Filme de José Aldo fala de ‘apanhar e ter que levantar’, diz diretor

Afonso Poyart fala de produção baseada na vida do ex-campeão do UFC. 'Mais forte que o mundo' estreia nos cinemas brasileiros em 16 de junho.

DivulgaçãoJosé Aldo

Quando “Mais forte que o mundo – A história de José Aldo” estrear nos cinemas em 16 de junho, irá faltar menos de um mês para o lutador brasileiro retornar ao octógono do UFC e tentar se recuperar da dramática perda do título para o falastrão Conor McGregor. E não poderia ser mais oportuno. Para o diretor Afonso Poyart (“2 coelhos”), o filme inspirado em José Aldo mostra como o ex-campeão contrariou as estatísticas e “superou seus demônios” para se tornar um dos maiores atletas do UFC.

“Perder faz parte do esporte, do risco de estar ali e de dar a cara para bater. Literalmente”, conta Poyart em entrevista por telefone ao G1.

“A gente acredita muito no filme porque ele tem uma mensagem que combina com esse momento. Ele não fala das vitórias de José Aldo. Mas da superação de José Aldo. A mensagem é essa. Não é simplesmente ganhar, ganhar e ganhar. É apanhar e ter que levantar de novo.”

“Mais forte que o mundo” tem José Loreto no papel do seu xará José Aldo e traz “aquilo que não está documentado no UFC”, como diz o próprio Poyart, mostrando a vida dura do lutador em Manaus e a sua mudança para o Rio para tentar seguir carreira como atleta de MMA. Além de Loreto, também estão no elenco Cleo Pires, Milhem Cortaz, Jackson Antunes, Claudia Ohana e Romulo Neto.

“Meu interesse no filme é contar como um amazonense da periferia conseguiu chegar a um palco mundial. Como ele conseguiu superar as dificuldades pessoais, da família pobre. O pai bebia e batia na mãe, a mãe largou ele muito cedo. Então o filme está mais centrado na confecção desse herói do que na atualidade dele”, afirma o diretor.

Poyart também diz que a jornada de Aldo se reflete na linguagem visual do filme. “Quando ele está em Manaus é quase como um pesadelo. A direção de arte é muito saturada, filmamos quase tudo à noite. É um lugar noturno, escuro, difícil. Quando o Aldo chega ao Rio, tomamos um cuidado para filmar nos melhores dias possíveis. Então tem céu azul, é tudo claro e amplo. Ele encontra uma vida nova ali. E o filme tem essa energia jovem de um cara que quer conquistar o mundo.”

“Mais forte que o mundo”, no entanto, não é um documentário. O roteiro une relatos biográficos, obtidos através de várias entrevistas de Poyart com Aldo, e elementos fictícios – o que se provou necessário para o drama, mas um desafio a mais para a produção.

“Eu sabia que ia ter ficção no meio. A gente criou algumas coisas para dar um pouco mais de dramaticidade cinematográfica. E isso é difícil porque temos que honrar a história dele”, diz o diretor.

“A relação com o pai está absolutamente ali. Essa dificuldade dele de perdoar o pai, que é ao mesmo tempo um apoiador e um vilão. O filme está ali em torno disso, de um drama familiar. E a partir daí a gente ramificou e criou alguns floreios.”

Criando lutas que não sejam ‘Tabajara’

É indispensável que a biografia de José Aldo seja respeitada e tenha o devido peso em “Mais forte que o mundo”. Mas vamos falar a real? Tendo Afonso Poyart dirigido “2 coelhos”, um bom (e raríssimo) filme de ação brasileiro, e sendo esta uma produção sobre o tal do violento MMA, a pergunta que não cala é: e a porrada?

Porque encenar sequências de lutas (e de esportes em geral) não é fácil. Muitas dessas cenas falham em capturar o espírito da disputa, às vezes pelo excesso de cortes de câmera mas geralmente por não saber exatamente o que é importante no esporte em questão. E aí você já sabe: eis que surge o esplendoroso carimbo de “fake” – o primeiro combate do recente (e ótimo) “Creed” é uma grata exceção.

