Em carta enviada ao Brasil, o presidente da Argentina, Javier Milei, expressou a intenção de recusar a entrada de seu país do Brics.
No documento, ao que a GloboNews teve acesso, Milei afirmou não considerar “oportuna” a adesão ao bloco dos países emergentes do qual já fazem parte Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – em agosto deste ano, a Argentina e outros cinco países foram convidados a se unir ao Brics.
Caso aceitasse o convite, a adesão formal da Argentina ocorreria a partir de 1º de janeiro de 2024.
“Algumas decisões tomadas pela gestão anterior (do ex-presidente Alberto Fernández) serão revisadas. Entre elas, encontra-se a criação de uma unidade especializada para a participação ativa do país (Argentina) no Brics (…)”, escreveu Milei.
A carta chegou a Brasília em 22 de dezembro e foi enviada, também, a líderes dos outros membros do Brics.
Fontes do governo brasileiro ouvidas pela GloboNews disseram que o posicionamento de Buenos Aires foi recebido com “zero suspresa” em Brasília. Em novembro, a ministra das Relações Exteriores da Argentina, Diana Mondino, já havia indicado que seu país não iria aderir ao bloco.
Em agosto, quando ainda era candidato à presidência da Argentina, Milei disse ser contra a entrada da Argentina no Brics porque “nosso alinhamento geopolítico é com os Estados Unidos e com Israel. Nós não vamos nos alinhar com comunistas”.
Expansão do Brics
Durante a última cúpula do Brics, em agosto de 2023, os membros do grupo decidiram ampliar o bloco, um debate que já estava em discussão.
O grupo decidiu convidar formalmente seis países para se tornarem novos membros, disse o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa: Argentina, Egito, Irã, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
O debate sobre a expansão do bloco Brics,esteve no topo da agenda durante as reuniões em Joanesburgo.
Os seis países convidados terão de cumprir com algumas condições para participar do grupo a partir de 1º de janeiro de 2024.
Crise interna
A negativa de Milei ocorre ainda no momento em que o presidente argentino tenta, com dificuldade, aprovar dois pacotes de reformas que anunciou nos últimos dias.
Somados, os dois pacotes – o Decreto de Necessidade e Urgência e a “Lei Ómnibus” – somam mais de mil artigos, entre eles o que dispensa mais de 5 mil funcionários públicos, e dão mais poderes ao presidente, ao declarar estado de emergência em diversas áreas do país.
Mas o presidente argentino enfrenta resistência no Legislativo, onde seu partido tem minoria – apenas 37 dos 257 deputados e sete dos 72 senadores. Ele tem tentado pressionar aliados, e chegou a ameaçar fazer uma consulta pública para tentar aprovar os decretos.
Em paralelo, milhares de pessoas têm ido às ruas de Buenos Aires desde a semana passada em protesto contra as medidas previstas nos decretos e do chamado Plano Motosserra, o pacote fiscal com nove medidas para tentar conter a crise econômica anunciado na primeira semana de seu governo.
Na avaliação da imprensa argentina, a carta com a recusa em integrar o Brics é uma forma de Milei se concentrar na crise interna.