Polícia investiga atropelamento de Rochelle Costi como homicídio culposo

Vítima foi atropelada no sábado (26) por moto ao atravessar a Avenida Europa, na Zona Oeste de SP. Segundo o motociclista Rogerio Gois, ela estaria fora da faixa de pedestres. Testemunhas o acusam de pilotar na contramão. Local fica a 200 metros de onde Marcelo Fromer, dos Titãs, foi atropelado por moto em 2001, quando morreu.

A Polícia Civil investiga o atropelamento de Rochelle Costi como homicídio culposo na direção de veículo automotor, sem intenção de matar. A artista visual foi morta após ser atingida, neste sábado (26), por um motociclista na Avenida Europa, em frente ao Museu da Imagem e do Som (MIS), nos Jardins, Zona Oeste de São Paulo.

O local fica a pouco mais de 200 metros de onde o guitarrista dos Titãs, Marcelo Fromer, foi atropelado por uma moto ao atravessar a mesma avenida, em 2001. O músico não resistiu aos ferimentos e morreu dois dias depois num hospital.

Rochelle teve ferimentos na cabeça e foi socorrida por uma ambulância, que a levou ao Hospital das Clínicas, no Centro, onde a morte dela foi confirmada em decorrência de trauma cranioencefálico grave por causa do atropelamento. Ela tinha 61 anos e estava expondo no MIS, que recebe obras de diversos artistas na mostra “Arte é Bom – a exposição onde tudo pode”.

Sua irmã, Simone Costi, de 57 anos, que a acompanhava, não foi atropelada, mas entrou em estado de choque e precisou de atendimento médico num posto na Casa Museu Ema Klabin.

Artista visual Rochelle Costi — Foto: Reprodução/Redes sociaisArtista visual Rochelle Costi — Foto: Reprodução/Redes sociais

A reportagem não conseguiu localizar parentes das vítimas ou o condutor da moto para comentarem o assunto. O caso foi registrado no 14º Distrito Policial (DP), em Pinheiros, mas será investigado pelo 15º DP, Itaim Bibi.

Segundo a autoridade policial que fez o boletim de ocorrência, o motociclista não teve a intenção de matar a vítima e também não assumiu o risco de matá-la.

O entendimento da equipe de policiais chefiada pela delegada Daniela Brito de Lima foi de que “não é caso de prisão em flagrante, tendo em vista que o autor dos fatos permaneceu no local e prestou pronto socorro, na medida do possível”. Por esse motivo, ele foi liberado para responder ao crime em liberdade. Caso seja condenado pela Justiça, o condutor pode receber pena de até 3 anos de reclusão, e ter a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) suspensa, ou ainda ser proibido de dirigir.

Motociclista diz que foi ‘fatalidade’

Avenida Europa, à esquerda, e MIs, à direita. Rochelle Costi foi atropelada por moto quando atravessava a via. Local fica a pouco mais de 200 metros onde músico Marcelo Fromer morreu atropelado em 2001 — Foto: Reprodução/Google MapsAvenida Europa, à esquerda, e MIs, à direita. Rochelle Costi foi atropelada por moto quando atravessava a via. Local fica a pouco mais de 200 metros onde músico Marcelo Fromer morreu atropelado em 2001 — Foto: Reprodução/Google Maps

Em seu depoimento na delegacia, o motociclista Rogerio Augusto de Souza Gois, de 40 anos, afirmou que o que ocorreu foi uma “fatalidade”. Ele contou que não conseguiu frear a moto e atingiu Rochelle, após ser surpreendido pela pedestre, quando ela atravessou a avenida fora da faixa de pedestres. De acordo com o piloto, o trânsito estava parado por causa do semáforo vermelho.

“A senhora fez a travessia na frente de um ônibus e de um automóvel que estavam parados do seu lado direito, por conta do semáforo fechado, por essa razão não conseguiu ver a senhora atravessando a rua, pois estava transitando pelo meio fio da faixa“, segundo Rogério informou no 14º DP.

Não há confirmação se ele trafegava pela corredor, o que seria permitido, segundo policiais, em caso de trânsito parado ou lento, desde que se obedecesse a velocidade máxima para via, que no caso é de 50 km/h.

Moto na contramão, dizem testemunhas

Rochelle Costi era artista plástica — Foto: Reprodução/Arquivo pessoalRochelle Costi era artista plástica — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Mas testemunhas que trabalham perto do MIS foram ouvidas neste domingo (27) pela reportagem e deram outra versão para o atropelamento. Sem se identificarem, elas confirmaram que Rochelle atravessa a Avenida Europa fora da faixa de pedestres, mas disseram que o motociclista trafegava na contramão quando a atingiu.

Essas informações de que o motociclista estava na contramão quando atropelou a vítima não constam no boletim de ocorrência do caso, que foi elaborado somente com a versão de Rogério. Ele contou ainda que, “em consequência da colisão, foi arremessado para o outro lado da pista na contramão de direção, ainda em cima da moto e percebeu que a senhora permaneceu caída no chão.”