Mas Poyart, ao menos em termos de referências, promete ter bebido das fontes certas para filmar os combates brutais de Aldo. O diretor cita como influências o grande “Guerreiro” (2011), que mostra os irmãos interpretados por Tom Hardy e Joel Edgerton acertando as contas dentro do ringue, clássicos do boxe (“Touro indomável”, “Rocky”) e até a série de filmes indonésios “The Raid”, cujo primeiro volume ganhou no Brasil o nome “Operação invasão” (!!!). Quem entende, né? Mas tem no Netflix.

“A gente teve que estudar muito e entender como são feitas essas cenas. Teve bastante pesquisa”, diz. “Fora isso, treinamos muito os atores. O Loreto treinou seis meses, inclusive com o Aldo. Ele aprendeu a lutar muay thai e boxe. Depois ficamos dois meses ensaiando todas as coreografias com outros lutadores. Foi um trabalho bem intenso para não ficar ‘Tabajara'”, brinca Poyart em referência ao clássico do grupo humorístico “Casseta & Planeta”.

“Uma pancadaria dessas tem todas as chances de ficar ruim. E eu sei que foi a gente que fez o filme, mas as porradas que temos são muito reais. Parece que saíram de brigas mesmo.”

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Na entrevista, Poyart também falou da perspectiva para filmes de ação feitos no Brasil e de sua experiência como cineasta em Hollywood. Após o sucesso de “2 coelhos” (2012), ele foi convidado para dirigir “Presságios de um crime”, thriller de 2015 com Anthony Hopkins e Colin Farrell no elenco.

É difícil fazer filme de ação no Brasil?

“O publico vai assistir a filmes de ação, mas não tende a ver os brasileiros. Acho que ainda precisamos de um histórico de bons filmes de ação nacionais. O público demonstrou nos últimos 5 anos que tem uma vontade maior de assistir filmes de comédia. Essa fórmula tem emplacado. E isso impulsiona o mercado a se realimentar. Se faz sucesso, aparece mais.

Eu sei porque depois do ‘2 coelhos’ muita gente falou comigo sobre fazer filmes. E quando sugeria de fazermos algo de ação, eu sentia que existia um mercado muito mais receptivo para a comédia. Quando o gênero deu certo, meio que parou todos os outros. Não só ação, mas drama também. Qual foi o último filme dramático que fez sucesso no Brasil? Não lembro.

‘Xingu’ foi complicado. ‘Serra pelada’. Grandes filmes que, caramba, cadê o público? É uma questão difícil. É reeducar um pouco o público. E fazer com que os distribuidores não percam o interesse no cinema de outros gêneros. Porque se eles forem atrás só do dinheiro, eles só vão atrás do que está dando certo.”

Trabalhando em Hollywood

“No set de filmagem, quem manda no dia a dia é o diretor. Mas é antes, na pré-produção, que as decisões são tomadas. Então eu senti controle sobre a direção. Aqui eu tenho muito mais liberdade para colocar as minhas ideias. Lá, tudo tinha de passar pelo produtor. Ele é o dono do filme no final das contas.

É um processo um pouco difícil. Porque para a responsabilidade de uma cagada total ser minha, preciso que as decisões fiquem na minha mão. Nesse meu primeiro trabalho não consegui 100%. Também não foi 0%. Mas 60% eu consegui manobrar do jeito que eu quis. Mas normal, é trabalho.

Quando você é contratado para fazer um filme, é uma coisa. Quando você chega com um projeto seu e desenvolve, você tem um poder autoral. Então eu penso nisso. Quero ter meus projetos. Desenvolver desde a etapa inicial, desde o roteiro. Estou almejando isso e, devagar, espero conseguir. Pretendo fazer mais um filme nos EUA só como diretor. E subir essa escada. Esse é meu plano.”

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