Paulo Coelho e o cara de Anadia

A vida tem seus mistérios, uma certa dose de dramas, sofrimento, angústias e muitas lágrimas. Mas é muito prazeroso contar as coisas boas que acontecem em nossas vidas, às vezes até despercebidas, sem darmos a importância devida e ao passar o tempo é que aprendemos o verdadeiro valor… Não sei escrever, falar ou comentar sobre tristeza. Por isso, narro mais uma das boas histórias da nossa apaixonante terra.
A nossa terra Anadia, sempre teve, desde seu nascedouro – Portugal; a poesia, a música, a boemia e as mais diversas manifestações culturais inseridas no contexto do seu cotidiano, no dia a dia.
Recentemente, vendo uma reportagem sobre um ídolo de todos nós, o Raul Seixas; o inspirado Paulo Coelho – bruxo do rock brasileiro -, falou abertamente e sem cerimônia que foi ele quem convidou e convenceu, um caipira, que acabava de chegar ao Sul do País, de terno e gravata e uma maleta na mão: E aí Raul não vai dar uma tapinha não?…Todos sabem como foi o restante dessa história e não é esse o motivo da citação do mago da escrita Paulo Coelho.
Em uma noite calma, com a lua sobre a Serra da Morena e uma temperatura agradável, escutei ao longe, uma canção do Roberto Carlos, a mais nova, outro enorme sucesso – Esse cara sou eu! Logo as lembranças da minha infância e adolescência se tornou presente, como se fosse ali naquele exato instante!
A chegada do final do ano sempre foi o cenário ideal para serem reproduzidas cenas as quais mais pareciam ser de um set de filmagem. Vejam se não tenho razão: É comum em uma cidade de interior, pessoas usarem seus trajes característicos, roupas coloridas, estampadas e floridas, com brilho e transparências traduzindo a alegria própria da época, de final do ano.
E era exatamente, como se o cenário hollywoodiano pertencesse aos anadienses, e mais garboso ainda – coisas de Anadia; brotava com facilidade, espontaneamente pessoas que davam vidas, forma e brilho, acrescentando as músicas o toque final para a produção do espetáculo.
Ao ar livre, os meus olhos gravaram lances inesquecíveis de boêmios em franca atuação, vale ressaltar que os escolhidos e aqui retratados, são apenas uma pequena fração dos que em nossa terra nasceram.
Tocava no alto falante do serviço de som da prefeitura, a música de Cartola “O Mundo é um moinho” onde a cidade inteira ouvia: ”De cada amor tu herdarás, só o cinismo, quando notares, estás à beira do abismo, abismo que cavastes, com teus pés…”.
Eis que surge, um moreno alto, cabelos pretos e lisos, olhos esverdeados, sorriso largo e muito falante, talvez tenha sido o mais bem sucedido na arte de conquistar, possuidor de um estilo implacável – Um devasso; no jogo da sedução, que em nada ficou devendo aos astros e estrelas do cinema. Dono do sonante nome – João Júlia Freire.
É, mas não era somente este o nosso cast. Naqueles áureos tempos também aparecia com frequência, na praça, nos bailes e festas, o Ápio Oliveira, que com seus dois metros e tanto de altura, magro, com roupas bem produzidas e um invariável sapato branco, chegava sempre acompanhado de seu charmoso carrão, um Dodge Chager.

Quando falo sobre as coisas de Anadia, tenho a exata noção de que seria interminável descrever o que invade o meu pensamento, e como em um livro, há páginas que não consigo apagar da memória. Claro que não sou o único a pensar assim. Reproduzir aqui os nomes de personagens e boêmios, seria um ato muito parecido com o discurso de político vazio, que não tem o que apresentar e se agarra em nomes para ser salvo.
Infalível não é a nossa pretensão, mas os nomes de Lucas Fidélis, Túlio Fonseca, Romeraldo Carlos, sempre lembrados por mim por sua boemia. Devo parar por aqui, para não ser vitima do que escrevi.Antes, porém, tenho que falar que ouvi de boêmios confissões impublicáveis, mas uma me chamou atenção e vou aqui reproduzir: “A mulher que amei, dei meu coração, ela quis mas: a minha alma”.
Volto à cena e como se fosse possível, retornar ao passado, escuto o barulho dos barcos do seu Zequinha, os trivolins do seu Pedrinho, um burburinho de gente. E os nomes de dois amigos, que assim como Paulo Coelho fez com Raul, me mostraram um jeito diferente de ser, falar e vestir apresentando uma forma nova de viver, em paz e amor; os dois caras foram: Raimundo Marques e Armando.
Tenho sérias dúvidas se Roberto Carlos, escreveria tão bela canção, se não tivesse se socorrido dos boêmios e caras da nossa terra. Falo isso com a maior certeza, pois, quantos de nós já não tivemos a nítida e envolvente ilusão de sermos e sentimos como “Esse cara sou eu”!
Tenho visto e acompanhado a busca e o desespero feminino em encontrar o tão raro cara. Vale a pena acrescentar e dizer às mulheres do mundo inteiro que: Em Anadia é mais fácil encontrar o personagem, que com maestria foi descrito pelo Rei Roberto Carlos e assim alcançou mais um tremendo sucesso. E uma boa dica são os que lá nasceram.

(*) Ex-secretário de Estado e filho de Anadia

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