Sequestrado, ganhador da Mega enviou áudios à gerente pedindo que liberasse dinheiro

Novas imagens também mostram Jonas Lucas Alves Dias em padaria que frequentava diariamente e fazendo caminhada antes de ser sequestrado por quadrilha, em Hortolândia (SP).

Jonas Lucas Alves Dias, de 55 anos, ganhador da Mega-Sena, assassinado em Hortolândia (SP) — Foto: Reprodução

Áudios obtidos pelo Fantástico mostram pedidos de Jonas Lucas Alves Dias, ganhador de R$ 47,1 milhões na Mega-Sena em 2020, para que a gerente de seu banco liberasse uma transferência R$ 3 milhões a partir de sua conta.

Os pedidos foram feitos quando ele já tinha sido sequestrado e estava sob o poder de uma quadrilha, que tentava extorquir dinheiro da vítima, que acabou morta — o crime aconteceu em Hortolândia. Dois já foram presos e outros dois estão foragidos.

“Não chegou nada do comprovante, consegue agilizar isso pra mim?”, diz Jonas em uma das mensagens de áudio. “Tô aqui na fazenda, preciso fechar isso aqui hoje”, afirma, em outro momento.

A delegada Juliana Ricci, titular da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Piracicaba (SP), disse que a transferência foi negada porque !o valor era irreal”.

“Ele estava subjugado, isso nós temos certeza. Pede transferência bancária, que obviamente foi negada porque o valor era irreal para ser transferido sem ser presencialmente”, revela a delegada Juliana Ricci, titular da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Piracicaba (SP).

Novas imagens divulgadas pelo Fantástico neste domingo (18) também detalham o trajeto de Jonas antes de ser sequestrado pelo grupo no último dia 12 de setembro.

De hábitos simples, ele saía de casa todos os dias entre 5h30 e 6h e seguia até uma padaria do bairro. Naquele dia, imagens de câmeras do estabelecimento mostram ele no local, onde compra pães, um suco de laranja e uma esfirra e sai.

“Era uma pessoa muito rica e levava uma vida muito simples. Ele ganhou na Mega-Sena R$ 47 milhões em 2020, não mudou de casa, continuou frequentando exatamente os mesmo lugares, com os mesmos hábitos”, conta a delegada.

Os vídeos mostram que, após deixar os pães com a irmã, ele sai para caminhar novamente, quando novamente é filmado por uma câmera de monitoramento em uma rua. Equipamentos de videomonitoramento da vizinhança também mostram o carro de um dos criminosos passando por ele.

“No próprio ponto que as imagens demostram onde pararam os carros leva a crer que tinham pleno conhecimento do percurso da vítima”, analisa o delegado Kleber Antônio Torquato Altale, diretor do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior (Deinter 9).

Após uma imagem que mostra os dois veículos suspeitos circulando pelo bairro, a polícia acredita que a vítima foi abordada.

Estima-se que Jonas ficou cerca de 20 horas em poder dos criminosos, que retiraram R$ 20,6 mil de sua conta, por saques e pix, antes de ser abandonado na Rodovia dos Bandeirantes (SP-348), em Hortolândia. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos.

Veja quem são os suspeitos
As investigações conduzidas até este domingo (18) apontaram três homens e uma mulher como envolvidos na morte de Jonas. Dois foram presos e os outros seguem foragidos. Veja, abaixo, o que se sabe sobre cada um.

Rogério de Almeida Spínola (48 anos) – preso
Rebeca (24 anos) – presa
Marcos Vinicyus Sales de Oliveira (22 anos) – foragido
Roberto Jeferson da Silva, o Gordo, (38 anos) – foragido

Rogério de Almeida Spínola

Rogério Spínola, de 48 anos, foi o primeiro preso da investigação. Segundo a delegada da Deic Piracicaba, Juliana Ricci, ele tem uma série de passagens pela polícia por crimes como roubo, furto, homicídio, estelionato e lesão corporal.

Spínola cumpriu 15 anos de prisão e saiu da penitenciária em dezembro do ano passado. A prisão de Spínola ocorreu em Santa Bárbara d’Oeste e, segundo a polícia, ele nega participação no crime.

Juliana Ricci não detalhou a participação dele no esquema, mas informou que Spínola era parceiro de outra pessoa investigada.

“Nesse momento nós temos um rol de provas que permitiu que o judiciário decretasse a prisão dele, mas alguns detalhes eu não posso divulgar porque mantenho a investigação”, disse Juliana, durante coletiva de imprensa no sábado.

Rebeca
A Guarda Municipal de Santa Bárbara d’Oeste informou que Rebeca foi presa na manhã deste domingo no bairro Mollon e depois encaminhada para a Deic de Piracicaba (SP), delegacia que concentra as investigações do caso.

