Pai de Eloá nega crimes em Maceió e lamenta não ter resgatado filha

Reprodução FantásticoEx-cabo Everaldo falou pela promeira vez sobre o crime

Ex-cabo Everaldo falou pela promeira vez sobre o crime

Começa nesta segunda-feira (13) um dos julgamentos mais esperados do ano: o de Lindemberg Alves, acusado do sequestro e morte da ex-namorada, Eloá Pimentel, em 2008, em Santo André, São Paulo.

O repórter Valmir Salaro, da Rede Globo, conversou com o pai de Eloá, Everaldo dos Santos, que está preso em Maceió condenado por assassinato. O pai fala pela primeira vez desde o crime que chocou o Brasil.

Durante 15 anos, o ex-cabo da Polícia Militar de Alagoas Everaldo dos Santos escondeu o passado e a verdadeira identidade. O que não esperava é que, durante o sequestro da filha Eloá, sua vida clandestina acabaria.

Everaldo falou com exclusividade para o Fantástico. “Eloá era uma pessoa maravilhosa, uma pessoa alegre e dada com todo mundo”, diz o pai da vítima.

O pai conta que o namoro entre a filha e o motoboy Lindemberg Alves começou em 2006, quando Eloá tinha 13 anos, e Lindemberg, 20. “Eu aceitava (o namoro), porque a princípio era uma pessoa de boa índole. Eu nunca iria adivinhar que ele se tornaria uma pessoa monstro que iria eliminar a minha filha”, afirma o ex-cabo.

Everaldo dos Santos está na cadeia em Maceió. A tragédia, envolvendo a filha, em outubro de 2008, em Santo André, na Grande São Paulo, revelou a existência de acusações graves contra ele.

Durante o sequestro que durou cinco dias, Everaldo passou mal. A imagem rodou o país e ele acabou sendo reconhecido. O pai de Eloá era foragido da Justiça havia mais de uma década, acusado de uma série de assassinatos, quando era policial.

Para não ser preso, fugiu logo depois da morte da filha. “Meu filho chegou me abraçando e falou para mim: ‘pai, acabou. Eloá morreu’. Quando veio a notícia de que já tinham me reconhecido, eu falei: ‘agora, o pai tem que ir embora, porque o pai está correndo risco de vida. Eles já sabem que sou eu, onde eu estou’”, conta Everaldo.

O pai não foi nem ao enterro da filha. “Eu desejava a morte, que o Lindemberg viesse e me matasse também, porque enterrar uma filha com 15 anos e não conseguir enterrar porque eu não estava ali”, lamenta.

Everaldo dos Santos diz que fugiu de carro de Santo André, passou por vários estados e que pessoas o ajudaram a conseguir comida. “Procurava muito ficar dentro do mato, porque dentro do mato eu sabia que seria difícil”, lembra.

Quando Everaldo ainda estava foragido, foi julgado em novembro de 2009 à revelia – ou seja, sem a presença dele no fórum. O ex-cabo foi condenado a 33 anos de prisão pelos assassinatos do delegado Ricardo Lessa e do motorista dele, Antenor Carlota. Esses crimes aconteceram em Maceió em 1991. “Eu não tive um julgamento justo para eu me defender perante a Justiça, perante o juiz”, declara.

“Ele é inocente, e a gente vai provar isso através dos tribunais superiores em Brasília”, afirma advogado de Everaldo, Thiago Pinheiro.

De acordo com o Ministério Público, o julgamento foi legítimo e as provas contra Everaldo são contundentes. “Segundo as testemunhas, ele era uma das pessoas que iam dentro do carro no momento em que foram deflagrados os tiros que assassinaram as vítimas”, declara o promotor de Justiça José Antônio Malta Marques.

Em dezembro de 2009, um ano e dois meses depois de fugir de Santo André, Everaldo foi preso na casa de parentes em Maceió. Hoje, ele cumpre pena em um presídio-modelo em Maceió. Ele também é acusado de outros três crimes de morte quando era cabo da Polícia Militar no estado de Alagoas.

