Apaixonada pela natureza, mulher realiza sonho e vira sereia profissional

Mirella Ferraz, de Pirassununga (SP), se apresenta em festas e eventos. 'Sempre me senti como se minha casa fosse mais a água do que a terra', diz.

O amor pelo mar e seus segredos, a vontade de defender o meio ambiente e o desejo de viver um sonho. Esses são os motivos que Mirella Ferraz, de 32 anos, aponta como responsáveis por seu trabalho. Há quatro anos ela é sereia profissional e se apresenta em festas e eventos em aquários e parques aquáticos.

“Esse meu amor imenso nasceu quando eu nasci, isso é a razão de toda a minha vida. Quantas pessoas no mundo conseguiram tornar o seu conto de fadas profissão e viver disso integralmente?”, quastionou a moradora de Pirassununga (SP).

Mirella contou que sua relação com o sereismo começou antes de o termo ser conhecido e, quando optou pela atividade, existiam duas sereias e um tritão profissionais nos Estados Unidos e na Austrália. “Eu vivo de ser uma sereia. Sempre me senti como se minha casa fosse mais a água do que a terra”, afirmou.

Apoio
Segundo Mirella, o começo foi difícil e ela recebeu muitas críticas, mas não pensou em desistir. “Tive que ler e ouvir as maiores barbaridades de um país inteiro dizendo que eu era louca, infantil, que tinha que ir lavar a louça, mas sempre passei por cima de qualquer crítica para seguir o meu sonho. Hoje, sim, há reconhecimento”, desabafou.

Se fora de casa nem sempre houve compreensão, o mesmo não aconteceu junto aos familiares. “Meu marido acha incrível eu ser assim, e olha que é psicólogo. Ele acha muito legal ter coragem de seguir os sonhos, mesmo que eles pareçam tão fora de ordem para a sociedade”, contou.

A mãe de Mirella também apóia a atividade. De acordo com Izilda Ferraz Nogueira, a filha sempre demonstrou preocupação com a defesa da natureza e isso era o mais importante, dava orgulho para a família.

“Ela nos ensinou a amar ainda mais os animais. Nos tornamos protetores de animais de rua por ela nos mostrar o sofrimento deles. Ela nunca desiste de seus sonhos, sempre foi bastante geniosa e briguenta quanto ao meio ambiente, o que eu tenho por ela vai além de admiração”, disse.

Mirella Ferraz durante uma de suas apresentações em aquários (Foto: Nelson Almeida/Arquivo Pessoal)
Mirella Ferraz durante uma de suas apresentações em aquários (Foto: Nelson Almeida/Arquivo pessoal)

Infância
O amor pela água começou cedo. Segundo Izilda, a primeira palavra da filha foi “sereia” e aos dois anos, quando viu uma piscina pela primeira vez, Mirella se atirou e foi salva às pressas.

“Eu estava ao lado, conversando com uma amiga, e rapidamente a puxei pelos cabelos. Foi o maior susto. Foi quando decidi chamar uma professora de natação e rapidamente ela nadou, diziam que ela era um peixinho”, contou a mãe.

Mirella ganhou sua primeira fantasia de sereia aos 9 anos (Foto: Mirella Ferraz/ Arquivo Pessoal)
Mirella ganhou sua primeira fantasia de sereia
aos 9 anos (Foto: Mirella Ferraz/Arquivo pessoal)

Aos quatro anos, Mirella cismou que queria um golfinho e, se esforçando para escrever, fez uma carta para o apresentador Silvio Santos pedindo um.

Pouco tempo depois, assistindo a uma matéria sobre a matança de golfinhos no arquipélago dos Açores, a criança ficou revoltada e decidiu escrever outra carta, dessa vez para o cônsul. “Ela escreveu uma carta bem malcriada pedindo o fim da matança e ainda deixou de comer carne”, contou Izilda.

Aos cinco anos, Mirella pegava meias da mãe, colava lantejoulas e fingia ser uma sereia. Quatro anos depois, quando ganhou sua primeira fantasia, usava a cauda para nadar em piscinas do bairro. Também fez um vizinho interromper a limpeza de uma fazenda por estar derrubando árvores.

“Quando me perguntavam o que eu iria ser quando crescesse eu sempre dizia: Sereia! E a minha vida inteira foi direcionada para isso. Eu sempre tive um cabelão imenso, nunca cortei por causa das sereias, por me sentir mais sereia assim. Eu colocava conchas no meu cabelo e ia nadar no clube, nadando de um jeito estranho aos olhos dos outros, já que eu fazia como os golfinhos desde criancinha”, disse Mirella.

Mirella escreveu diversos contos sobre sereias (Foto: Mirella Ferraz/ Instagram)
Mirella escreveu diversos contos sobre as
sereias (Foto: Mirella Ferraz/Instagram)

Hoje formada em gestão ambiental, com especialização em biologia marinha, ela confecciona as próprias caudas e há quatro anos atua profissionalmente. Ainda escreve contos e romances, foi roteirista de quatro curtas e atuou em um deles, “O Canto da Lagoa”.

Caudas
Após tentar confeccionar uma cauda durante toda a adolescência, ela finalmente conseguiu concluir a 1ª nadadeira em 2005.

“Naquela época tudo era difícil. Só vendiam o neoprene [tecido de mergulho] para atletas. Uma vez fui até um ferro velho, peguei um pneu de caminhão e tentei fazer uma. Eu e meu marido cortamos no formato com uma faquinha, mas ficou pesando 50 quilos e ficou horrível, não consegui bolar um jeito dela grudar no pé. Outra vez fui em uma funilaria e tentei convencer o funileiro a construir uma nadadeira com fibra de vidro, mas também não deu certo”, relatou.

Mirella é conhecida como Sereia-Barbie pelas crianças (Foto: Marcelo Piu/ Arquivo Pessoal)
Mirella Ferraz pratica mergulho e yoga para manter o
condicionamento (Foto: Marcelo Piu/Arquivo pessoal)

Com a experiência acumulada nas tentativas, Mirella passou a comercializar caudas e criou modelos específicos para as apresentações. As peças demoram até seis meses para serem concluídas, pesam até 40 kg e chegam a custar R$ 1,5 mil.

Já para manter o condicionamento e realizar os mergulhos ela treina apneia e pratica yoga.

“É a realização de uma vida inteira. Batalhei muito para conseguir tudo isso, é o que alimenta a minha alma”, explicou.

Fonte: G1

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