Algumas partes da pele humana tem uma resposta única à água. Diferentemente do resto do corpo, a pele dos dedos e palma da mão e da sola do pé enrugam após ficar molhada por muito tempo. Cinco minutos são, geralmente, suficientes para que isso aconteça.
Mas por que isso ocorre? Alguns pensam que é uma reação bioquímica, um processo osmótico em que a água arranca um punhado de compostos para fora da pele, deixando uma pele ressecada em seu lugar.
Porém, os cientistas já sabiam há um século que, se alguns nervos dos dedos fossem cortados, o enrugamento não aconteceria. Dedos enrugados, então, são sinais de um sistema nervoso intacto.
Na verdade, o enrugamento é usado como um meio de determinar se o sistema nervoso simpático está funcional em pacientes que não respondem de outras formas.
Isso tudo é consenso na comunidade científica. Mas ainda há muita discussão sobre se e como esse mecanismo se desenvolveu, e até se ele representa mesmo uma adaptação.
O neurobiologista Mark Changizi, do 2AI Labs, acha que é uma adaptação.
Pense, por exemplo, em pneus. Em condições secas, pneus macios e lisos conseguem aderir melhor ao asfalto, o que explica porque pneus de carros de corrida são assim. Ao dirigir na chuva, por outro lado, ranhuras são mais seguras.
Dedos enrugados, então, poderiam ser pensados para que conseguíssemos pegar coisas tanto em condições secas quanto molhadas.
É extremamente difícil provar que uma característica biológica é uma adaptação – muito mais o motivo da evolução. Mas pesquisadores podem procurar pistas que indicam que uma característica possa ter surgido como adaptação.
Em 2011, Changizi e seus colegas encontraram provas de que dedos enrugados agem como caminhos criados na terra pela chuva, guiando a água para fora dos dedos quando o ambiente está molhado e permitindo que primatas – humanos e macacos, mais especificamente – consigam pegar objetos de forma mais firme.
Em outras palavras, as rugas poderiam ser entendidas como pequenos sistemas de drenagem de rios. Em uma “bacia hidrográfica”, diversos afluentes se combinam em rios maiores, que acabam dando em um rio central, como galhos que se unem em uma árvore. Mas os pedaços de terra entre os rios, por sua vez, ficam desconectados.
Para checar isso, Changizi e sua equipe analisaram fotos de 28 dedos humanos. Eles descobriram que dedos enrugados tinham formação exatamente inversa a dos rios, com uma “árvore” interconectada de pele elevada pontuada por canais afundados desconectados e divergentes.
Os “montes” não estão ali por acaso; seu padrão invertido na verdade faz sentido. Os rios acumulam água, enquanto o canal de um dedo enrugado serve para drenar a água para fora dali.
“O ato de pressionar a ponta do dedo sobre uma superfície molhada espreme o fluido de debaixo do dedo para esses canais, e após este único fluxo toda a pele do dedo entra em contato com a superfície”, escrevem os pesquisadores.
E ainda há isso: as rugas não aparecem sem ao menos cerca de cinco minutos de exposição contínua à água, o que significa que o contato incidental não é suficiente para causar enrugamento.
Ou seja, a resposta só é útil em condições com água constante. E ocorre muito mais rapidamente com água doce que salgada, o que pode refletir as circunstâncias em que se desenvolveram, originalmente, em primatas.
Mesmo se essa reação não tenha aparecido para ajudar a segurar coisas, ela é útil para a função. Em 2013, um estudo feito por neurocientistas britânicos mostrou que dedos enrugados ajudavam pessoas a manipularem objetos.
No experimento, 20 pessoas tiveram que transferir 45 objetos de tamanhos diferentes – bolas de gudes e pesos de pesca – de um contêiner para outro. Em alguns casos, os objetos estavam secos enquanto os dedos dos participantes estavam lisos ou enrugados.
Em outros casos, os objetos estavam submersos. Eles descobriram que dedos enrugados permitiam que participantes movessem os objetos mais rapidamente quando estavam submersos, mas não faziam diferença para objetos secos.
No entanto, um estudo semelhante feito em 2014 por pesquisadores alemães chegou à conclusão oposta.
Nesse experimento, os pesquisadores fizeram com que 40 pessoas transferissem 52 bolas de gude e dados de tamanhos e pesos diferentes de um contêiner para outro. Eles não encontraram diferença na habilidade dos participantes – não importava se estivessem com dedos lisos ou enrugados, e os objetos secos ou submersos.
Da mesma forma, um grupo de pesquisadores tailandeses conduziu uma série de testes com ajuda de um voluntário de 24 anos. Eles testaram a fricção aplicada a uma superfície lisa por dedos lisos ou enrugados, por exemplo, e quanta força as mãos aplicaram ao percorrer uma barra.
Eles também mediram sua habilidade de forçar uma mola. Descobriram que dedos enrugados molhados resultaram em performance pior em cada teste.
É claro que se o enrugamento tiver surgido como uma adaptação, certamente isso não ocorreu nas condições controladas dos laboratórios onde foram feitos os testes.
Changizi acha que a reação é útil para que o corpo aguente seu próprio peso, não para manipulações motoras finas de pequenos objetos. “Para fazer um teste de comportamento onde importa, teria que ser com as pessoas agarrando em árvores ou coisas mais pesadas, não bolas de gude”, diz.
“Você não corre risco de hidroplanar de forma alguma”, diz ele, quando a tarefa é transferir bolas de gude entre baldes. A chave é testar o impacto da pele enrugada na locomoção, não na destreza.
Seu teste ideal? Recrutar especialistas em parkour para mostrar suas acrobacias urbanas enquanto dedos enrugados ou não enrugados em condições secas ou molhadas. “Mas fazendo isso de alguma forma segura”, acrescenta.