‘Ele partia para a violência, para o chute’, diz ex-mulher do ex-secretário

“A violência começava sempre com agressão verbal e era uma crescente. Quando ele via que eu era firme numa posição, aí ele partia para a violência, para o chute.”

 

Era assim que, segundo a economista aposentada Maria Eduarda Marques de Carvalho, começavam os inúmeros episódios de violência praticados pelo ex-secretário de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco Pedro Eurico de Barros e Silva, com quem ela viveu por 25 anos.

A primeira vez que Maria Eduarda falou à imprensa sobre a violência que sofria foi exibida pela Globo em 7 de dezembro. Pedro Eurico nega as acusações. Com a repercussão do caso, ele pediu exoneração do cargo de secretário estadual, que ocupava há seis anos, e deixou a presidência do Conselho Nacional de Secretários de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Administração Penitenciária.

Economista aposentada Maria Eduarda Marques de Carvalho detalhou como eram as agressões sofridas no relacionamento com Pedro Eurico — Foto: Reprodução/TV GloboEconomista aposentada Maria Eduarda Marques de Carvalho detalhou como eram as agressões sofridas no relacionamento com Pedro Eurico — Foto: Reprodução/TV Globo

A defesa de Maria Eduarda afirmou que o que ex-secretário foi indiciado por cinco crimes: estupro consumado, lesão corporal, perseguição, violência psicológica e descumprimento de medida protetiva.

Em entrevista à repórter Mônica Silveira, Maria Eduarda lembrou a série de violências sofridas durante o relacionamento com Pedro Eurico. A primeira aconteceu quando os dois ainda eram namorados, três anos após o início do relacionamento, que começou quando ela tinha 29 anos e ele, 45.

“Ele me disse que não aceitava que eu não quisesse viver com ele, casar com ele, morar com ele. E ele me pega pela cabeça, pelo pescoço, puxa meu cabelo e mete a minha cabeça no armário do quarto e eu caio desfalecida”, afirmou a economista sobre a primeira agressão que sofreu.

Isso aconteceu em 2000, quando Maria Eduarda prestou queixa contra Pedro Eurico pela primeira vez. Foram dez boletins de ocorrência em 21 anos. O governador Paulo Câmara (PSB) disse que o caso está sendo tratado com “celeridade”, mas não comentou a quantidade de denúncias ao longo de duas décadas, sem que houvesse alguma medida enérgica sobre o caso.

“Foi quando eu fui à delegacia, prestei a primeira queixa, fiz o laudo do IML [Instituto de Medicina Legal], que eu tenho até hoje, e passei muito tempo sem falar com ele [Pedro Eurico], com muito medo dele, evitando, fui para a casa de um irmão meu que morava no Janga, em Paulista, e passei um tempo em estado de choque, porque eu nunca tinha sofrido violência física”, afirmou Maria Eduarda.

Depois do primeiro caso de agressão, segundo a vítima, Pedro Eurico mudou de atitude por um tempo, o que a fez pensar que as violências não ocorreriam novamente. No entanto, foram duas décadas de agressões e ameaças de morte, que resultaram em dez boletins de ocorrência.

“Durante o dia inteiro, ele me monitorava. E eu não aceitava, não aceitava. Foi quando começaram as primeiras agressões. […] Nós reatamos, ele demorou, me mandava muitas flores, muito gentil, demorou muito para ele retornar, começar”, declarou Maria Eduarda.

Ela disse, ainda, que foi vítima de estupros recorrentes e contou detalhes da rotina de agressões. Questionada sobre a violência mais chocante durante os 25 anos de relacionamento, Maria Eduarda afirmou que foram as violências sexuais.

“O que mais me chocou? O estupro, a violência sexual, ele me forçar a ter relações na hora que ele quisesse. Várias vezes. Ele me puxava violentamente, tirava minha roupa violentamente. Eu fazia: ‘Mas eu não quero agora, eu não quero’, e ele dizia que dava mais vontade dele ter naquela hora. Eu chorava na hora, durante o ato, eu chorava. Para mim, foi o que mais mais amedrontou, mais me violentou”, disse.

Repercussão

Na primeira vez em que falou à Globo, na terça-feira (7), Maria Eduarda já tinha relatado outras agressões físicas e psicológicas. A economista disse que reúne uma série de provas contra o ex-marido. Um deles é um áudio em que Pedro Eurico faz ameaças de morte à ex-esposa.

“Tive um sonho lhe matando. Eu não vou viver isso mais. Termina eu fazendo uma doidice”, disse, na gravação. Por meio de nota, Pedro Eurico informou que, a conversa foi exposta “fora do contexto”.

Dois dias depois da exposição do caso pela Globo, a Polícia Civil informou ter concluído o inquérito contra Pedro Eurico. O resultado das investigações não foi divulgado pela corporação, que alegou cumprir uma série de leis.

Entidades de defesa dos direitos da mulher e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) cobraram punição para o ex-secretário.

Resposta de Pedro Eurico

 

No sábado (11), a defesa de Pedro Eurico afirmou que vai pedir depoimentos de novas testemunhas. A primeira esposa do ex-secretário Maria Helena Barros e Silva afirmou, no domingo (12), que vai prestar depoimento para defendê-lo.

Ela divulgou uma nota na qual disse que Maria Eduarda, durante muitos anos, “fez ameaças e terrorismo com meus filhos e minha sogra, já falecida, criando tensões intensas no meu meio familiar”. O ex-secretário não quis gravar entrevista e preferiu enviar um vídeo à reportagem.

“Essas denúncias agora veiculadas não são verdadeiras. Tudo isso não passa de manipulação para tentar destruir a minha imagem de homem público, construída ao longo de 40 anos. Dentro desse período, nunca pratiquei violência, muito menos com as minhas esposas. Não comungo com ações criminosas. Na verdade, tudo isso tem início em uma ação de divórcio onde se discute bens. Me coloco à disposição da Justiça e das autoridades no que for necessário”, afirmou, no vídeo.

Em contraposição ao que Pedro Eurico afirmou, Maria Eduarda contou que os dois são casados em regime de separação de bens. “Eu acho lamentável, lamentável, porque nós somos casamos com separação de bens. Quando eu casei com ele, eu já tinha minha casa própria, tinha minha independência financeira”, declarou.

Após a entrevista, Maria Eduarda solicitou à reportagem que deixasse clara a informação de que o regime de casamento foi de separação parcial de bens.

Fonte: G1

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