Crianças trocadas em hospital público se encontram após 7 anos

Geruza Ferreira e a filha — Foto: TV Globo/Reprodução

As duas meninas trocadas ao nascer no Hospital Regional de Planaltina, no Distrito Federal, se encontraram, pela primeira vez nesta segunda-feira (29). Abraços, choros e risadas fizeram parte do momento, em uma sala de cinema vazia, em Brasília, 7 anos após o parto na maternidade pública.

Geruza Ferreira descobriu, no ano passado, que a filha havia sido trocada. Ela procurou a polícia e, após a divulgação da notícia na imprensa, uma outra mulher, Mariana Bispo da Silva, foi à delegacia e, após testes de DNA, ficou provado que as bebês haviam sido trocadas.

Além das duas mães, advogados e psicólogas acompanharam o encontro entre as crianças. O local escolhido foi um shopping onde as meninas também lancharam e brincaram juntas.

‘Unir a família’

 

Caio Henrique Nascimento, advogado da família que descobriu primeiro a troca das bebês, conta que “as mães estão bastante receptivas”. Ele diz que o encontro teve “bastante troca de carinho e afago” e que as duas mulheres pretendem “unir as famílias”.

“As mães trocam contato diariamente”, diz o advogado.

 

O próximo passo, segundo Caio, é mover uma ação contra o Governo do Distrito Federal.

A descoberta

A filha de Geruza foi fruto de uma relação que ela teve com um homem, entre 2010 e 2013. No fim da gestação, eles terminaram.

A filha nasceu em 14 de maio de 2014, no Hospital Regional de Planaltina. O ex-companheiro registrou a criança e ajudou financeiramente nos primeiros anos, mas não manteve contato próximo.

Em 2020, a mãe foi surpreendida com um processo, movido pelo homem, no qual pedia a exclusão do nome dele no registro da criança. O motivo era um exame de DNA que comprovava que a menina não era filha dele.

Abalada com a situação, Geruza decidiu fazer um exame de DNA para comparar o próprio sangue e o da criança. O resultado, segundo ela, foi ainda mais chocante: não havia possibilidade de a menina ser filha biológica dela.

Exame aponta que mulher não é mãe biológica de criança no DF — Foto: Reprodução

Exame aponta que mulher não é mãe biológica de criança no DF — Foto: Reprodução

Desde então, a dona de casa tentava provar que o bebê dela havia sido trocado na maternidade. Para isso, ela tentou refazer, passo a passo, os momentos depois do parto.

“Por volta das 5h, eu tive a bebê. Eles levaram, deram banho, trouxeram e me deram. Quando eu cheguei em casa, os vizinhos, por eu ser mais clara e o pai dela também ser claro, sempre falavam: ‘Essa menina é muito escura’. Mas na minha família tem todas as cores, aí eu nunca dei importância para isso”, diz.

O caso veio à tona depois que a TV Globo noticiou que Geruza descobriu não ser a mãe biológica da menina. Após a repercussão, a outra família procurou a polícia para também fazer um teste de DNA. Os policiais compararam o material genético das duas mães e das duas filhas e chegaram ao resultado: as bebês tinham sido trocadas.

Ação na Justiça

Logo após descobrir que não era mãe biológica da filha com quem convivia há 7 anos, Geruza foi à Justiça pedir o pagamento de uma indenização ao governo do DF, devido aos danos causados pela situação. Na defesa, o GDF disse que “a mulher não apresentou provas de que houve negligência na atuação dos servidores do hospital”.

Segundo o governo, “foram adotados todos os procedimentos adequados para o nascimento da filha da autora, não havendo nenhum elemento que permita aferir a veracidade das alegações da autora quanto à possível troca dos bebês na maternidade”.

No entanto, ao analisar o caso, o juiz Alessandro Marchio Bezerra Gerais já havia entendido que ficou comprovada a troca das crianças.

“Como não é razoável presumir que a troca tenha ocorrido em momento posterior à alta da autora da maternidade sem que ela percebesse (até porque, com o tempo, as feições do bebê vão se definindo), reputo devidamente comprovado que a sua filha biológica foi trocada quando do seu nascimento no estabelecimento hospitalar supra apontado”, diz na decisão.

Ainda de acordo com o magistrado, “não é difícil imaginar o estado de permanente angústia e ansiedade pela qual passa a autora desde que o fato veio à tona”.

“Em uma situação como esta, em que não se sabe sequer se o filho biológico está vivo, e caso esteja, se está sendo criado e educado em condições dignas, cria-se uma série de incertezas que a autora eventualmente poderá carregar para o resto de sua vida, causando sérios prejuízos inclusive para a sua forma de se relacionar e interagir com as pessoas mais próximas.”

Fonte: G1

Veja Mais

Como vivia a mulher mantida em cativeiro pelo tio por 10 anos

Desaparecida desde 2015, ela foi resgatada de cativeiro localizado em uma área de difícil acesso no interior da Bahia nesta sexta (20). A vítima entrou em contato com a família através de uma rede social e pediu socorro; agressor fugiu e é procurado.

Deixe um comentário