Ambas não demonstraram arrependimento em nenhum momento, segundo do delegado Gilberto de Aquino, da Delegacia de Investigações Gerais (DIG).
O delegado informou que não fará a reconstituição do crime porque as provas deixam claro o envolvimento de ambas. A mãe, que está presa temporariamente por 30 dias, será indiciada pelo crime de homicídio duplamente qualificado combinado com corrupção de menores e ocultação de cadáver. Se condenada, pode pegar de 12 a 30 anos de reclusão.
Já a filha, detida por 45 dias, responderá por ato infracional pelos mesmos crimes e, se condenada, ficará na Fundação Casa no máximo até os 21 anos. As duas foram levadas para a Cadeia Feminina de Ribeirão Bonito.
morto em São Carlos (Foto: Reprodução/Facebook)
O crime
Milton Taidi Sonoda, de 39 anos, foi assassinado no dia 18 do mês passado, por volta das 10h30. Ele era graduado e mestre pela Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos e lecionava na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), em Uberaba (MG).
O delegado Gilberto de Aquino relatou que o professor foi dopado pela enteada antes de ser morto, pois estava meio desacordado quando foi golpeado três vezes na altura da barriga. Ele caiu no chão da sala e agonizou por dez minutos até morrer.
Após o homicídio, o delegado afirma que as mulheres doparam o filho do casal para que ele dormisse enquanto elas escondiam o corpo. Mãe e filha saíram para comprar uma pá e sacos plásticos. Ao voltarem, embalaram o corpo de Sonoda e prenderam com fita crepe. Manobraram o carro de ré na garagem e colocaram o professor no veículo.
Depois, seguiram até o km 148 da Rodovia Luís Augusto de Oliveira (SP-215), local onde o automóvel com o corpo de Sonoda dentro foi encontrado pelo Corpo de Bombeiros à noite, em chamas.
De acordo com o delegado, a adolescente relatou que a pá comprada serviu para ela abrir uma cova no local em que o veículo estava. Quando foram retirar o corpo do carro, entretanto, saiu muito sangue e o veículo ficou manchado. “Elas viram que ficariam vestígios, pois havia impressões digitais de ambas e, como a viúva é advogada e tem conhecimento jurídico, decidiram atear fogo no veiculo”, disse o delegado.
A investigação da DIG concluiu que mãe e filha planejavam a morte do professor há três meses. Sonoda tinha uma certa quantia em dinheiro que investia na reforma de uma casa em Uberaba, onde a família passaria a morar. “A mulher não queria se mudar, e a vítima estava gastando todo dinheiro, a reserva que eles tinham em caixa. Isso estava trazendo descontentamento”, afirmou o delegado.
Para não ficar sem dinheiro, a mulher planejou a morte do marido. No dia do crime, a viúva contou à polícia que a vítima saiu atrás de um caminhoneiro para fazer a mudança. Afirmou ainda que, depois, o marido passaria na USP para se despedir de amigos e, por fim, iria comprar maconha para consumo próprio. “Ela deu três afirmativas que nós fomos checar e nenhuma delas estava batendo”, disse o delegado.
Segundo o delegado, a mãe incentivava a filha e ambas discutiam como deveriam assassinar Sonoda, que viajava de Minas para São Carlos para ficar com a família. Por três vezes, a enteada pegou carona com padrasto em Ribeirão Preto, onde ela ia na casa do namorado. A intenção era matar o professor no caminho.
“Mas ela não teve coragem, porque a vítima passou a tratá-la bem e ela acabou se desencorajando e não efetuando o crime naqueles dias”, disse Aquino.
A adolescente relatou em depoimento na presença do Conselho Tutelar que, após esses episódios, por diversas vezes ela colocou substâncias no suco do professor na tentativa de envenená-lo, o que não teve efeito. “A vítima teve alguns problemas, mas nada grave. Depois disso, elas planejaram que iriam esfaquear a vítima e mandaram afiar três facas para usar como instrumento do crime”, relatou o delegado.
Ainda de acordo com Aquino, elas tentaram comprar um revólver calibre 38, mas não conseguiram. Fizeram ainda contato com o integrante de uma facção criminosa para que ele cometesse o homicídio, mas ele não aceitou.
Execução
Quando Sonoda chegou de viagem na madrugada de sábado (14), estranhou os móveis da casa não estarem embalados e prontos para a mudança. Segundo o delegado, a mulher alegou que o caminhão estava atrasando tudo. Com isso, ela conseguiu enganar o marido até quarta-feira, quando ele foi executado.
Desde o crime, a mulher era a principal suspeita, afirmou Aquino. Segundo ele, tanto ela quanto a filha eram evasivas quando questionadas. A própria família da vítima, no dia em que foi fazer o reconhecimento do corpo, desconfiava da versão apresentava pela viúva.
“Elas não demonstraram nenhum tipo de sentimento, nem arrependimento, nem mesmo no depoimento. A menina é totalmente fria, não expressa nenhum tipo de sentimento em relação ao padrasto”, completou.
Dor e indignação
O delegado ouviu uma segunda filha da viúva, que estuda em São Carlos, mas que não morava com a família e não sabia do crime. Chocada, ela se demonstrou indignada com a situação. Ao deixar a delegacia, disse, chorando, que não estava em condições de se manifestar. “É um momento muito triste para mim, eu não tenho o que falar sobre isso.”
O depoimento da mãe, por ser advogada, foi acompanhado pela vice-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Carlos, Ariadne Leopoldino. “Foi terrível. A mãe negou o crime, mas o delegado levantou que ela instigava e cobrava a filha. Em todo momento mostrou que ela queria a morte. A menor em nenhum momento demonstrou arrependimento e contou todos os detalhes. Honestamente, estou chocada de ver a frieza”, disse.
Entenda o caso
No dia do crime, o Corpo de Bombeiros de São Carlos foi acionado para atender uma ocorrência de incêndio em veículo no km 148 da Rodovia Luís Augusto de Oliveira (SP-215), próximo da fábrica de motores da Volkswagen. Quando a equipe chegou, notou que havia um corpo carbonizado dentro do carro.
Por volta das 20h25, a Polícia Militar foi chamada e encontrou uma pá no porta-malas do veículo. Também descobriu que a 10 metros do local havia um buraco, aparentemente uma cova, no qual o corpo poderia ser enterrado.
em São Carlos (Foto: Reprodução/ Facebook)
No início das investigações, a esposa afirmou em depoimento que Sonoda teria saído de casa para passar em alguns lugares, entre eles uma transportadora onde pagaria R$ 1 mil pela mudança que faria para Uberaba na quinta-feira (19), com ela e o filho de 5 anos.
Ainda segundo o delegado, o corpo estava no banco traseiro e a cova teria sido feita para enterrá-lo.
“Acreditamos que o professor já estava morto e queriam despachar o corpo na cova, mas deve ter acontecido alguma pane no carro, pois havia três marcas de pneus em direções diferentes”, afirmou o delegado na ocasião.