Após nove anos de prisão e deturpações político-judiciais, o autoproclamado cérebro dos atentados de 11 de setembro de 2001, Khaled Sheikh Mohamed, vai a julgamento este sábado (5) na base de Guantánamo, o que marca o pontapé inicial para um processo muito esperado.
Nove anos após sua detenção no Paquistão, dos quais três em prisão secreta, Mohamed e seus quatro supostos cúmplices são acusados de "serem responsáveis pela preparação e execução dos atentados de 11 de setembro em Nova York, Washington e Shanksville (Pensilvânia), que mataram 2.976 pessoas", segundo o departamento de Defesa americano.
A etapa decisiva começa mais de dez anos depois dos mortíferos atentados e coincide com o primeiro aniversário da morte de quem reivindicou sua autoria intelectual, Osama Bin Laden.
Mohamed enfrenta a pena de morte ao lado de seus comparsas, o iemenita Ramzi bin al-Chaiba, o paquistanês Ali Abd al-Aziz Ali, conhecido como Mohamed al-Baluchi, e os sauditas Wallid bin Attach e Mustafá al-Hussaui.
Julgamento
A leitura da ata de acusação gerou interesse de uma quantidade recorde de meios de comunicação e de organizações de defesa dos Direitos Humanos. Das mais de 200 solicitações de credenciamento, apenas 60 jornalistas conseguiram um lugar e outros 30 cobrirão o evento da base militar de Fort Meade (Maryland), onde a audiência será retransmitida.
Já as famílias das vítimas poderão acompanhar o julgamento em telões colocados em quatro bases militares em solo americano.
KSM, cujas primeiras declarações foram recolhidas sob tortura em uma prisão secreta da CIA, pode tirar proveito da audiência "para lançar um ataque contra os Estados Unidos", afirmou à AFP o analista David Rivkin.
O presidente americano, Barack Obama, queria que o julgamento contra os cinco acusados ocorresse em Manhattan, muito perto de onde se erguiam as Torres Gêmeas. Mas foi impedido pela oposição republicana no Congresso, que bloqueou a transferência a território americano de acusados de terrorismo.
Os cinco acusados serão levados então pela segunda vez a um tribunal militar de exceção, criado há 11 anos sob o governo Bush.
O "julgamento do século", como é chamado por alguns observadores, pode se prolongar durante anos, a menos que KSM se declare culpado para ser rapidamente condenado à morte e se converter em um mártir aos olhos da organização Al-Qaeda.
Os acusados
– Khaled Sheikh Mohamed: mais conhecido por suas iniciais em inglês (KSM), o kuaitiano de origem paquistanesa, 47 anos, estudou nos Estados Unidos. Declarou, de acordo com o Pentágono, que foi o arquiteto do complô do 11/9 e outros 30 atentados ou projetos de atentados. Consagrou sua vida à Jihad contra o Ocidente.
– Ramzi bin al-Chaiba: viveu em Hamburgo, Alemanha, com Mohamed Atta, considerado o líder do comando que agiu em 11 de setembro. É um iemenita de 40 anos de idade, que foi treinado nos campos da Al-Qaeda no Afeganistão. De acordo com os autos da acusação, deveria ter participado nos ataques contra os Estados Unidos, mas não conseguiu visto para entrar no país.
– Ali Abd al-Aziz Ali: (ou Mohamed Al-Baluchi) sobrinho de Khaled Sheikh Mohamed, autor do atentado contra o World Trade Center em 1993. Paquistanês de 30 anos criado no Kuwait, para quem a Jihad é uma tradição familiar. É acusado de participar na organização da logística do 11/9.
– Wallid bin Attach: nascido na Arábia Saudita de uma família originária do Iêmen, é acusado de participar nas localizações para a realização dos atentados. O governo americano acredita que este homem de 33 anos foi o principal instigador do ataque contra o navio USS Cole, que matou 17 marinheiros americanos no litoral do Iêmen em outubro de 2000.
– Mustafá al-Hussaui: saudita de 43 anos, acusado de ser o financiador da Al-Qaeda nos primeiros anos da organização. De acordo com a acusação, organizou e centralizou o financiamento do 11/9, em particular alojamento e os cursos de pilotagem dos homens que realizaram os atentados.