente simplicidade da obra. O regente dessa versão, Sir Simon Rattle, confessou, numa entrevista, que passou anos evitando regê-la.
A abertura de Papageno vem do folclore e a primeira ária da Rainha da Noite é ornamentada à moda antiga. Mas há também um romantismo curioso nas harmonias, bem como, uma espiritualidade nos coros dos sacerdotes que parece antecipar Parsifal, de Wagner. Mozart amava demais A Flauta Mágica, talvez mais do que qualquer outro de suas óperas. Não poderia imaginar que sua composição preferida se tornaria o fundamento da ópera romântica alemã, mas sabia o valor do que havia escrito. Mozart morreu pouco mais de dois meses após a primeira apresentação da ópera – que foi um sucesso.
Esta versão marca a estreia da Filarmônica de Berlin no Festival de Baden-Baden, que deixou o concorrente de Salzburg. Uma produção planejada para fazer história. Além, da quase perfeição musical do conjunto (o quase é só para não a tratar como divindade) e da qualidade das vozes, há o tratamento cênico instigante, propositivo e cômico.
As pessoas que jogam Tamino na cova com a serpente e também depois carregam Pamina. Quem são elas? Seria o público, a plateia, a mover, à força, os personagens para a ação? Um pedido de ficção? A burguesia a quem Mozart queria atrair e entreter com o seu singspiel?
E quanta comédia! As Três Damas estão esplêndidas na disputa por Tamino. Divertem-se com pistolas automáticas para matar a serpente e usam uma chave eletrônica, como as dos carros, para trancar a boca do mentiroso Papageno – que em versões anteriores, era um cadeado. Estes não são meros elementos para modernizar a ópera, mas elementos cênicos para reforçar a comédia.
FICHA TÉCNICA
Título original: Die Zauberflöte
Compositor: Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791)
Libreto: Emanuel Schikaneder
Maestro: Sir Simon Rattle
Direção: Robert Carsen
Filmado por: Olivier Simonnet
Produção: Euro Arts Music
Filarmônica de Berlim e Coro Rádio de Berlim
Ópera em dois atos Cantada em alemão
Classificação indicativa: 12 anos
Duração da obra: 2h30
Elenco
Ana Durlovski, Dimitry Ivaschenko, Pavol Breslik, Kater Royal, Michael Nagy e Regula Mühlemann
Serviço:
Festival Ópera na Tela
Quando: quinta-feira, 04 de fevereiro, às 19h30, e sábado, dia 06, às 15h30.
Onde: No Centro Cultural Arte Pajuçara (Av. Dr. Antônio Gouveia, 1113, Pajuçara)
Ingressos antes de cada sessão: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
Informações: (82) 3316-6000
Clique aqui para ver o trailer de A Flauta Mágica.