Segundo Polícia Civil, foi para uma conta no nome dela que os suspeitos transferiram parte do dinheiro da vítima.

Subinspetora da Guarda Civil Municipal, Érika Traldi afirmou que a mulher alegou ter sido “abordada” por dois homens, que a levaram até um banco e pediram para que abrisse uma conta. Rebeca passou dois apelidos dos homens e disse não saber os nomes.

Após o depoimento de Rebeca na Polícia Civil, o companheiro dela também foi levado para delegacia, onde foi ouvido e liberado.

Há a informação de que outra parte dos recursos da vítima foi transferida pra um CNPJ, mas a polícia disse que não poderia dar detalhes por que as investigações estão em andamento.

Marcos Vinicyus Sales de Oliveira
O diretor Departamento de Polícia Judiciária do Interior 9 (Deinter 9), Kleber Altale, informou que Marcos Vinicyus, conhecido como Vini, dirigia um dos dois veículos usados no crime, uma caminhonete S-10. A Justiça decretou a prisão dele, mas não foi encontrado.

A vítima foi abordada quando saía, a pé, de uma padaria, e obrigada a entrar na caminhonete. Os criminosos usaram violência ”extrema”, segundo a polícia, para que ele informasse os dados bancários.

A delegada Juliana Ricci afirma que foi Marcos Vinicyus o responsável pelos dois saques de R$ 1 mil e pela transferência no valor de R$ 18,6 mil da conta de Jonas Lucas. O suspeito foi flagrado por câmeras de segurança em uma agência da Caixa Econômica de Campinas, onde realizou as transações.

Segundo Juliana, Marcos Vinicyus também habilitou um aplicativo de celular para conseguir realizar as movimentações financeiras. O suspeito tem passagens por estelionato, receptação e deixou o sistema penitenciário em setembro de 2021.

Roberto Jeferson da Silva
Silva dirigia o Ford Fiesta preto também usado para abordar o milionário morto. A participação dele não foi detalhada pelos policiais civis. Ele não possui passagens pela polícia e segue foragido.

Segundo a Polícia Civil, as investigações prosseguem com análise de provas colhidas nessas ações e novas quebras de sigilos bancários e telefônicos. Nenhum dos veículos usados foi localizado.

‘Violência extrema’
A delegada Juliana Ricci afirmou que Jonas Lucas foi vítima de “extrema violência”. Durante o período em que ficou sob poder dos criminosos, cerca de R$ 20 mil foram retirados de suas contas e houve uma tentativa de transferência de R$ 3 milhões, sem sucesso.

Jonas foi raptado depois de sair para caminhar na terça (13), sendo abandonado às margens do km 104 da Rodovia dos Bandeirantes, próximo da alça de acesso da SP-101.

Ele foi socorrido e apresentava sinais de espancamento. Chegou a ser levado ao hospital, mas morreu. Segundo a investigação, tudo indica que o grupo tinha conhecimento da situação financeira de Jonas Lucas, mas ele não os conhecia.

Prêmio motivou o crime
Antes mesmo das prisões, Polícia Civil já havia afirmado que a morte de Jonas Lucas foi motivada pelo prêmio de R$ 47,1 milhões da Mega-Sena.

Segundo a delegada Juliana Ricci, uma tentativa de saque de R$ 3 milhões foi feita via aplicativo de mensagens.

O crime
A advogada da família relatou à polícia que a vítima havia levado apenas carteira e documentos para a caminhada. Ao final do dia, como não foi mais possível contatá-lo, familiares registraram ocorrência de desaparecimento na delegacia eletrônica.

Jonas foi socorrido e apresentava sinais de espancamento. Ele foi levado pelo resgate da concessionária Autoban ao Hospital Mário Covas, mas não resistiu.

O médico da unidade que atendeu Jonas Lucas atestou traumatismo cranioencefálico como causa da morte.

O corpo de Jonas foi enterrado na sexta-feira (16). Um ônibus foi disponibilizado para levar amigos e vizinhos ao enterro. O sepultamento ocorreu no Cemitério da Saudade, em Sumaré (SP).

‘Era simples’
Vizinho do milionário da Mega-Sena, o aposentado João Batista Alves contou que muita gente nem acreditava que Jonas tinha ganhado a bolada em razão de como ele levava uma vida simples.

“Era igual a gente, pessoa simples, que andava de chinelo, tranquilo, sempre passava aqui, sempre atencioso com a gente”, disse.

Quem conhecia Jonas Lucas há décadas garante que ele não mudou nada com o prêmio milionário recebido.

“Eu fui muito comprar com ele quando trabalhava no depósito. [Após o prêmio] era a mesma pessoa, não mudou nada, continuou como se nada tivesse acontecido”, lembra Luiz.

Fonte: g1

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