O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), informou que a comissão votará nesta quarta-feira (26) pedidos de convocação de:
Arthur Weintraub, ex-assessor do presidente Jair Bolsonaro;
governadores e prefeitos de locais onde há investigações que apuram desvio de recursos federais destinados ao enfrentamento da Covid;
integrantes do segundo escalão do Ministério da Saúde;
e as reconvocações de Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga, ex e atual titulares da pasta, respectivamente.
Omar Aziz deu a declaração nesta terça-feira (25) após se reunir com o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e com o relator do colegiado, Renan Calheiros (MDB-AL).
Segundo Aziz, mais de 400 requerimentos, entre convocações e pedidos de informação, estão na fila aguardando votação.
“Vamos ouvir especialistas, vamos convocar o segundo escalão do Ministério da Saúde todo — além do Elcio Franco [ex-secretário executivo do Ministério da Saúde], outros também. Vamos convocar o Arthur [Weintraub], que apareceu em um vídeo, em um site. E vão ser reconvocados o Queiroga e o Pazuello”, disse Aziz.
Durante uma “live” com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), no ano passado, Arthur Weintraub disse que encaminhou ao presidente Jair Bolsonaro documentos com informações sobre uso de cloroquina contra a Covid-19.
O medicamento é comprovadamente ineficaz contra a doença e foi o principal tema do depoimento desta terça-feira à CPI de Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde.
Para o senador Alessandro Vieira (Cidadania-MA), o irmão do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub participou ou coordenou uma estrutura extraoficial de assessoramento de Bolsonaro. Por isso, segundo ele, precisa ser ouvido pela CPI.
Uma das linhas de investigação da comissão é justamente a possível existência de um chamado “gabinete paralelo” ao Ministério da Saúde, para aconselhamento do presidente da República, com apostas em tratamentos e medidas ineficazes, como imunidade de rebanho e isolamento vertical.
Para o presidente da CPI, o governo perdeu tempo com essas estratégias ineficazes em vez de se empenhar por vacinas.
Segundo Omar Aziz, nesta quarta-feira a CPI não votará pedidos de quebra de sigilo. Há requerimentos que pedem o compartilhamento de informações sigilosas de Pazuello e de Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do Palácio do Planalto.
Pazuello
Para Omar Aziz, o ex-ministro Eduardo Pazuello precisa prestar novo depoimento à comissão a fim de esclarecer contradições e mentiras que, segundo integrantes da CPI, contou nos dois dias que falou aos senadores.
Um esclarecimento que a CPI pretende obter diz respeito à data em que o Ministério da Saúde foi informado sobre a falta de oxigênio em Manaus, no Amazonas, em janeiro deste ano. Eduardo Pazuello e a secretária da pasta Mayra Pinheiro apresentaram versões diferentes sobre o aviso.
Segundo Mayra Pinheiro, Pazuello soube do desabastecimento de oxigênio em Manaus em 8 de janeiro. À CPI na semana passada, o ex-ministro sustentou que apenas teve conhecimento da situação na noite do dia 10 de janeiro.
Ainda sobre o general do Exército, Aziz disse que, se Pazuello voltar à CPI sem a proteção de um habeas corpus, o depoimento “não será da mesma forma” dos anteriores.
“As mentiras estão aparecendo, não sou eu que estou dizendo. São contradições. Agora, se o ministro vier para cá sem nenhum habeas corpus, não tenha dúvida de que não será da mesma forma como foi da última vez”, disse Aziz.
O presidente da CPI também comentou a participação do general em uma manifestação pró-Bolsonaro no Rio de Janeiro no último domingo (23).
“Para convocar o Pazuello, pra ele chegar aqui, eu tive que mandar um documento para o comandante do exército. E liguei para ele. Porque é o que tem que ser feito, como ele é da ativa, a gente tem que comunicar o superior dele. Eu quero saber se ele comunicou o superior dele para subir [no palanque com Bolsonaro]”, disse Aziz.
Governadores e prefeitos
Devem ser analisados nesta quarta-feira pedidos de convocação dos governadores de:
Amapá
Amazonas
Distrito Federal
Pará
Rio de Janeiro
Rio Grande do Sul
Rondônia
Roraima
Santa Catarina
Tocantins
E os prefeitos das seguintes capitais:
Aracaju
Fortaleza
Macapá
Recife
Rio Branco
São Luiz
São Paulo
Conforme a colunista do G1 e da GloboNews Ana Flor, a estratégia com esses pedidos de convocação é desmontar o discurso de aliados do Palácio do Planalto, de que a CPI mira somente o governo federal.
O regimento interno do Senado diz que não se admite atuação de CPIs sobre temas pertinentes à Câmara dos Deputados, ao Poder Judiciário e aos estados.
No entanto, a CPI foi criada para investigar ações e omissões do governo federal e eventuais desvios de verbas federais enviadas aos estados para o enfrentamento da pandemia.
Senadores governistas defenderão a convocação de governadores que são adversários políticos de Bolsonaro, caso de João Doria (PSDB-SP).