Everaldo, com 47 anos, trabalha com artesanato na cadeia. Tem direito à televisão e a um aparelho de DVD na cela, que divide com um assaltante. O ex-policial é temido em Alagoas, suspeito de participar da chamada gangue fardada, um grupo de extermínio que agia nos anos 90.

Fantástico: Você já chegou a matar alguém?
Everaldo dos Santos: Não.
Fantástico: Você nunca matou ninguém?
Everaldo dos Santos: Não.

Em Santo André, onde viveu 15 anos, Everaldo não teve passagem pela polícia por nenhum crime. Trabalhava como segurança e, para não ser identificado, usava o nome falso de Aldo José da Silva. Ele diz que nem Lindemberg, nem Eloá, nem os outros dois filhos sabiam do passado dele.

Everaldo esperava que o disfarce nunca fosse descoberto até que ele foi visto na televisão por policiais de Alagoas. “Eu não tinha me alimentado e estava com problema de pressão. Quando eu vi a minha filha na janela, o coração explodiu. Não sai a imagem da minha cabeça. Eu sinto muito não ter chegado lá e ter tentado resgatar a minha filha saber que minha filha estava sendo espancada e ameaçada lá dentro com uma arma na cabeça”, diz o pai da vítima.

“Pelo homem que eu sou, sabia que minha filha esperava eu arrombar aquela porta e entrar ali, mas não tinha como eu entrar ali para defender a minha filha”, declara o ex-cabo da PM.

Everaldo diz que foi ameaçado por Lindemberg. “Cheguei a falar (com ele por telefone). Ele falou que gostava muito de mim, mas, se eu tentasse entrar no apartamento, ele me matava e que ele iria matar a Nayara e iria matar a Eloá. E se Eloá não fosse dele, não seria de mais ninguém”, lembra.

O pai de Eloá lembra como reagiu quando a polícia invadiu o apartamento: “eu ouvi o estampido, aquele ‘bum’, aquela barulho. Aí eu gritei: ‘a minha filha’. Uns policiais que estavam por ali me seguraram, e eu fiquei olhando e eu não via a Eloá”, conta.

Ele critica a ação da Polícia Militar. “Ela errou. Tinha diversas maneiras de ela entrar naquele apartamento. Eu fui polícia e sei que teve muita chance de salvar a vida da minha filha”, afirma.

Em nota ao Fantástico, a Polícia Militar de São Paulo classificou aquela situação como sendo de ‘alto risco em função de diversas variáveis’. E disse que ‘todas as ações são tomadas visando salvar vidas’.

Lindemberg é acusado de matar Eloá com dois tiros e de balear a amiga dela, Nayara no rosto. Nesta segunda-feira (13), no Fórum de Santo André, está marcado o julgamento do ex-motoboy de 25 anos. Ele vai a júri popular. Ao todo, 19 testemunhas foram convocadas: 5 de acusação e 14 de defesa.

Uma juíza vai comandar o julgamento. A previsão é de que ele dure três dias. Lindemberg Alves vai sentar no banco dos réus, vigiado por dois policiais militares. Quando ele for interrogado pela juíza, vai ficar frente a frente com ela. Preso em flagrante logo depois do assassinato de Eloá, Lindemberg nunca saiu da cadeia.

Preso, o pai de Eloá vai acompanhar da cela o julgamento do ex-namorado da filha. E se um dia, ele reencontrar Lindemberg? “Não gostaria de encontrá-lo. Você ver o assassino frente a frente. Eu sou homem. Eu não sei a minha reação nem sei reação dele. Antigamente, ele não sabia quem eu era, mas hoje em dia ele já sabe quem eu sou, quem eu fui”, aponta Everaldo.

A advogada de Lindemberg não quis falar. A condenação dele pode chegar a 110 anos de cadeia.

“Ele desarticulou, acabou com a minha vida. O que eu espero é Justiça. Ele tirou a vida de uma inocente, de uma pessoa maravilhosa como minha filha era”, afirma o ex-cabo da PM.

Fonte: Fantástico

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