Extermínio: motivação para crimes era ‘redução da criminalidade’

Quatro foram presos, um está foragido; Investigações continuam.

Ascom PCAndré José dos Santos

André José dos Santos

A Polícia Civil de Alagoas confirmou na manha desta sexta-feira, dia 1°, a identidade dos envolvidos em um grupo de extermínio que enterrava suas vítimas ilegalmente em um cemitério público de Maceió. Entre os envolvidos está o suplente de vereador e ex-administrador do Cemitério São José, Eliseu de Oliveira Barbosa Filho, apontado como mentor do grupo e autor material.

A polícia afirma ter fortes indícios de que o grupo é responsável pelos homicídios de pelo menos dois menores que supostamente cometiam pequenos furtos na região da Praça Pingo d’Água, no bairro do Trapiche da Barra. Eliseu se entregou na noite desta quinta-feira, 31, no Ministério Público e ainda será ouvido.

O principal depoimento colhido pela polícia é o do coveiro André José dos Santos. Na versão do coveiro, a cova irregular foi aberta a pedido de Eliseu. Um menor de 13 anos, ainda não identificado, teria sido morto por enforcamento e levado ao cemitério pelo próprio suplente de vereador. O menor teria sido atraído para um terreno de Eliseu com a desculpa de ele capinaria o local, antes mesmo de executar o trabalho, o jovem foi enforcado e cerca de 30 minutos depois levado ao cemitério, onde a cova já havia sido cavada em uma região onde não é possível sepultamentos legais em virtude do pouco espaço que não permite a colocação de um caixão. Outro indício de que o enterro foi ilegal, além da própria confirmação do coveiro, é de que a ossada estava em posição e o corpo foi enterrado em um saco plástico de náilon, também deixado no local pelo coveiro.

O irmão do suplente, César Rodrigues Barbosa, também é apontado como membro da quadrilha, mas já estava no sistema prisional antes mesmo do início das investigações condenado com base na Lei Maria da Penha. César seria o responsável por aliciar outros membros do bando e atrair as vítimas até os locais do crime.

Outro menor de 16 anos, identificado apenas como ‘Ninho’, foi encontrado no dia 23 de setembro de 2009 em um canavial em Marechal Deodoro, carbonizado. As chamas seriam para despistar a identidade da vítima que, segundo uma testemunha ocular, teria sido morto no próprio cemitério e lavado para o canavial em um veículo Golf de Eliseu. O suplente ainda acompanhou o translado do corpo em seu veículo, um Celta. A identidade de ‘Ninho’ deve ser comprovada através de um exame de DNA realizado pelo departamento de laboratório da Universidade Federal de Alagoas. Ele foi enterrado no Cemitério Divina Pastora, como indigente.

Também foi detido Erivildo Bento da Silva, depois de mandado expedido pela 8ª Vara Criminal. Erivildo seria responsável por levar os objetos usados no crime, como cordas e pneus e líquido inflamável, e também seria o braço direito de Eliseu.

Élcio Matias dos Santos, o Nego Biu, continua foragido. Ele também era responsável por levar objetos usados nos crimes, por dirigir o veículo e também de organizar sessões de torturas antes da execução das vítimas.

Exumação

Durante a exumação realizada na última quarta-feira, dia 30, a polícia encontrou um segundo crânio, com uma perfuração de tiro na cabeça. A identidade deste cadáver também será investigada. Um homem já procurou a polícia dizendo que acredita que o crânio pode pertencer a seu filho.

O caso

A polícia chegou ao grupo de extermínio depois de ser procurado pelo advogado Welton Roberto, que defende um ex-integrante que teria ‘rachado’ com o grupo e temia ser executado. Essa testemunha ocular diz ter presenciado os dois homicídios e aponta Eliseu como autor material. É também dele a informação que a motivação do crime seria por que os menores cometiam furtos na região e essa foi a maneira encontrada pelo suplente para inibir a criminalidade na região.

A denúncia do crime foi feita no dia 11 de abril e desde então a polícia investiga o caso. A PC não descarta que haja outros envolvidos, a participação de outros políticos ou até policiais no grupo de extermínio. Porém nenhum indício até o momento aponta para isso. A polícia também não acredita em crime de conotação política, mas enfatiza que nenhuma linha de investigação será descartada.

Também na versão do ex-integrante o grupo age há anos em Maceió. Apesar da informação a polícia não se arrisca a dar um palpite de quantas pessoas podem ter sido vítimas do grupo de extermínio. Esta mesma testemunha ocular deverá ser contemplada pelo dispositivo de cooperação premiada, a antiga delação premiada. O dispositivo não impede que o delator seja julgado e pague pelos seus crimes, mas se as informações repassadas por ele forem consideradas relevantes pela justiça é possível que haja redução de pena.

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