O que há em comum entre uma empresa de energéticos austríaca, um milionário com trajetória em banco e um deputado Estadual? Aparentemente nada, mas eles são proprietários de três dos quatro clubes pequenos na disputa das quartas de final do Campeonato Paulista: Red Bull Brasil, Osasco Audax e São Bernardo, respectivamente.
Essas equipes se distinguem dos grandes Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo e também do São Bento, que completa o quadro de classificados, por serem jovens, terem disputado pouquíssimas vezes a Série A1 e não estarem em divisão nacional alguma – ao lado da equipe de Sorocaba, ainda buscam a classificação à Série D.
RED BULL BRASIL
Adversário do Corinthians, o Red Bull Brasil é controlado pela marca de bebidas homônima, que fica na Áustria, e que também injeta dinheiro nas equipes de Salzburg, da Áustria, e Nova York, nos Estados Unidos.
Como proprietária da agremiação brasileira, ela escolhe o presidente, define o orçamento e tem poder de vetar medidas que, na avaliação dela, possam ser ruim para a marca.
A relação é tão forte que o primeiro presidente do clube foi o empresário Pedro Navio, o mesmo mandatário da Red Bull bebidas no Brasil – hoje ele é o ‘cabeça’ da empresa na América Latina. Desde janeiro de 2011, o empresário Rodolfo Kussarev é o presidente.
O investimento não chega aos pés dos grandes clubes, mas, comparando ao dos times pequenos, não tem nada de modesto. Em 2014, por exemplo, o clube investiu quase R$ 6 milhões no futebol. Segundo apurou a reportagem, o gasto com folha salarial é superior a R$ 400 mil mensais – o time não tem nenhum ‘medalhão’ no elenco.
Já envolvimento com o Red Bull Salzburg é diferente. Há reuniões semanais entre as diretorias dos clubes, o que é visto pelos cartolas brasileiros como uma “parceria técnica”. Isso significa discussões sobre planejamento, investimento e até jogadores.
A equipe brasileira costuma ceder atletas para o time de Salzburg. O mais recente foi o zagueiro Bernardo, que disputou a última Série D do Brasileiro pela equipe campineira.
Na construção do centro de treinamento em Jarinu, interior de São Paulo, houve também consulta ao clube austríaco. Embora a área de 660 mil metros quadrados não seja propriedade da equipe brasileira, o local possui quatro campos oficiais, alojamento para 110 jogadores, departamento médico completo, um lago e um simulador de F-1.
Já o ‘irmão’ americano, que dipusta a MLS (Major League Soccer) tem uma relação distante. Não há reuniões nem participação nas decisões da equipe brasileira.
OSASCO AUDAX
Adversário do São Paulo, o time passou a existir há dois anos, quando o empresário Mário Teixeira, então membro do conselho do Bradesco, comprou o Audax do empresário Abilio Diniz. A equipe mudou-se da zona sul da capital paulista para a cidade de Osasco.
A compra fez o Osasco Audax ingressar diretamente na elite do Estado, herdando a vaga do antecessor. A estreia ocorreu no ano passado – a equipe ficou em nono.
Teixeira já não faz mais parte do conselho do banco Bradesco, mas continua como proprietário do Osasco Audax. Ao comprar a equipe de Abilio Diniz, nomeou Marcos André Batista Santos, o Vampeta, como presidente – ele continua no cargo até hoje.
Mas a estrutura administrativa não lembra uma grande empresa. Pelo contrário, é modesta. Além de Teixeira e Vampeta, mais quatro pessoas participam da diretoria e tomam conta do clube e do coirmão, Grêmio Osasco, que disputa a terceira divisão.
“São dois clubes, mas com o mesmo pai, digamos assim. Cada um tem vida própria, com treinadores diferentes, elencos diferentes e autonomia, mas usam o mesmo local para treinar, o mesmo estádio para jogar e tem projeto semelhante”, explicou Nei Teixeira, direito de futebol dos dois clubes, embora admita estar mais ligado hoje ao Audax.
Teixeira também é o ‘pai’ do Grêmio Osasco, mas quem aparece como proprietário da equipe na Junta Comercial do Estado de São Paulo é Marinalva Gomes Simões de Macedo, parenta dele. Segundo pessoas do clube, o motivo é que o regulamento da CBF não permite que uma mesma pessoa seja proprietária de mais de um clube.
O orçamento do Audax é parecido com o do Red Bull. A folha mensal é de R$ 380 mil mensais.
SÃO BERNARDO
Rival do Palmeiras nas quartas, o São Bernardo tem diferenças para os rivais. Há mais de um proprietário, eles têm envolvimento com a política e o investimento na equipe é menor.
Os três proprietários são o deputado estadual Luiz Fernando Teixeira Ferreira (PT-SP), que responde por metade do capital da sociedade e é o presidente, o advogado Edson Asarias (vice) e o ex-deputado federal Edgard Montemor, diretor de futebol.
Eles estão no clube desde 2009 e a forma encontrada para fazer a equipe se manter competitiva é por meio de parcerias. O São Bernardo já teve o BMG como patrocinador máster. Hoje tem a Crefisa e a FAM – que também são parceiras do Palmeiras.
O time investe na formação de jogadores, embora tenha apenas um time sub-20 –os rivais tem as demais categorias, mas o clube aurinegro não. A fórmula encontrada é aproveitar os torneios amadores que ocorrem em São Bernardo.
“São mais de 90 equipes amadoras cadastradas. Nós procuramos jogadores que possam compor nosso time. Não temos muito dinheiro para investimentos fora. Precisamos contar com jogadores que saiam do nosso time sub-20”, disse o presidente do clube.
A folha salarial do elenco é R$ 340 mil – a mais baixa em relação aos rivais.
SÉRIE D
Osasco Audax, Red Bull, São Bento e São Bernardo, quatro das equipes classificadas para as quartas de final do Campeonato Paulista e que não jogam nenhuma divisão nacional, brigam por duas vagas para a Série D do Brasileiro neste ano.
A Federação Paulista tem de indicar a CBF os dois clubes de melhor campanha no Estadual para completar os times do nacional. Ao final da primeira fase, o São Bento (terceiro colocado, com 27 pontos) e o Osasco Audax (quinto, com 24) ficaram em vantagem a São Bernardo (sexto, com 23) e Red Bull (sétimo, com 22).
Mas os pontos continuam valendo na fase mata-mata da competição. Assim, todos têm chance de buscar a vaga na última divisão nacional.
Outros dois classificados são Linense e Ituano, campeão e vice da Copa Paulista do ano passado, respectivamente.