Sete, oito, nove, dez". Quando as crianças da base santista começam a contar durante o treinamento é um sinal de que algo diferente está acontecendo ali. A rotina faz parte de uma atividade na qual os garotos precisam dar um mínimo de toques na bola sem que cada jogador toque mais de duas vezes, até fazer o gol. Também se treina marcação sob pressão e as formas de fugir do aperto do adversário.
A transformação que tanto se pede no futebol brasileiro desde que o estilo de jogo nacional foi superado pelo das potências europeias na última Copa do Mundo pode estar acontecendo neste momento no clube que sempre foi referência na formação de novos talentos.
A vocação ofensiva o Santos sempre teve. Mas de alguns anos para cá, a valorização da posse de bola, o toque rápido e a movimentação em espaços curtos, características típicas do maior time dos últimos tempos, o Barcelona, passou a aparecer nos treinos dos jovens no CT Meninos da Vila.
"O Brasil continua tendo os garotos mais habilidosos. Acontece que nós estávamos defasados. Eles usavam um método de treinamento que não existia aqui, treino em espaço reduzido etc", analisa o preparador físico Luis Xavier, há nove anos trabalhando nas divisões inferiores do clube. "Pelo menos no Santos as coisas estão mudando."
Adriano Fesan, técnico dos times sub-13 e sub-14, concorda. "Valorizamos o toque de bola e não o chutão. Nisso o Santos é igual ao Barça. Se o menino quer driblar, também damos liberdade."
O blogueiro do ESPN.com.br e comentarista dos canais ESPN Mauro Cezar Pereira já havia observado a influência do Barcelona no time profissinal no Santos em 2012. Segundo os números do footstats, os comandados de Muricy Ramalho aumentaram em cerca de 50% a quantidade de passes dados e ainda melhoraram consideravelmente o índice de acertos.
Destoando
A diferença de jogo do Santos para outros clubes brasileiros fica clara para Luis Xavier quando os meninos da base alvinegra vão para as competições. "É impressionante como o Grêmio e o Internacional, por exemplo, têm um estílo totalmente diferente do nosso, mais duro", diz.
Enquanto no Sul sobram jogadores defensivos, o Santos ‘sofre’ com o excesso de garotos mais ofensivos. "Faltam zagueiros em alguns times de base do Brasil. Especialmente aqui, com a herença de Robinho, Neymar, Pelé", afirma o técnico Fesan.