Eram quase 21h da última quinta-feira, dia 25 de fevereiro, quando o motorista de um ônibus da linha Vila Norma-Cascadura, da Viação Flores, faz uma parada na Martin Luther King, na altura de Acari, Zona Norte do Rio. Não havia placa sinalizando o ponto, e a porta abriu-se diante de uma espécie de meio-fio que separa as pistas. O espaço era tão estreito quanto o poste ao lado da passageira de 54 anos, que saltou pela porta dianteira. Ela desceu com alguma dificuldade, olhou para o lado, e o ônibus deu sinal de que ia partir. Segurando uma bolsa, ela se desequilibrou. O veículo, já em movimento, tocou suas costas e avançou. A mulher tentou se segurar, encostou os braços no veículo, mas não conseguiu.
Ivone Correa, 54 anos, caiu deitada no chão e, sem que desse tempo de se levantar, foi atropelada pelo mesmo ônibus. Ela estava a caminho de casa, ao fim de mais um dia de trabalho – era das faxinas diárias que tirava o seu sustento. Os verbos no passado dão conta da história: Ivone morreu na hora.
Segundo a família, o motorista teria sido avisado sobre o atropelamento, mas não prestou socorro à vítima, e seguiu em frente.
— Eu fui a primeira pessoa a saber. Uma vizinha foi levar uma amiga até o ponto e voltou correndo para avisar que a Ivone tinha sido atropelada. Quando chegamos, foi a cena mais chocante que se pode imaginar. Aquele drama de ver um corpo no chão — disse Edna Brandão, cunhada de Ivone.
Ainda na mesma noite, um familiar de Ivone procurou a garagem da Viação Flores, em São João de Meriti, para reivindicar o ocorrido. O sobrinho Cristiano Brandão disse que a família espera até hoje alguma posição da empresa.
— Fomos lá no mesmo dia, procuramos alguém que pudesse ajudar em algo. Informaram que a advogada da empresa nos procuraria no dia seguinte, mas até agora nada. Queremos justiça — disse o sobrinho.
A Viação Flores informou que o motorista foi afastado no dia seguinte, e que ele não prestou socorro à vítima porque não viu o atropelamento. Na terça-feira, o homem foi ouvido por policiais na 39ª DP (Pavuna).
De acordo com o delegado Rui Barbosa, titular da unidade, um inquérito foi instaurado para apurar as circunstâncias da morte.
— Ainda estamos no início das investigações, e temos 30 dias para concluir o inquérito policial. As imagens estão sendo analisadas e ainda buscamos mais informações sobre o que aconteceu — disse.
Viação Flores pode ser multada
Segundo o Departamento de Transportes Rodoviários (Detro), responsável por fiscalizar ônibus intermunicipais, a legislação que regulamenta o setor determina que os coletivos parem nos pontos estabelecidos pela prefeitura, sob pena de multa. Se for confirmado que o motorista parou fora do ponto, a empresa será autuada em R$ 1.328,98. “O Detro lamenta o acidente e informa que as imagens, que circulam nas redes sociais, desde o dia 25 de fevereiro, estão sendo analisadas pela corregedoria do órgão”, diz em nota.
A Viação Flores informou que o motorista, cujo nome não foi divulgado, não prestou socorro à vítima porque não viu o atropelamento. Mesmo assim ele foi afastado no dia seguinte. Na terça-feira, o condutor foi ouvido por policiais da 39ª DP (Pavuna) e liberado. Segundo o delegado Rui Barbosa, titular da unidade, um inquérito foi instaurado para apurar as circunstâncias da morte.
— Ainda estamos no início das investigações e temos 30 dias para concluir o inquérito. As imagens estão sendo analisadas e ainda buscamos mais informações sobre o que aconteceu — disse.