Cerca de 20 servidores da Prefeitura de Canapi são suspeitos de receberem parte do desvio de R$ 10 milhões oriundos de verbas do Fundef repassados ao município. A informação foi repassada pelo promotor Anderson Claudio, do Ministério Público Estadual (MPE), durante a divulgação da operação “Triângulo das Bermudas”, deflagrada na manhã desta sexta-feira (29), pela Polícia Federal (PF), e apresentada na sede da própria PF, no Jaraguá.
De acordo com o promotor, além do prefeito Celso Luiz, de dois secretários (de Finanças e Assuntos Estratégicos), da esposa do secretário de Finanças e dois chefes da controladoria interna denunciados no esquema há ainda outros 20 nomes de servidores que teriam recebido em quantia “volumosa” do dinheiro e que devem ser investigados.
“O caminho utilizado para obtenção de recursos públicos foi o pior possível. Eu, em 20 anos de MPE, confesso que talvez não tinha visto algo tão tenebroso desde a Operação Taturana [deflagrada pela PF em 2007 e que terminou com a prisão de nove deputados]. É de causar repulsa para qualquer profissional”, destaca a também promotora Carla Padilha, que acompanhou o caso.
O dinheiro deveria ser utilizado em obras estruturantes para a educação do município que possui pouco mais de 18 mil habitantes. Com isso, o MPE está em fase de conclusão do inquérito e leva o processo junto com a PF, mas de antemão requereu uma ação cautelar que pediu o afastamento do prefeito do cargo e dos vários servidores envolvidos.
“A investigação tem sido desenvolvida em conjunto, nós também iremos prosseguir com o pedido da quebra do sigilo bancário e fiscal de todos os envolvidos e tão logo tenhamos o resultado, certamente nós iremos propor a ação de improbidade administrativa”, informa o promotor.
Para fazer a movimentação financeira para a conta dos servidores, segundo o MPE, os secretários teriam mobilizados “laranjas” para fazer o depósito do valor do repasse federal, antes de serem retirados pelos servidores.
Entre os intermediadores informais, um vigilante, um vendedor ambulante de picolé e pessoas ligadas ao programa Bolsa Família que não possuem patrimônio condizente com a quantia depositada em suas contas bancárias. Na visão da PF e do MPE, essas pessoas foram usadas para fazer a movimentação bancária e não tinham qualquer conhecimento da transferência milionária.
“Essa é uma fraude bastante escancarada, temos elementos bastante seguros que recursos do próprio município foram desviados através dessa prática do uso de laranjas, que nos deixou bastante escandalizados”, conclui o promotor.