Uma testemunha de defesa de Flordelis disse que a ex-parlamentar “apresenta vários adoecimentos mentais” decorrentes “de problemas físicos graves” supostamente causados pelo pastor Anderson do Carmo. O psiquiatra forense Hewdy Lobo Ribeiro foi o segundo a depor nesta sexta-feira (11), quinto dia do julgamento da missionária e de parentes dela.
Além da ex-deputada, estão sendo julgados a filha biológica de Flordelis Simone dos Santos, a neta Rayane dos Santos e os filhos adotivos André Luiz e Marzy Teixeira.
Hewdy fez relatórios de diagnóstico psiquiátrico de Flordelis, Rayane e Marzy.
Segundo Hewdy, Flordelis sofre de:
- Transtorno depressivo-grave: “Inclusive com um episódio de tentativa de suicídio”, citou.
- Transtorno mental orgânico: “Quando o indivíduo tem sintomas ou vivências emocionais em decorrências de problemas físicos graves”.
- Transtorno de estresse crônico: “Ter sido agredida fisicamente e também sufocada durante relações sexuais”.
- Síndrome de Estocolmo: “Quando o indivíduo tem grande sofrimento e grande nível de vulnerabilidade”.
- Transtorno da personalidade dependente: “Uma característica de pessoas que submetidas a situações de estresse crônico tendem a se acomodar mesmo sob intenso sofrimento”.
“Nós avaliamos a presença de doenças mentais ou não de cada uma delas, presença ou não de dependência além de características de personalidade. Foi avaliada também a Escala Hare, sobre a presença ou não de psicopatia”, explicou o perito.
Hewdy disse que Flordelis pontuou 6 na escala, que vai até 40, o que não indica psicopatia.
Segundo ele, Marzy possui diagnóstico de duas doenças psiquiátricas: transtorno afetivo-bipolar e síndrome de maus-tratos, que seria o resultado de abusos sexuais dos 8 aos 16 anos.
“Ela não apresenta características de psicopatia, e não tem características correspondentes de vingança”, citou o psiquiatra.
Ele ainda disse que Marzy relatou um episódio de “tentativa de contato impróprio” do pastor Anderson do Carmo.
Filha fala em ‘submissão’ e abuso
Erica Dias, filha afetiva de Flordelis , afirmou que a “mãe” era submissa ao pastor Anderson do Carmo, a quem chama de “pai”.
“No dia a dia, ele estava sempre dando ordens e esperando que ela obedecesse. Ele sempre a colocou no pedestal. Em forma de gratidão, ela estava sempre pronta ali”, contou Erica.
Ao ser perguntada se viu alguma atitude “anormal” dentro da casa, a testemunha chorou copiosamente.
Questionada novamente, Erica relatou que teria havido um episódio em que ela e outra filha afetiva de Flordelis e Anderson, Kelly, dividiam um quarto. Em um determinado momento, Erica alega que presenciou um episódio de abuso.
“Eu acordei com a Kelly falando: ‘Sai, sai, sai daqui, Niel’. Vou falar com a mãe. Eles não perceberam que eu estava acordada. Ele passando a mão nela, ela estava de bruços. Ela dizendo: ‘Você não pode fazer isso, você é meu pai’. Ele disse: ‘Eu não tenho filho barbado’.
Erica ainda comentou que, além de Kelly, outra filha afetiva chamada Rafaela e Simone, uma das rés pela morte do pastor Anderson do Carmo, também teriam sido vítimas de abuso.
Segundo o assistente de acusação, Kelly, em depoimento na Delegacia de Homicídios de Niterói, negou ter sofrido abusos.
Primeira testemunha
A primeira pessoa ouvida nesta sexta-feira foi o psicólogo Sidnei Filho. Ele comentou sobre suas pesquisas com relação à violência, e como um suposto comportamento violento de Anderson com Flordelis poderia ter afetado os filhos do casal, tanto biológicos quanto afetivos e adotivos.
“A consequência da violência para os filhos pode ser imediata ou atrasada: demora anos para a gente perceber comportamentos violentos na criança”, explicou ele. A defesa alega que “violências diversas” ocorreram na casa em que ocorreu o crime, onde moravam Flordelis, Anderson e 55 filhos.
Em um trecho de um vídeo exibido durante o depoimento do psicólogo, Ramon, filho de Simone, afirmou que “ele” ficou olhando tomar banho. No depoimento, ele não especifica a quem se refere quando fala sobre o episódio.
“Fui tomar banho e ele foi atrás. Ele sentou na pia e ficou me olhando tomar banho. Eu achei aquilo muito constrangedor, muito invasivo”, disse Ramon.
Desde o início do julgamento, uma das principais estratégias da defesa é mostrar Anderson do Carmo como um abusador, que teria sido assassinado por ter assediado filhas que moravam na casa de Flordelis.
A assistência de acusação e o Ministério Público alegam que as acusações em julgamento são as tentativas de homicídio e o homicídio do pastor.
Segundo eles, Flordelis teve oportunidades de denunciar os abusos e nunca os mencionou em depoimentos anteriores.