Visitou o apartamento decorado, mas quando recebeu o imóvel tudo parecia diferente, menor? Não se assuste, afinal, muitos são os truques usados para deixar tudo perfeito e atraente na exposição. Diante disso, é importante analisar – ainda durante a visita – questões como a medida dos móveis sugeridos e possíveis alterações na planta. “Muita gente fica presa à decoração e se esquece de observar o que realmente será entregue no imóvel como pisos e esquadrias. Às vezes, a proposta não atenderá às expectativas”, afirma Giseli Koraicho, designer da Infinity Spaces.
Para evitar surpresas desagradáveis, um dos pontos iniciais é verificar possíveis alterações na estrutura do apartamento. Durante a visita, o ideal é pedir a planta oficial e comparar posições de paredes e o número de ambientes. “Com o uso da integração nos espaços a ideia de amplitude aumenta; porém, na maioria das vezes, o imóvel entregue possui as paredes ausentes e isso gera desconforto sobre o tamanho do apartamento”, diz Claudio Fischer, arquiteto e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS).
Com o intuito de forçar a perspectiva de que tudo cabe em um espaço pequeno, muitas vezes vale tudo nos decorados. Não raro as empresas usam móveis planejados com tamanhos menores do que suas medidas tradicionais (às vezes mal cabe um cabide). Por isso, nada melhor do que levar uma fita métrica durante a visita e conferir item a item. “Nos apartamentos em exposição tudo se encaixa, mas quando os clientes tentam colocar os móveis próprios percebem a diferença. O mesmo ocorre até com geladeiras que ficam sem o espaço lateral para abrir a porta”, diz Gisele.
Também é importante ter na cabeça a medida padrão de móveis (mesa, cadeira, armário) e eletrodomésticos. Muitas vezes as camas apresentadas têm medidas reduzidas para ficarem harmoniosas no espaço existente e, em alguns casos, “esquece-se” dos armários, que, no futuro acabarão tendo de ser instalados em um quarto separado para garantir a movimentação das pessoas.
Outros truques são usados para disfarçar o tamanho real dos apartamentos. É comum ver decorados com muitos espelhos, além de portas de correr e transparências dividindo os ambientes – recursos que aumentam a sensação de amplitude. Da mesma forma, pisos do mesmo tipo, cortinas claras e bordas da janela pintadas com um tom acima da cor da parede transmitem a mesma ideia. Há casos em que mesmo o mobiliário fixo (pias, assentos sanitários) é alterado. Em um empreendimento lançado recentemente no Centro de São Paulo, até mesmo uma cuba de lavabo foi instalada no lugar da pia da cozinha – de forma moderna e criativa, para encantar o visitante, claro.
Quanto à exclusão de alguns ambientes tradicionais, como a de serviço, nos decorados (algo nem sempre percebido durante a visita), o arquiteto ressalta que é preciso avaliar a importância de cada espaço na vida dos moradores. “Mesmo quem terceiriza a lavagem pode querer deixar uma roupa secando. Mas se a área de serviço não existir ou for integrada à cozinha, de que maneira isso será feito?”, afirma.
Um espaço que tem se tornado cada vez mais frequente nos novos apartamentos é a varanda gourmet, que muitas vezes ultrapassa a dimensão da própria sala. “É preciso avaliar a importância dessa área na vida da família e ver se realmente essa metragem será bem utilizada ou fará falta no dia a dia”, diz Giseli. Em alguns casos, como no empreendimento lançado pela incorporadora Requadra no bairro do Jardim Paulista, em São Paulo, chega-se ao ponto de um apartamento de 32 m² contar com tal estrutura.
Ainda no local da varanda deve-se prestar atenção à churrasqueira proposta. Na maior parte dos decorados, o modelo sugerido é elétrico, caro e que nem sempre atende às necessidades de quem aprecia modelos a gás (o problema aqui é que eles exigirão uma tubulação pré-instalada inexistente no imóvel).
Na hora da visita também é importante não se esquecer de observar mudanças feitas no pé direito do imóvel. No caso de apartamentos pequenos e com teto baixo, um simples lustre mais volumoso ou sancas de gesso podem contribuir ainda mais para que o morador se sinta enclausurado. Além disso, a tentativa de garantir um bonito efeito de iluminação pode prejudicar a circulação de ar e a altura oficial das janelas.