Às 21h da próxima segunda-feira, dia 20, completa-se um mês desde que Cíntia Mariano Dias Cabral foi presa temporariamente no Instituto Penal Oscar Stevenson, em Benfica, na Zona Norte do Rio. Suspeita de envenenar os enteados, a madrasta, neste período, ficou em cela isolada das outras 261 detentas da unidade, inclusive com horário de banho de sol diário diferenciado, e, além de dois advogados semanalmente, não recebeu nenhum outro familiar. Um de seus três filhos afirma que só irá visitá-la quando ela confessar publicamente os crimes que, segundo ele, cometeu.
— Minha mãe assumiu na conversa séria que tivemos na noite anterior a prisão dela ter envenenado o Bruno e a Fernanda. Liguei, em seguida, para minha irmã e ela confessou via telefone também para ela. No dia que a entreguei na delegacia, ao entrar na viatura, ela ainda confessou novamente os crimes — contou o bacharel em direito Lucas Mariano Rodrigues, de 26 anos, em entrevista exclusiva ao EXTRA.
De acordo com as investigações da 33ª DP (Realengo), Cíntia teria matado Fernanda Carvalho Cabral, de 22 anos, em 15 de março, e tentado matar seu irmão, Bruno Carvalho Cabral, de 16, dois meses depois. Ele ficou três dias internado e, segundo o exame de corpo de delito realizado no Instituto Médico-Legal (IML), foi vítima de uma “ação química, envenenamento por carbamatos” — compostos orgânicos utilizados como inseticida. O documento aponta que em seu organismo havia presença de quatro grânulos esféricos diminutos, de colocação azul escura — “forma de apresentação de raticida ampla e clandestinamente comercializado e conhecido como chumbinho”.
— Só vou pensar em visitá-la no dia que ela assumir publicamente, assim como fez para mim e minha irmã, os crimes que cometeu contra a Fernanda e o Bruno, justamente para ela ter um pouco de amor e humanidade com os filhos dela. Os outros crimes que ela também é suspeita, eu não fazia ideia, só soube após a prisão — diz o rapaz, referindo-se aos inquéritos que investigam Cíntia também pela morte de um ex-namorado, o dentista Pedro José Bello Gomes, em 2018; e de um vizinho, o representante farmacêutico Francisco das Chagas Fontenele, em 2020.
Em decisão que prorrogou a prisão de Cíntia pela tentativa de homicídio contra Bruno por mais 30 dias, nesta terça-feira, o juiz Alexandre Abrahão Dias Teixeira, do III Tribunal do Júri, argumentou que somente a manutenção no cárcere “possibilitará a eventual aplicação da Lei Penal e a instantânea garantia da ordem pública, evitando-se a reiteração criminosa, o que indiciariamente já se viu nestes autos em razão do surgimento de elementos do segundo fato agora melhor apurado”, referindo-se ao suposto homicídio cometido contra Fernanda:
— Ela nunca foi mãe, nunca amou a gente. Digo isso por diversos acontecimentos: já escondeu comida para nós não nos alimentarmos, nos destratava, já me expulsou de casa duas vezes por não aceitar a separação do meu pai e eu não gostar das atitudes dela, minha irmã também saiu de casa aos 16 anos por não se dar bem com ela. Eu não lembro nem a última vez que a abracei ou dei um beijo nela.
De acordo com o inquérito, Bruno teria começando a passar mal minutos após ter saído da casa onde Cíntia morava com seu pai, Adeilson Cabral. Na residência, durante o almoço, foram servidos feijão, arroz, bife e batata frita. O rapaz teria reclamado que o feijão estava com gosto amargo e o colocou no canto do prato. A madrasta então levou o prato de volta a cozinha e colocou mais comida.
Após a refeição, o estudante foi deixado na casa da mãe, Jane Carvalho Cabral, que ligou então para o ex-marido contando dos sintomas apresentados pelo filho. Levado ao Hospital Municipal Albert Schweitzer, o jovem foi submetido a uma lavagem gástrica e teve a intoxicação exógena diagnosticada pela equipe médica.
À mãe, ele relatou ter passado mal após ingerir “umas pedrinhas azuis que estavam no feijão” e contou que, ao servir seu prato, a madrasta teria apagado a luz da cozinha “como se estivesse escondendo algo”. Aos policiais, Cíntia disse que as tais “pedrinhas” eram um tempero de bacon que não havia dissolvido na comida.
— Eu ainda a amo, infelizmente. Mas, ao mesmo tempo que amo, tenho ódio por tudo que ela fez e sinto falta de muita coisa! E também tenho muito medo. Queria que ela pudesse me ver casando um dia, conhecer meus filhos. Mas não sei se ela é uma pessoa que vou poder ver de novo, justamente por sei ser capaz de tudo — diz Lucas.
Ainda segundo as investigações, os envenenamentos teriam acontecido por ciúmes que a madrasta nútria da relação do companheiro com seus filhos biológicos. Por meio de seus advogados, ela nega que tenha cometido o crime.
— A Cíntia está muito abalada com tantas acusações infundadas, ela chora a todo o momento, sente falta dos filhos, justamente por sempre ter sido uma mãe e uma pessoa amorosa com todos ao seu redor. Mas ela continua acreditando que tudo isso vai passar e é a maior interessada que as investigações prossigam e demonstrem que não houve nenhum envenenamento por chumbinho. Sobre os demais inquéritos, ela também está totalmente estarrecida — disse o criminalista Carlos Augusto Santos, que a representa.