Aos 43 anos, trinta e cinco de carreira como atriz, Deborah Secco se viu diante de uma proposta inusitada: participar do “Tá na Copa”, do SporTV, que iria ao ar ao vivo durante todo o Mundial do Catar. Até hesitou, mas a acabou aceitando. A estranheza inicial do público ao ver seu nome ao lado dos de Magno Navarro, Igor Rodrigues e Aloísio Chulapa — todos ligados ao mundo esportivo — transformou-se em avalanche de comentários e chuva de críticas quando ela surgiu, na estreia, com o uniforme do canal transformado em um look sensual. Foi o primeiro dos 29 que a mãe de Maria Flor, de 7 anos, terminará de exibir amanhã à frente do programa. Sem, garante, se abalar nem um pouquinho com a opinião de quem não gostou.
O que achou do convite?
Uma loucura completa, mas eu gosto de loucuras. Como tudo que me tira da minha zona de conforto me interessa, topei. Estou há 35 anos trabalhando na Globo, fazendo as mesmas coisas. Então cada vez mais busco fazer coisas que eu sei que não sei fazer.
Qual é a sua relação com o esporte?
Tenho uma relação muito forte com a natação, porque meus dois irmãos (Bárbara e Ricardo) nadaram, competiram. Minha infância foi nas beiras de piscina. Mas nunca tive muita habilidade. Tentei jogar tênis, vôlei, futebol, tentei nadar… Meu sonho sempre foi do lado artístico.
Tem time?
Meu irmão é Fluminense roxo, meu pai também, então cresci sendo Fluminense, vendo os jogos em família. Já fui a muitos estádios. Depois me casei com o Roger (Flores, ex-jogador hoje comentarista da Globo) e aí fui a vários estádios, vivi o futebol durante cinco ou seis anos. Ele jogava no Corinthians, depois foi para o Grêmio, para o Catar, Flamengo, Cruzeiro. Acompanhei muito esses times. Meu padrinho de casamento com Roger foi o Kleber Leite (ex-presidente do Flamengo), um grande amigo. Após o casamento, o futebol ficou mais próximo.
Como foi sua preparação?
O que fiz foi assistir a todos os jogos da Copa. No programa tem um quiz, e eu ganho disparado porque talvez seja a pessoa que mais assiste aos jogos com atenção. E gosto de ver jogo de futebol. Comento com o meu olhar, não profissional, não jornalístico e não técnico, mas sei o que aconteceu, quem dominou mais a bola, qual jogador se destacou.
O mais trabalhoso, então, foi o figurino?
A (preparação) mais trabalhosa foi assistir a todos os jogos na fase de grupos. Era uma loucura, acordava 7h todo dia, eram muitos jogos, um depois do outro. Tinha uma hora que confundia tudo. Mas a preparação dos figurinos também foi trabalhosa. Para criar 29 looks com o mesmo uniforme, a gente quebrou a cabeça. Agora no finalzinho ficou mais difícil ainda. E é trabalhoso também porque eu demoro a me arrumar: uma hora e meia, duas horas, dependendo do cabelo. Levo mais tempo me arrumando do que gravando o programa. Essa parte é cansativa quando você fala de 29 dias consecutivos e ininterruptos.
Como surgiu a ideia de customizar os uniformes?
Veio para mim da Globo, não partiu de mim. Eu não queria usar uniforme. Queria estar vestida de Deborah porque achava que uma pessoa uniformizada precisava ter respaldo técnico e jornalístico, e não sou jornalista, não sou comentarista. Estou ali como Deborah, atriz convidada. Mas achei que a ideia dos uniformes customizados era uma boa forma de manter o padrão SporTV deixando bem claro que não sou essa pessoa e não quero ocupar esse lugar. Não tenho capacidade nem pretensão nem vontade.
Esperava tanta comoção (com o figurino)?