Segundo Rogério, ele ainda transportava uma cesta básica na motocicleta, uma Honda 2019, 150 cilindradas. Contou também que não ingeriu bebida alcoólica antes de pilotar, que ele e sua moto estão com habilitação e documentação regularizadas. Apesar disso, não aparece no registro policial informações se o condutor passou pelo teste do bafômetro, que mede dosagem alcoólica.

"Cuore", de Rochelle Costi — Foto: Divulgação“Cuore”, de Rochelle Costi — Foto: Divulgação

Também não há informações se a investigação vai tentar localizar câmeras de segurança que possam ter gravado o atropelamento.

Inicialmente, o Corpo de Bombeiros, que atendeu a ocorrência havia informado à imprensa que o atropelamento havia sido causado por um carro, que atingiu duas pessoas, incluindo Rochelle, que morreu. Mas essa informação foi atualizada com a confirmação de que uma moto atropelou apenas uma pessoa, a artista plástica, que faleceu.

Por meio de nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que “a Polícia Civil investiga toda a dinâmica dos fatos.”

Parentes e amigos de Rochelle prestaram homenagens a artista nas redes sociais. O local do velório, no entanto, não foi divulgado ainda.

O que dizem MIS e Dueto

Rochelle Costi tem sua obra exposta no MIS  — Foto: Ananda Apple/TV GloboRochelle Costi tem sua obra exposta no MIS — Foto: Ananda Apple/TV Globo

O Museu da Imagem e do Som e Dueto Produções, responsável pela mostra onde Rochelle tem sua obra exposta no MIS, se pronunciaram neste domingo sobre a morte da artista.

“Com incomensurável tristeza a Dueto e o MIS lamentam o falecimento da querida artista visual Rochelle Costi. Nossos mais sinceros sentimentos estão com seus familiares e amigos. Sua arte permanecerá viva, com todo seu imenso talento e força. Viva Rochelle Costi”, informa nota conjunta divulgada pelo MIS e Dueto.

‘Artista multimídia’

Fotografia de Rochelle Costi exposta na 24ª Bienal de São Paulo — Foto: DivulgaçãoFotografia de Rochelle Costi exposta na 24ª Bienal de São Paulo — Foto: Divulgação

“Artista multimídia”. É dessa forma que amigos e admiradores do trabalho de Rochelle a descrevem. A artista visual unia fotografia, vídeo e instalação em suas obras. Por isso, algo que despertava interesse nela era retratar ambientes domésticos – instalações espontâneas que carregam a intimidade como uma característica universal.

Nascida no Rio Grande do Sul, Rochelle era formada em Comunicação Social e morava na Zona Oeste de São Paulo há cerca de três décadas. Seu trabalho já incorporou exposições em outros países da América Latina, na América do Norte, Europa e Ásia, a rendendo reconhecimento dentro e fora do território brasileiro, com direito a premiações, como o Prêmio CNI SESI SENAI Marcantônio Vilaça, em 2017.

Marcelo Fromer foi atropelado em 2001

1ª formação do Titãs: no alto (a partir da esq.): Sergio Britto, Branco Mello, Ciro Pessoa, Marcelo Fromer (de óculos escuros), Tony Bellotto; abaixo: André Jung, Arnaldo Antunes, Paulo Miklos e Nando Reis — Foto: Reprodução/Facebook/Paulo Miklos1ª formação do Titãs: no alto (a partir da esq.): Sergio Britto, Branco Mello, Ciro Pessoa, Marcelo Fromer (de óculos escuros), Tony Bellotto; abaixo: André Jung, Arnaldo Antunes, Paulo Miklos e Nando Reis — Foto: Reprodução/Facebook/Paulo Miklos

O titã Marcelo Fromer tinha 39 anos quando foi atropelado por uma motociclista na Avenida Europa, em 11 de junho de 2001. Ele morreu em 13 de junho daquele ano no hospital.

O motoboy Erasmo Castro da Costa Júnior, que estava com 31 anos à época, fugiu após o atropelamento. Ele chegou a ser identificado e detido mais de um anos depois pela polícia, em julho de 2002. Prestou depoimento e foi solto. Alegou na delegacia, no 15º DP, que pilotava pela faixa contínua, no meio das duas pistas da Avenida Europa, o que é irregular, quando Fromer “apareceu do nada”.

Ainda segundo o motociclista, a via estava escura em razão do racionamento de energia elétrica no país, que sofria com os “apagões”. De acordo com policiais, o que matou Fromer foi o impacto do capacete do motoboy na cabeça do músico.

Erasmo contou ainda que fugiu após a chegada do Corpo de Bombeiros, que foi chamado por uma testemunha. Em 2004 o motoboy foi condenado na Justiça por homicídio culposo e fuga do local do acidente. Recebeu pena de 3 anos e 4 meses de reclusão, mas ela foi convertida em prestação de serviço à comunidade. Por esse motivo, ele não foi preso.

Fromer era casado e deixou quatro filhos. Em setembro de 2001, uma passarela recebeu o nome do músico. Ela fica na Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, também na Zona Sul.

Fonte: g1

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