Seca impede subida dos peixes para a piracema, afirmam especialistas

Antonio Trivelin/Arquivo pessoalPiracema no Rio Piracicaba em 2009 durante a época de cheia

Piracema no Rio Piracicaba em 2009 durante a época de cheia

A reprodução dos peixes no Rio Piracicaba no período da piracema, que inicia no dia 1º de novembro e vai até fevereiro do ano que vem, será comprometida pela falta de chuvas, de acordo com o pesquisador e biólogo Paulo Sérgio Ceccarelli, do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Peixes Tropicais (Cepta). Segundo ele, se o manancial não tiver o nível elevado em pelo menos três metros até o início do ano que vem, a chance dos peixes conseguirem desovar é muito pequena. Na piracema do ano passado, boa parte dos peixes também não se reproduziram.

Em fevereiro deste ano, quando ocorreu grande mortandade de peixes no manancial, o especialista afirmou que o ecossistema do rio levaria oito anos para conseguir se recuperar. "Se não chover o que é necessário até o final da piracema, podemos adicionar pelo menos mais três ou quatro anos nesse prazo", afirmou o biólogo nesta terça-feira (14). "A água do rio precisa transbordar o leito e chegar até a margem para que os peixes consigam desovar na cabeceira do manancial, que é o local apropriado", completou.

Apesar da chuva ser necessária, o especialista afirma que ela precisa começar a cair sem muita força, e ser constante nos próximos meses, até fevereiro de 2015. "Se caírem temporais muito fortes, toda matéria orgânica que está nas pedras do fundo do rio irá se misturar com a água e dificultar ainda mais a respiração dos peixes. A chance de uma nova mortandade é grande e isso colocaria o rio em um cenário que não dá nem para prever como seria, de tão ruim", explicou.

O biólogo contou que nesta semana fez análises em peixes e atestou que boa parte está preparada para desovar. "Eles estão com as ovas, se preparando. Os peixes conseguem segurar as ovas até fevereiro e, até lá, em hipótese alguma, deve haver pesca. Se até fevereiro a situação do rio não melhorar, o período de proibição da pesca deve ser ampliado pelo poder público para dar mais chances à reprodução", explicou Ceccarelli.

De acordo com o biólogo Luccas Longo, o baixo volume de água do rio é preocupante porque diminui a quantidade de oxigênio na água. "Os peixes estarão fazendo um esforço grande para subir o rio, esse esforço sobrecarrega o sistema respiratório deles e pode haver mortandade enquanto eles tentam desovar", explicou.

O manancial tem mais de 100 espécies de peixes e todas elas estarão em risco, segundo o biólogo. Ele explica que espécies comuns como a piapara e o curimbatá, podem não se reproduzir. "Isso afeta não só a vida aquática, mas também a da fauna fora do rio, principalmente dos pássaros que se alimentam dos peixes", disse Longo.

Situação crítica

Desde o início do ano o Rio Piracicaba registra vazões e níveis bem abaixo das médias. Na última segunda-feira (13), por exemplo, o manancial chegou à pior vazão em 30 anos, conforme informações do Departamento de Água e Energia (Daee), com 5,40 mil litros de água por segundo, valor 92% menor que a média para outubro.

O Daee informou que os valores da Telemetria desta terça (14) e quarta (15) não são considerados para análise porque os medidores apresentaram problemas. Eles chegaram a registrar vazão na casa dos 4 mil litros de água por segundo, o que seria um novo recorde, caso fosse confirmado.

Segundo o órgão, técnicos irão analisar os sensores para descobrir e resolver o problema, mas não há previsão de quando isso ocorrerá. O Daee não confirmou se o fato dos índices estarem tão baixos possa ter danificado os aparelhos.

Mortandade

Cerca de 20 toneladas de peixes mortos foram encontradas boiando no rio em fevereiro deste ano. Várias espécies estavam às margens do manancial, que já vivia situação crítica de baixa vazão e nível. Funcionários da limpeza pública fizeram a retirada das carcaças e as transportaram a aterros.

O manancial voltou a registrar mortandade de peixes no trecho urbano da cidade em agosto. Os animais, a maioria da espécie mandi, foram encontrados boiando na extensão do rio entre a Ponte do Morato e a rampa dos pescadores do bairro Nova Piracicaba, formando "ilhas" no decorrer da margem da Avenida Cruzeiro do Sul.

Fonte: G1

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