Assaltantes vestidos como agentes da PF invadiram um prédio onde mora o empresário Ronan Maria Pinto em Santo André, no ABC, nesta quinta-feira (14). Dono do jornal “Diário do Grande ABC”, ele foi preso na 27ª fase da Operação Lava Jato.
Segundo a Polícia Civil, dois apartamentos, um no 7º e outro no 8º andares, foram assaltados no edifício, que fica na Rua Dona Carlota, 262, na Vila Bastos, região central. O edifício de alto padrão tem um apartamento por andar.
De acordo com policiais do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra) ouvidos pela reportagem da TV Globo, a ação ocorreu entre 5h30 e 8h. Pelo menos 10 homens com roupa de agentes da PF disseram a funcionários que fariam uma diligência no apartamento do empresário.
Para a polícia, o porteiro disse que os assaltantes o ameaçaram de prisão por obstrução da justiça caso não abrisse o portão. Por isso ele deixou a quadrilha entrar em dois carros de polícia falsos: um Freemont preto e um Citroën branco.
Ao entrar no prédio, o grupo rendeu o porteiro e outros funcionários. Depois, renderam um casal e chegaram a entrar no apartamento deles, mas não levaram nada. Após isso, subiram para os outros dois (segundo os investigadores do Garra, nenhum deles era de Ronan). Os criminosos levaram joias e dinheiro. As vítimas foram ouvidas por investigadores no próprio edifício, pois estavam apavoradas.
O G1 esteve no prédio e verificou que havia câmeras de segurança perto do portão. Segundo policiais civis ouvidos, os criminosos levaram os registros das imagens antes de fugirem. Até as 15h40 não havia informação de presos.
Lava Jato
Ronan foi preso em 1º de abril, durante a 27ª fase da Lava Jato, batizada de Carbono 14. Além dele, o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, conhecido como Silvinho, também foi alvo da operação. No dia 5, o juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância, decidiu converter a prisão temporária do empresário em preventiva – ou seja, por tempo indeterminado.
Para Moro, manter Ronan preso traz “riscos à investigação, à instrução criminal e à ordem pública”. Segundo as investigações, ele teria recebido R$ 6 milhões em troca da não publicação de supostas informações que ligariam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ex-ministros José Dirceu e Gilberto Carvalho à morte do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT).
As investigações apontaram indícios de que Ronan conseguiu o dinheiro ameaçando publicar as informações no jornal Diário do Grande ABC, do qual é dono. A quantia que recebeu, conforme o MPF, foi repassada por meio de um empréstimo feito pelo pecuaristaJosé Carlos Bumlai, junto ao Banco Schahin.
Bumlai reconheceu em depoimento que fez um empréstimo de R$ 12 milhões a pedido do PT e disse que a quantia nunca foi paga ao banco. O dinheiro seria para pagar dívidas de campanha.
O MPF diz que a dívida do pecuarista foi, na verdade, um pagamento de propina da Schahin, cuja empresa de engenharia pertence ao grupo fechou um contrato no valor de US,1,6 bilhão para o aluguel de navios-sonda para aPetrobras.
Do montante do empréstimo, metade foi repassada à empresa Remar e que, posteriormente, teria chegado a Ronan Maria Pinto. O MPF sustenta que essa intermediação foi feita para garantir que os recursos não fossem encaminhados diretamente ao empresário.
Ronan nega que tenha feito algum tipo de chantagem. Em depoimento prestado à Polícia Federalna segunda-feira (4), o empresário disse que, de fato, pegou R$ 6 milhões da Remar, mas afirmou que o dinheiro era para pagar a compra de uma nova frota para a empresa de ônibus da qual também é proprietário.
A questão envolvendo o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira também passa pelo suposto esquema de chantagem. Ele é suspeito de ter sido o principal intermediador entre Ronan Maria Pinto e o PT. Ao contrário de Ronan, Silvinho foi solto.