O naturalista Charles Darwin jamais imaginaria que a evolução de uma espécie pudesse se dar de maneira invertida, sempre para pior. Já os brasileiros há tempos sabem que em se tratando de política, as legislaturas tendem a se superar indefinidamente no que diz respeito aos padrões éticos e à maneira como os parlamentares a praticam no dia-a-dia.
Com isso haverão de concordar os senadores petistas Aloizio Mercadante (SP) e Ideli Salvatti (SC), a aguerrida defensora do governo na Câmara Alta, que foi preterida na escolha para ocupar a importante Comissão de Infraestrutura do Senado, abocanhada pelo experiente (segundo o colega de partido e ministro das relações Institucionais, José Múcio Monteiro, do PTB de Pernambuco) senador Fernando Collor de Melo (PTB-AL). Com efeito, nenhum outro político da Nova República jamais passou pela experiência de sofrer um processo de impeachment- e Lula, mais sortudo e politicamente muitíssimo mais hábil, escapou por pouco de igual destino.
Mas, os tempos são outros e, como disse o presidente da República, naquela referência ao terrorista Cesare Battisti "Isso foi há muito tempo, ele hoje é outra pessoa", o Collor de hoje não é mais aquele que cometeu a torpeza, na campanha eleitoral de 1989, de comprar o depoimento da ex-namorada de seu oponente, no qual ela afirmou que ele a teria pressionado para abortar a filha (que, afinal, viria a nascer), acabando com suas chances de chegar à presidência.
A mágoa de Lula, no entanto, haverá de se ter dissolvido na sua ânsia por cada vez mais apoio, como se o tanto que até aqui angariou à custa de toneladas de cargos públicos e favores políticos não lhe fosse suficiente. Mas, dada a qualidade desses apoios, talvez não seja mesmo.
O Senado, agora, com José Sarney na sua presidência, Renan Calheiros politicamente reabilitado, e Fernando Collor de Melo na presidência da Comissão de Infraestrutura, tornou-se insuperável. Evoluiu sob o ponto de vista darwiniano da adaptação – no caso, aos costumes-, e vale lembrar ninguém se amoldou melhor ao mercantilismo na política do que Luiz Inácio da Silva.
E na selva do Congresso Nacional, onde as figuras mais frondosas são as melhor versadas na arte de aplicar rasteiras aos adversários, Mercadante e Ideli acabaram provando o próprio veneno.
Desapontados, mas não indignados o bastante para reclamar em voz alta do lavar de mãos presidencial, os petistas a cada dia conhecem melhor o ex-metalúrgico que sempre carregou e ampliou o prestígio do partido, do qual soube dissociar sua figura sempre que escândalos bateram à porta da agremiação.
Hoje em dia, Lula raramente pronuncia o nome do Partido dos Trabalhadores. Ele se tornou uma griffe política, adepto somente de si mesmo.
Dizer isto pode soar a heresia, mas lá vai: Com 84%, por enquanto, de popularidade, Luiz Inácio da Silva é um solitário autorreferido, como todos os que buscam, sempre em vão, a aprovação geral a qualquer custo.