Ditador nega pandemia, rejeita quarentena e recomenda vodca e sauna

Alexander Lukashenko, presidente da Belarus, no centro, durante jogo de hóquei de gelo no dia 28 de março de 2020 — Foto: Andrey Pokumeiko/BelTA/Divulgação/Via Reuters

Alexander Lukashenko, presidente da Belarus, no centro, durante jogo de hóquei de gelo no dia 28 de março de 2020 — Foto: Andrey Pokumeiko/BelTA/Divulgação/Via Reuters

No fim de março, Belarus tinha 94 casos confirmados do novo coronavírus, o que conferiu a seu ditador, Alexander Lukashenko, poder para descartar o isolamento social e decretar que vodca e sauna eram a melhor receita para combatê-lo. A doença não deu trégua e alastrou-se rapidamente entre 16 mil pessoas, numa das maiores taxas de infecção da Europa Oriental. Avança numa média de 800 casos diários e registra 100 mortos.

Ainda assim, presidente-negacionista, que concorre ao sexto mandato, desafia a pandemia e mantém para o próximo sábado o desfile militar para comemorar os 75 anos do Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial. “Eu procedi com uma sabedoria simples que nosso povo tem. Quando as coisas estão difíceis, é melhor não mudar nosso modo de vida”, justificou Lukashenko sobre a decisão de não cancelar a celebração.

Sob as ordens do ditador, que concorre em agosto ao sexto mandato, o país de 9,5 milhões de habitantes, incrustado entre Ucrânia, Polônia, Rússia, Lituânia e Letônia, contrariou, em tom de zombaria, as recomendações da Organização Mundial de Saúde. Belarus integra o grupo isolado apelidado pelo professor de relações internacionais Oliver Stuenkel de Aliança do Avestruz, formado por Brasil, Tajiquistão e Nicarágua, onde os líderes recusam-se a levar a pandemia a sério.
Por isso, por decisão de Lukashenko, lá não há estímulo para quarentena. Representaria, de acordo com o ditador, sinal de acovardamento: “É melhor morrer em pé do que ajoelhado”, vaticina.

Bares e restaurantes estão abertos, assim como escolas e eventos esportivos. No comando do país desde 1994 e com oposição debilitada, Lukashenko incentiva a aglomeração e frequenta igrejas lotadas, de onde prega que o vírus só atinge os fracos que não têm imunidade.

A doença, contudo, desrespeita o líder autocrático e vem se propagando com velocidade, levando os belarussos a desconfiarem das diretrizes do regime e a buscarem, por conta própria, o auto-isolamento para evitar o contágio.

O maior exemplo da desobediência civil é o futebol. Na contramão das ligas europeias, Lukashenko teimou em manter atuante o calendário de jogos durante a pandemia. Sua fórmula vodca-sauna-aglomeração não funcionou. O Dinamo Brest, campeão nacional, precisou recorrer a manequins vestidos com o uniforme do time para fazer o papel de torcedores que fugiram dos estádios.

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