da Agência Folha
Usando calça jeans e nenhuma camisa, um Jesus Cristo que exibe músculos bem definidos segura jornais e um prato vazio, com expressão de dor. Na mesma cena, pessoas usam máscaras por causa da gripe A e o líder nazista Adolf Hitler encara quem observa.
A imagem, representando a condenação de Cristo, adorna o interior da Igreja Nossa Senhora da Glória, em Carazinho (RS), desde o dia 23.
É parte de uma série de 15 telas que pretende representar as 14 estações da via-sacra, mostrando a condenação de Cristo até seu enterro, com a adição de uma 15ª estação que mostra a ressurreição. Três telas já estão nas paredes da igreja.
A artista plástica Ilse Ana Piva Paim, 53, moradora de Carazinho, produziu as telas por encomenda de alguns fiéis. Segundo Ilse, as imagens, que abordam a discriminação, o desemprego, a violência e até o desrespeito com os idosos no INSS, tentam aproximar Cristo dos problemas da comunidade.
"Não queria pintar a mesma coisa feita nos últimos 2.000 anos", afirma, ao descrever as telas "Ressurreição", que exibe Cristo ao lado de um índio e um negro num cenário de araucárias, e "Crucificação", que mostra Jesus carregando a cruz junto a uma arara.
Segundo o padre Ivo Barth, 66, pároco da igreja, a aceitação das imagens foi boa entre os fiéis. "Há ainda resistência entre os mais velhos, mas os jovens adoraram. Eles dizem que é um ‘Cristo da galera’", afirma. Seu superior, o bispo Ercílio Simon, 68, de Passo Fundo, diz que "é bom não ficar preso ao passado" ao representar Cristo.
A partir do domingo de Páscoa, a igreja vai ganhar a tela "Jesus encontra as mulheres de Jerusalém", a oitava estação da via-sacra. No entanto, segundo Ilse, Jerusalém não vai aparecer, e sim a cidade gaúcha.
