A mãe do menino Ítalo Ferreira de Jesus Siqueira, de 10 anos, chorou ao chegar ao Instituto Médico Legal para reconhecer o corpo do menor morto pela Polícia Militar com um tiro na cabeça em um suposto confronto.
“Meu deus, o Ítalo queria cantar, o negócio dele era cantar. Ele só queria atenção meu deus,
por que fizeram isso com ele, moço, me ajuda. Me ajuda pelo amor de Deus, gente. Ajuda eu moço, pelo amor de Deus, põe esses polícia na cadeia, me ajuda. Ô gente, pelo amor de Deus, meu filho só tem 10 aninhos”, disse Cintia Ferreira Francelino, mãe de Ítalo.
“Hoje em dia toda criança quer ser funkeiro. Ele queria cantar, ele queria ser uma criança feliz, tiraram a felicidade do meu filho. Ele queria cantar, MC Ítalo”.
A mãe diz que Ítalo morava com a avó. Moradores afirmaram que ele morava com uma tia. “Fiquei uns tempos viajando, ele ficava com a avó dele. Daí ele ficava na rua. Ele não sabia nem dirigir, ele tem 10 anos, não tem como saber dirigir”, disse a mãe.
Na noite desta quinta-feira (2), Ítalo foi baleado e morreu. Ele era suspeito de i invadir um condomínio e furar um carro. Um menino de 11 anos que estava dentro do veículo foi detido por suspeita de participar do furto e do tiroteio. De acordo com o Bom Dia São Paulo, uma arma calibre 38 foi apreendida.
Vídeo de câmeras de segurança obtido pelo SPTV mostram a perseguição policial a um carro roubado. O carro perde o controle e os policiais abordam os ocupantes.
Morte chocou comunidade
Os moradores do Morro do Piolho, na Zona Sul de São Paulo, disseram ao G1 que o menor não andava armado. No boletim de ocorrência foi registrado “homícidio decorrente de oposição à intervenção militar”.
“Eles não tinham dinheiro nem para comer, como iam comprar uma arma?”, questiona um morador, que prefere não se identificar.
Segundo os moradores, Ítalo morava com uma tia. Procurada pela reportagem, a tia não quis dar entrevista porque disse que estava muito abalada. A família forneceu uma foto do menino.
Vizinhos relatam que Ítalo engraxava sapatos para ganhar dinheiro. Um menino que engraxava junto com ele conta que eles trabalhavam em lugares como o Aeroporto de Congonhas e na Avenida Luís Carlos Berrini. “Ele era um menino da hora, jogava bola com nós, nunca ia fazer isso”.
Ítalo gostava de soltar pipa e jogar vídeo game em uma lan house. “Era um moleque calmo, brincalhão. Era uma boa pessoa. Nunca foi envolvido com crime. Morava com a tia dele”, disse o mecânico Roberto Pereira dos Santos.
Segundo os moradores, ontem Ítalo estava brincando com uma fogueira. Depois, um vizinho lhe deu comida. “Ele foi na minha casa ontem, dei um prato de comida para ele. Em nenhum momento ele falou que iria roubar. Dei até um conselho: ‘Se cuida, mano'”, disse o vizinho.
Na comunidade, os relatos contam que ele era conhecido por cometer furtos com outra criança fora da comunidade. Em condomínios, furtavam objetos que estavam a vista, como bicicletas. Mas os moradores insistem que ele não era violento.
“Como é que uma criança de dez anos pula um muro de condomínio e sai com um carro de luxo? Como uma criança de dez anos vai trocar tiros com a polícia. Ele não tinha arma. Nem arma de brinquedo”, diz uma amiga da vítima.
“Ele não sabe mexer em arma. Ele é uma criança que sempre foi atrás dos objetivos dele. Trabalho toda criança dá. O que fizeram foi uma fatalidade”, afirmou uma vizinha.
Suposto confronto
Segundo o Bom Dia SP, a versão dos policiais militares para o explicar o que aconteceu é a de que eles estavam patrulhando a Rua José Ramon Urtiza, na Vila Andrade, por volta das 19h, quando viram um veículo furtado ocupado por duas pessoas.
De acordo com os policias, durante o acompanhamento da viatura da PM ao carro furtado, um dos garotos que conduzia o veículo perdeu o controle e bateu em um ônibus.
Em seguida, os policiais disseram que foram recebidos a tiros pelos menores quando iam fazer a abordagem ao carro roubado. No revide, o garoto de 10 anos foi atingido e morreu.
O menino de 11 anos acabou detido e apreendido. Segundo a polícia, ele portava uma arma.
O caso seria registrado no 89º Distrito Policial, no Portal do Morumbi, mas acabou levado para o Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) pelo fato de envolver policiais.
Segundo policiais civis ouvidos pelo Bom Dia São Paulo, o garoto de 11 anos confessou que ele e o comparsa se conheciam e pretendiam assaltar um edifício, mas desistiram após verem um carro com o vidro aberto. Então decidiram furtar o automóvel.
A polícia também informou que o menino admitiu que ele e o colega atiraram contra os policiais.
Como é menor de idade, o menino de 11 anos acabou liberado do DHPP na companhia da mãe. A idade mínima de internação na Fundação Casa é de 12 anos. A Fundação aplica medidas socioeducativas para menores infratores.
Sem gravar entrevista, a mãe deste outro menino disse à equipe de reportagem que não consegue controlar o filho. A mulher já teria passagem pela polícia. O pai do garoto está preso. O dono do veículo furtado foi localizado pela polícia.