Michael F. Holick, eleito este ano como melhor médico dos Estados Unidos da América (EUA), pesquisa há três décadas a função da vitamina D, substância que virou a queridinha da ciência e cujo consumo foi associado à proteção contra 12 doenças, entre elas diabetes e câncer .
Com base nas próprias descobertas científicas – que já constataram a deficiência de doses ideais deste hormônio em 80% da população mundial – Holick não tem dúvidas ao colocar a falta de exposição aos raios solares na mesma turma de outros conhecidos vilões da saúde, como fumo, sedentarismo e obesidade.
Isto porque o sol é um remédio natural e a principal fonte de vitamina D para o organismo humano.
“O estilo de vida predominante hoje faz com que as pessoas fiquem em ambientes fechados, não brinquem nas ruas e nem façam caminhadas ao ar livre, mesmo em áreas tropicais”, afirmou Holick – ele está no Brasil para participar do 17º Congresso Paulista de Obstetrícia e Ginecologia e para divulgar o seu novo livro “Vitamina D: Como um tratamento tão simples pode reverter doenças tão importantes” (Ed. Fundamento).
Além disso, há outra equação de difícil solução, diz Holick. O protetor solar, forma mais eficaz de prevenir o câncer de pele – que neste ano deve acumular 134 mil novos casos só no Brasil – “diminui em 90% a capacidade do organismo de absorver a vitamina D”.
Michael Holick, professor de medicina, fisiologia e nutrição da Universidade de Boston (EUA), além de autor de 400 artigos científicos e 11 livros acadêmicos sobre a vitamina D, orientou sobre como equilibrar proteção solar e a absorção da vitamina.
Defensor da suplementação artificial da substância, “já que via alimentação e exposição ao sol é muito difícil conseguir as doses ideais”, Holick falou que os obesos correm ainda mais risco de entrarem no grupo de carentes da substância.
“Quem está nos números da obesidade precisa 3 vezes mais de vitamina D do que magros”.
Filtro solar e vitamina D
Para o bom funcionamento do corpo, são necessárias, no mínimo, 400 UI (unidade internacional usada para a vitamina D) e já existem evidências que sugerem 1000 unidades da substância. Segundo Michael Holick tomando sol entre 10 e 15 minutos, já é possível conseguir 1500 unidades de vitamina D. Uma gema de ovo, por exemplo, tem 20 unidades e 100 gramas de salmão em conserva tem entre 100 e 250 unidades. O banho de sol, portanto, é a principal forma natural de conseguir a quantidade indicada.
“O problema é que o filtro solar fator 30 reduz em 90% a capacidade do organismo em absorver a vitamina D. Ninguém quer incentivar a exposição nociva ao sol e eu sou a favor da proteção. Mas também defendo que, em doses moderadas, o sol só faz bem.”
No novo livro, Holick compara os raios solares ao sal e à gordura. Diz que nenhum humano sobrevive sem os dois. Mas o exagero no consumo de ambos ameaça a saúde.
“Minha orientação é que as pessoas tomem ao menos 5 minutos de sol todo dia sem protetor solar. Depois desse tempo, se forem seguir sob o sol, devem passar o bloqueador no rosto para evitar danos dermatológicos. Os braços e pernas também podem ficar expostos aos raios solares, em caminhadas até o trabalho, até o restaurante na hora do almoço ou até em casa."
Quem vai à praia ou a piscina, orienta o especialista, também pode iniciar o banho de sol sem proteção por alguns minutos e depois recorrer ao filtro. Para as pessoas muito vulneráveis ao câncer de pele, brancas e de olhos claros principalmente, a sugestão é conversar com os médicos sobre a suplementação.
Versatilidade
As pesquisas sobre a vitamina D são publicadas em séries e há uma associação da substância à proteção para as mais variadas doenças: neurológicas (como o Alzheimer ), metabólicas ( diabetes e obesidade) e ósseas, como a osteoporose .
Michael Holick explica que a versatilidade da substância está no fato dela estar presente em todas as células e tecidos do corpo. Apesar do nome, a vitamina é produzida na pele, participa de vários processos fisiológicos, como digestão e respiração, e tem atuação no corpo semelhante à de um hormônio. Os estudos conduzidos por Holick identificaram que ela está associada à metabolização e funcionamento de 2 mil genes humanos. Por este motivo, a deficiência é tão comprometedora da saúde. Já um consumo ideal pode ser protetor das mais variadas doenças.
Obesos e a absorção da substância
Segundo Holick, há uma relação nociva entre obesidade e vitamina D. As gorduras em excesso acabam concentrando toda a quantidade da substância que chega ao corpo e impedem que ela seja disseminada no organismo.
“Por este motivo, nossos estudos mostram que os obesos precisam de 3 ou 5 vezes mais de vitamina D do que os magros para chegarem aos níveis considerados ideais”, explicou o médico.
Suplementação
Michael Holick é defensor da suplementação de vitamina D, desde que seja feita com orientação e de forma adequada. No novo livro, ele publica os estudos feitos em parceria com o FDA – órgão dos EUA responsável pela regulação de remédios e medicamentos –, que constataram informações equivocadas nos leites e cereais vendidos como se fossem fortificados com vitamina D.
“A maioria deles não tinha a dosagem divulgada na embalagem”, disse. “Eu defendo a suplementação, eu mesmo tomo dosagens extras de vitamina D (1000 unidades). Mas faço caminhadas, ando de bicicleta, como peixes e tomo sol”, diz o médico.