Nunca passou pela minha cabeça. Sou uma pessoa mais livre do que a maioria, entendo isso. Mas em 2022, isso ainda virar pauta no Brasil, para mim é inacreditável. Nunca imaginei, mesmo sabendo que o futebol é um lugar machista. A gente está no mundo, a gente é quem a gente é, não existe lugar adequado. Críticas eu sabia que haveria, mas essa mobilização tão grande por conta de uma roupa, de fato eu não imaginava. Achava que já tínhamos passado por isso. Não tô num enterro, na praia, num casamento, onde a gente tem um dress code a seguir. Não tô no “Troca de Passes”, eu tô no “Tá Na Copa”, um programa de humor, de zoeira.
E como reagiu às críticas?
Cresci tentando ser perfeita, muito, e hoje lido muito bem com meus erros, meus tropeços, com quem eu sou e com a realidade de que não vou agradar a todo mundo. E está tudo bem. Eu já me acostumei. A crítica não me dói mais. Me dói quando vejo que mulheres ainda julgam mulheres. Não quero que as pessoas se vistam como eu, que pensem como eu ou que gostem de ser como eu. Só quero que aceitem que essa sou eu, e não ser assim me causa uma dor que nem sei explicar. Não é a roupa de uma mulher que a sexualiza, não é a roupa da mulher a culpa de um estupro. Sou uma mulher supersensual, gosto de ser sensual, mas isso não te dá o direito de me desrespeitar.
O conteúdo não deixou de ser protagonista em detrimento do figurino?
Para mim, nunca deixou. Mas cada pessoa bota a importância onde quer. Sou um conjunto de coisas. Não sou uma coisa só. Não é porque sou bonita que deixo de ser inteligente. Não é porque sou sexy que deixo de ser talentosa. Posso ser bonita, talentosa, inteligente, sexy, boa mãe e o que mais eu quiser ser. Imperfeita, claro, tenho muitas imperfeições. Mas vou lutar para ser todas essas coisas. Não preciso escolher uma só, e uma coisa não anula a outra.
A despeito disso tudo, acabou virando a “musa” da Copa.
Ah, gente, será? Não acredito muito nisso, não. Acho que não tive concorrente. Fui musa por W.O. Imagina, 43 anos, não tenho nem mais idade para ser musa. Mas é bom também porque faz uma releitura dessa coisa da idade, né? Não tem idade para nada.
Como a maternidade se encaixou nessa loucura do mês de Copa?
Meu horário com a Maria Flor sempre foi o da noite, dela chegar das atividades, da gente tomar banho junto, jantar, boto ela para dormir, conto história. Então foi muito difícil para mim assim esses 29 dias. Mas graças a Deus tenho um parceiro (o ator e modelo Hugo Moura), um marido, um companheiro, um amigo, que não me ajuda, né? Porque pai não ajuda, pai é pai, e ele é pai. Ele divide comigo, me cobriu em diversas tarefas que eram minhas. Em momentos que ela me queria e eu não estava, ele se fez de mãe.
E o que Maria Flor achou?
Ela ficou superorgulhosa. Os meninos da escola diziam que mulher não entende de futebol e ela enchia a boca para falar: “minha mãe é comentarista, ela entende tudo”. Entendi a importância da representatividade feminina, para essas meninas que escutam que não entendem de futebol. Que elas possam se sentir representadas, não muito por mim, porque não estava fazendo esse papel, mas mal ou bem era mais uma mulher sentada numa bancada e falando sobre futebol. Minha relação com ela na Copa mudou. Entendi outro lugar da maternidade.
Pretende continuar se aventurando nessa área?
Não acho que isso seja algo que desejo como profissão para minha vida. Mas, fazer de vez em quando, em outra Copa do Mundo, não digo nunca, não. Gostei. Fui muito feliz, me diverti, me senti querida e à vontade para ser quem sou.
Para quem está torcendo?
Argentina. Não consigo torcer pela França colonizadora. Argentina é que nem a gente, só tem o futebol. Sei que tem uma rivalidade, mas penso num país sem muitas alegrias, sem muitos motivos para comemorar, como o Brasil. Ter um título mundial pode fazer diferença na vida das pessoas. Na França, acho que não. Eles já têm muitos motivos para serem felizes. Eles recebem em euro (risos).