Fogo na Cinemateca começou em manutenção de ar-condicionado, dizem bombeiros

Incêndio começou em uma das salas de acervo histórico de filmes que fica no primeiro andar. Não houve vítimas. Secretaria Especial de Cultura, responsável pela gestão do órgão, diz 'lamentar profundamente' o episódio. Local já foi atingido por enchentes em 2020.

Incêndio em galpão da Cinemateca, na Vila Leopoldina, Zona Oeste de São Paulo. — Foto: Reprodução/TV Globo

O incêndio que atingiu um galpão da Cinemateca Brasileira na Vila Leopoldina, Zona Oeste de São Paulo, nesta quinta-feira (29) , começou em um ar-condicionado que passava por uma manutenção feita por empresa terceirizada contratada pelo governo federal, segundo informações iniciais do Corpo de Bombeiros. Uma faísca teria dado início ao fogo, e a empresa não conseguiu controlá-lo.

“O incêndio iniciou em uma manutenção de ar-condicionado. Uma empresa terceirizada do governo federal realizando uma manutenção. O principio de incêndio começou em uma das salas de acervo histórico de filmes que fica no primeiro andar. Então essa parte é dividida entre três salas, uma delas com acervo de filmes entre 1920 e 1940 e uma das salas de arquivo impresso, também histórico. Estamos levando o que foi queimado e preservado dentro dessas três salas, provavelmente nada. Porém, no andar térreo tem uma parte grande do acervo histórico que não foi atingida”, disse a capitã dos bombeiros Karina Paula Moreira à GloboNews.

Os bombeiros receberam um chamado de fogo em edificação comercial por volta das 18h na Rua Othão, 290. No endereço há um conjunto de galpões, de cerca de 6.356 m² de área construída, onde parte do acervo da Cinemateca Brasileira é guardado. O incêndio não ocorreu na sede da Cinemateca Brasileira, que fica na Vila Mariana. O fogo foi controlado por volta das 19h45.

A administração do órgão está sob responsabilidade do governo federal, por meio da Secretaria Especial de Cultura, em Brasília. Em nota, a secretaria informou que “todo o sistema de climatização do espaço passou por manutenção há cerca de um mês como parte do esforço do governo federal para manter o acervo da instituição”.

No prédio ficavam gravados 1 milhão de documentos da antiga Embrafilme, como roteiros, artigos em papel, cópias de filmes e documentos antigos. Alguns tinham mais de 100 anos e seriam usados na montagem de um museu sobre o cinema brasileiro.

Quinze viaturas com 70 bombeiros foram enviados para combater o fogo. Segundo o major Palumbo, porta-voz do Corpo de Bombeiros, no galpão há materiais altamente inflamáveis. Os bombeiros disseram ainda que a estratégia para combater o incêndio foi confinar o fogo, impedindo que ele se alastre para galpões vizinhos. Apenas o primeiro andar foi atingido.

“Nós temos o registro de ser um local onde temos diversos materiais combustíveis diferentes. Arquivos de filmes, que têm acetato altamente inflamável, e todos os materiais que compõem a edificação”, disse Major Palumbo.
Francisco Campera, diretor da Fundação Roquette Pinto, ex-gestora da Cinemateca, lamentou a situação em entrevista à GloboNews. “Quando entregamos a Cinemateca ao governo, em agosto do ano passado, eu cheguei a dar um depoimento ao Ministério Público Federal de que não era um ‘risco de pegar fogo’ era uma ‘tragédia anunciada’.”

Ele reforçou que o material do galpão é de alta combustão e citou a questão da conservação. “O último incêndio anterior a esse foi em 2016 [na Cinemateca da Vila Mariana] e tinha 13 pessoas do mais alto nível trabalhando de segunda a segunda e mesmo assim teve o incêndio. Porque precisa do monitoramento humano. Eu avisei aos funcionários que tomaram posse. Tem mais de um ano, e até hoje não tem monitoramento humano.”

Segundo Campera, “perdeu-se 4 toneladas de documentação da história do cinema brasileiro. Toda a documentação do Instituto Nacional de Cinema, da década de 60, até hoje da Secretaria Especial de Cultura, passando pela Embrafilme e pela Concine. Há também cópias de filmes, mas que já estavam em estado pior de conservação”, afirmou.

Em entrevista à TV Globo, a diretora-executiva da Sociedade Amigos da Cinemateca, Maria Dora Mourão, disse que o galpão atingido pelo fogo era o único em uso dentre os galpões da Cinemateca. No local são armazenados documentos e filmes de longas e curta-metragens, um “acervo relevante”, além de equipamentos.

No ano passado, um temporal alagou o galpão e parte do acervo foi comprometido. A instituição não revelou quais itens foram danificados.

O que diz a Secretaria Especial de Cultura
“A Secretaria Especial da Cultura lamenta profundamente e acompanha de perto o incêndio que atinge um galpão da Cinemateca Brasileira, em São Paulo (SP). Cabe registrar que todo o sistema de climatização do espaço passou por manutenção há cerca de um mês como parte do esforço do governo federal para manter o acervo da instituição. A Secretaria já solicitou apoio à Polícia Federal para investigação das causas do incêndio e só após o seu controle total pelo Corpo de Bombeiros que atua no local poderá determinar o impacto e as ações necessárias para uma eventual recuperação do acervo e, também, do espaço físico. Por fim, o governo federal, por meio da Secretaria, reafirma o seu compromisso com o espaço e com a manutenção de sua história.”

Abandono da Cinemateca
Em julho de 2020, o Ministério Público Federal em São Paulo (MPF-SP) entrou com uma ação na Justiça contra a União por abandono da Cinemateca Brasileira. A Promotoria questionava a falta de contrato para gestão da instituição.

O contrato para administração da Cinemateca firmado entre o governo federal e a Organização Social (OS) Associação Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp) terminou no dia 31 de dezembro de 2019 e, desde então, não houve nova licitação. Desde 15 de janeiro, a Sociedade Amigos da Cinemateca faz a gestão da Cinemateca Brasileira até que uma nova organização social assuma a administração.

Fonte: G1

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