Pelo menos 70 alunos (24 mulheres e 46 homens) da Universidade de São Paulo (USP) detidos pela PM durante reintegração de posse do prédio da reitoria da instituição na Cidade Universitária, na Zona Oeste de São Paulo, haviam deixado o edifício por volta das 7h30 desta terça-feira (8).
Eles foram levados em três ônibus para a central de flagrantes do 91º DP (Ceasa), onde será registrado termo circunstanciado por danos ao patrimônio público. Por volta das 8h, os estudantes já estavam na delegacia.
A ação de reintegração, que começou no fim da madrugada, ocorreu após os estudantes definirem em assembleia na noite de segunda-feira (7) que não cumpririam uma decisão judicial para deixar a reitoria até as 23h. Os estudantes realizavam a ocupação desde quarta-feira (2).
Em vistoria no prédio, a PM informou ter encontrado sete garrafas de coquetel molotov em uma das salas.
Após a reintegração, alunos favoráveis ao movimento tentaram bloquear com mesas e cadeiras as entradas do prédio do curso de Letras da Universidade de São Paulo. Houve um princípio de tumulto com universitários que desejavam entrar para acompanhar as aulas. Após a confusão, a faculdade decidiu suspender as atividades nesta terça.
Depoimentos
Segundo o delegado titular do 91º DP, Luiz Cláudio Ferretti, inicialmente os estudantes serão autuados em flagrante por desobediência ao mandado judicial de reintegração de posse da reitoria e serão liberados. Como a ação dos manifestantes foi considerada de menor potencial ofensivo, caso sejam considerados culpados pela Justiça eles podem ser condenados a prestar serviços ou doar cestas básicas à comunidade.
No entanto, se a universidade registrar boletim de ocorrência de dano ao patrimônio, o que ela ainda não tinha ocorrido até as 9h desta terça, eles só serão liberados mediante pagamento de fiança. Ferretti informou ainda que, por conta do número de alunos, cinco serão ouvidos de cada vez.
Por volta das 7h30, oficiais de Justiça realizavam a certidão de entrega do imóvel para que o prédio seja oficialmente devolvido à USP. No horário, o Batalhão de Choque continuava posicionado em toda a Cidade Universitária, onde deve permanecer até que a desocupação seja concluída.
"A ação do Choque é até desocupar, a perícia chegar, ver quais foram os danos e terminar toda a operação. Aí continua o policiamento diário [no campus]”, informou a coronel Maria Yamamoto, porta-voz da PM. Cerca de 400 homens e 50 carros da corporação estavam no campus pouco antes das 7h. No horário, não havia sido registrado confronto entre estudantes e policiais. Os policiais usaram apenas escudos e cassetetes e não havia enfrentamento.
O que diz a defesa dos alunos
Felipe Gomes da Silva Vasconcelos, um dos advogados dos estudantes que ocuparam a reitoria, considerou “arbitrária” a ação da PM. Segundo ele, ocorreu “militarização e ocupação de toda a USP”. O advogado informou que soube que alguns estudantes que foram presos, na biblioteca e na faculdade de arquitetura da USP, antes mesmo da retirada dos demais manifestantes da reitoria.
Ele classifica os detidos como “presos políticos”, porque a ocupação teve caráter político e foi “uma manifestação que sempre se buscou o diálogo”. Vasconcelos declarou que vai estudar medida contra a retirada dos estudantes da reitoria. Ele afirmou que também pretende estudar uma possibilidade de fazer com que o campus não permaneça vigiado pela Polícia Militar.
A reintegração
A reintegração de posse começou no fim da madrugada. As equipes do 2º Batalhão de Polícia de Choque (BP Choque) deixaram o quartel da corporação, na região da Luz, Centro de São Paulo, por volta das 4h30 e chegaram 40 minutos depois à Cidade Universitária. Eles arrombaram portas do prédio da reitoria.
Um grupo de estudantes gritava palavras de ordem contra a presença da PM no campus e houve correria de manifestantes. A Polícia Militar usou dois helicópteros Águia para acompanhar a reintegração de posse.
A ação da PM ocorreu após os universitários decidirem em assembleia realizada na noite desta segunda-feira (7) manter a ocupação. A decisão de cerca de 350 alunos ocorreu por volta das 23h, horário em que expirou o prazo dado pela Justiça para a desocupação do edifício. A assembleia também rejeitou propostas levantadas durante reunião entre reitoria e integrantes do movimento, realizada na tarde desta segunda.
O diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), Magno de Carvalho, criticou a ação da PM. “A gente não imaginava que pudessem montar um aparato de guerra como esse. Nem na ditadura vimos isso. Eu acho que eles mexeram em uma casa de marimbondos. Isso aqui vai virar um inferno. É uma coisa absurda, uma força desproporcional para a quantidade de estudantes lá dentro”, disse.