Exposição ‘Civilização Periférica II: Retratos em Retalhos’ chega ao Misa dia 1º de julho. Foto: Acervo Pessoal
A exposição terá cerca de 20 peças, entre pinturas em acrílico sobre tela, esculturas em papel machê e instalações, com inspirações da obra Frankenstein, da escritora britânica Mary Shelley, dos grafismos de rua e do folguedo La Ursa, e matéria-prima das instalações toda reutilizada.
A mostra segue uma linha norteada pela exposição ‘Civilização Periférica I: Grafos Pré-Urbanos’, que aconteceu no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O artista destaca algumas diferenças. “A primeira exposição era a relação criador e criatura. A segunda trata da relação criatura e criador. Agora quem toma conta é a criatura; ela se liberta do criador”, explica o artista.
Achiles Escobar é também um pesquisador da cultura popular alagoana. Foi a partir dessas pesquisas que surgiu a inspiração no folguedo La Ursa, que, na visão do artista, tem um sentido político e social.
“Percebemos que a La Ursa está desaparecendo mesmo. Queremos falar sobre isso, resgatar e colocar esse personagem em evidência. Ele pode ser um símbolo revolucionário; pode ser uma bandeira, que tem relevância cultural e simboliza a ressurreição. A La Ursa é um ser transformador, político e sexual. Na cultura popular nada morre; tudo é ressuscitado”, diz o artista.
Entre tantas referências regionais e universais na obra de Achiles Escobar, surge também a figura do Minotauro. “Comparo a La Ursa com o Minotauro, cabeça de urso e corpo de humano”, observa. Todas essas referências dialogam nessa exposição. A La Ursa como um ser transformador converge para o ser mítico do Minotauro e para a figura monstruosa do Frankenstein.
Talento precoce
O chamado para a arte aconteceu cedo. Aos cinco anos, Achiles Escobar começou a fazer esculturas de areia, que chamavam atenção dos adultos. A brincadeira já anunciava o artista que existia ali. Mais tarde, quando ainda era criança na cidade natal, Cambará, no Norte do Paraná, começou a trabalhar com o barro. Foi lá que, aos 12 anos, fez sua primeira exposição, intitulada ‘Caminho à fonte’.
No início da vida artística, foi aluno do Liceu de Artes e Ofícios, em São Paulo. “O Liceu foi a grande bagagem que eu tive sobre arte”, revela Achiles, que mora em Maceió há 31 anos. O artista já teve obras expostas nos principais museus de Alagoas, inclusive no Museu Théo Brandão. Seu trabalho também pôde ser visto em Salvador, Recife, São Paulo e Curitiba.
Pluralidade
A mistura de referências culturais permeia o trabalho de Achiles Escobar. “O resultado é essa miscigenação, fruto da colonização. Não se pode exigir de mim uma arte autêntica”, diz. Apesar de toda a pluralidade e influências diversas, há na obra do artista uma espécie de organização sutil, uma coerência, elementos que se repetem, fazendo uma ligação explícita ou implícita. Um desses elementos é o calango, que está em todas as obras, escolhido por representar o Nordeste.
O curador, Chico Simas, acompanhou de perto o desenvolvimento do atual trabalho. “Achiles Escobar busca beber nesta fonte inesgotável de inspiração que é corpo, pensamento e vida, colhendo elementos essenciais em suas composições plásticas, nas quais podemos observar um fluxo de alta voltagem cromática, fruto das suas andanças nos caminhos da arte urbana, tendo como elemento de estudo o grafismo, o qual tem influência significativa nesta exposição”, observa Simas.
A exposição ficará aberta até o dia 23 de julho, no horário de funcionamento do Misa de terça a quinta, das 9h às 17hs, e às sextas-feiras, das 9 às 22h. Aos sábados, domingos e feriados, das 13h às 17h. A entrada é gratuita. Mais informações: 3214-1716/1710/1715.