Assad reforça desafio aos EUA após recuo de Obama

DivulgaçãoO presidente sírio, Bashar al-Assad

O presidente sírio, Bashar al-Assad

O presidente sírio, Bashar al-Assad, insistiu neste domingo em que seu Exército pode aguentar qualquer ataque, após o recuo do presidente americano, Barack Obama, que vinculou uma eventual ação militar à autorização do Congresso, enquanto perto de Damasco forças do regime bombardearam posições rebeldes, deixando dezenas de mortos, segundo uma ONG.

De acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), forças governamentais sírias atacaram posições rebeldes e mataram 12 pessoas, inclusive duas crianças, na cidade de Ruhabiya, no nordeste da capital, em uma contraofensiva a um ataque rebelde.

Entre os mortos, segundo a fonte, estão nove combatentes rebeldes. Outras duas pessoas morreram em confrontos entre rebeldes e forças do regime, continuou o OSDH, destacando que os combates começaram ao amanhecer e se prolongaram durante todo o dia.

Ainda de acordo com a ONG, bombardeios da aviação síria contra outros alvos nos arredores de Damasco mataram nove pessoas, incluindo três crianças.

Uma mulher e duas crianças também morreram na explosão de um carro-bomba na província de Daraa (sul), acrescentou a fonte.

Em Washington, o secretário de Estado, John Kerry, afirmou que os Estados Unidos tinham recebido e analisado amostras que provam a utilização de gás sarin no ataque de 21 de agosto perto da capital síria, que novamente foi atribuído pelo governo americano ao regime de Damasco.

Enquanto isso, os ministros das Relações Exteriores da Liga Árabe, considerados por Washington um aliado potencial embora profundamente dividida sobre a oportunidade de uma intervenção militar na Síria, estavam reunidos na noite deste domingo no Cairo para discutir a crise.

"A Síria é capaz de enfrentar qualquer agressão externa, assim como enfrenta todos os dias a agressão interna representada pelos grupos terroristas", afirmou Assad neste domingo.

"Os grandes perdedores nesta aventura são os Estados Unidos e seus agentes na região, em primeiro lugar a entidade sionista", afirmou Assad, referindo-se a Israel.

O presidente sírio fez essas declarações no sábado depois do pronunciamento de Obama, mas não citou o nome do presidente americano.

Neste domingo, o vice-ministro sírio das Relações Exteriores, Fayçal Moqdad, havia considerado que Obama é "hesitante e confuso" e acusou o governo francês de ser "irresponsável" e de apoiar a Al-Qaeda.

— "Parar a máquina de morte" —

"O Congresso americano deve dar uma prova de sabedoria", lançou Damasco, depois de ter negado novamente a responsabilidade do regime no ataque de 21 de agosto.

Já a Coalizão Opositora síria pediu que os membros do Congresso "façam a escolha certa", autorizando um ataque contra o regime sírio, com o objetivo de "parar a máquina da morte de Assad".

Quando uma ação limitada parecia iminente, levando-se em conta a determinação de Obama e do presidente francês François Hollande de agir contra o regime sírio, o chefe de Estado americano disse no sábado que prefere consultar o Congresso, que está em recesso até 9 de setembro.

Segundo a inteligência americana, o ataque de 21 de agosto deixou 1.429 mortos, incluindo 426 crianças. Mencionando um registro ainda provisório, o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) indicou neste sábado ter registrado mais de 500 mortos, incluindo 80 crianças.

A ONU anunciou que os especialistas encarregados de investigar o ataque não chegarão a conclusão alguma antes do resultado de análises de laboratório que podem levar até três semanas.

"Amostras de cabelos e sanguíneas registraram resultado positivo para traços de gás sarin", afirmou à rede NBC o secretário de Estado John Kerry, indicando que essas informações tinham sido apresentadas "nas últimas 24 horas".

Segundo uma informação do jornal francês Journal du Dimanche, confirmada por uma fonte governamental francesa, o estoque total de agentes químicos do regime sírio passa de 1.000 toneladas.

Na noite de sábado, Obama anunciou para a surpresa geral que ia "pedir a autorização dos representantes dos americanos no Congresso para o uso da força" na Síria, com o objetivo de enviar "um sinal claro da disposição resoluta dos Estados Unidos" de impedir ataques químicos.

A Câmara dos Representantes e o Senado debaterão cada um em sessões plenárias a partir de 9 de setembro, e os senadores votarão nesta semana, afirmou Harry Reid, líder da maioria democrata.

Este domingo, ao final de uma reunião a portas fechadas no Capitólio, muitos legisladores mostravam-se hesitantes sobre uma solução militar para a crise.

"Não há base para uma resolução com esta" de atacar a Síria, disse o legislador democrata, Jim Himes.

"O que se pede é um cheque parcialmente em branco" e não há no texto do projeto de resolução nenhuma referência que descarte o envio de tropas terrestres, como tinha prometido o presidente Obama", continuou outro democrataa, Chris Van Hollen.

A Síria está mergulhada desde março de 2011 em uma revolta popular transformada em guerra civil que deixou mais de 110.000 mortos e causou a suspensão da Síria da Liga Árabe, até seu assento ser atribuído à oposição síria.

"Ditaduras como o Irã e a Coreia do Norte acompanham com atenção como o mundo livre vai reagir à utilização de armas químicas contra o povo sírio pelo regime de Bashar al-Assad. Se ele não responder a uma violação como essa das regras internacionais, os ditadores do mundo inteiro se verão estimulados a seguir o exemplo de Assad", ressaltou neste domingo a Coalizão Opositora síria.

O ministro saudita das Relações Exteriores, o príncipe Saud al-Fayçal, cujo país apoia ativamente a oposição e a rebelião sírias, pediu neste domingo que os países árabes apoiem o apelo da oposição síria.

O príncipe Saud pediu que os Estados árabes fiquem ao lado "dos sírios e de seus representantes legítimos reconhecidos pela Liga" (a oposição), que "pedem à comunidade internacional que os ajude, da forma como pedem".

Egito, Argélia, Iraque, Líbano e Tunísia manifestaram nos últimos dias sua oposição a um ataque.

Em visita a Damasco, uma liderança parlamentar iraniana alertou neste domingo que os interesses americanos estarão "ameaçados" se Washington lançar um ataque contra o regime sírio, aliado de Teerã.

"As questões de segurança na região estão intimamente ligadas. Os americanos não podem ameaçar os países da região e esperar que seus interesses não sejam ameaçados", declarou Allaeddine Boroujerdi.

Em Roma, o papa Francisco pediu neste domingo que o mundo inteiro respeite um dia de oração e jejum pela paz na Síria no sábado, 7 de setembro, em um gesto forte que repete o lançado por João Paulo II após os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.

Fonte: Diário de Pernambuco / AFP

Veja Mais

Deixe um comentário