SÃO PAULO – A data era novembro de 1992 e os italianos do Milano foram os campeões do Mundial de Clubes. Dezessete anos depois, o torneio está de volta, e um time brasileiro busca o seu primeiro título. A Cimed será a representante nacional na competição que começa no dia 3 de novembro em Doha, no Catar. Apesar do tricampeonato nacional, a equipe catarinense não se considera favorita para o Mundial.
“Nós não somos os favoritos. E não tenho medo de falar quando o nosso time é o favorito. Mas as outras equipes têm muito mais investimento e reúnem jogadores do mundo inteiro”, disse o levantador da Cimed e da seleção brasileira Bruninho. “Itália e Rússia são os mais fortes. A Polônia também está muito bem, com um time que é a base da seleção e ainda tem Falasca, levantador espanhol, e Antiga, ótimo jogador francês”, analisou Bruninho. “Mas nós vamos jogar sem medo de ser feliz”, brincou o jogador.
O levantador da Cimed está falando do italiano Trentino, do russo Zenit Kazan e o polonês PGE Skra Belchatow. O Trentino conta com os brasileiros Leandro Vissotto e Rafinha, além do atacante búlgaro Kaziyski. Já o Zenit Kazan é comandando por norte-americanos que deram trabalho e venceram o Brasil na final da Olimpíada de Pequim. “Tem tanto jogador, eles tinham que ter logo o Ball (levantador) e o Stanley (atacante)”, brincou Marcos Pacheco, técnico da Cimed. “O resto dos times nós vamos conhecer lá. Sabemos quem são os jogadores apenas pela escalação das equipes no site da Federação Internacional”, afirmou Pacheco.
Para Thiago Alves, é uma vantagem não entrar como principal candidato ao ouro. “Aqui no Brasil a Cimed vai jogar contra Pinheiros, Sesi ou Minas e vai ser a favorita pelo histórico de títulos. No Mundial vai ser diferente. Estamos na briga sim, mas sem peso do favoritismo e podemos jogar mais soltos”, comentou o ponteiro.
Entretanto, a Cimed tem uma vantagem sobre os rivais: tempo de treinar na nova regra. A “Golden Formula” será testada pela primeira vez no Mundial de Clubes e estabelece que o primeiro ataque de cada equipe só pode ser feito depois da linha dos três, ou seja, do fundo da quadra. A regra foi criada para deixar mais tempo a bola no ar, no chamados ralis.
“A gente nem falava dessa regra durante o Sul-Americano (torneio que deu vaga à Cimed para o Mundial), mas depois tivemos duas semanas e meia livres para os treinos enquanto os outros times ainda estão disputando os campeonatos nacionais”, ressaltou o técnico Marcos Pacheco.
E no começo, não foi simples aprender a jogar de acordo com a nova regra. “A gente errava demais e perdia a paciência”, conta Thiago Alves. “Estamos bem treinados e bem adaptados. E a equipe está 100% fisicamente. No começo estava bem pessimista. Agora conseguimos um padrão, e as jogadas já saem com mais naturalidade”, garante Bruninho. “Só que o jogo vai ficar mais lento e previsível. E com certeza será um jogo de bloqueio”, completou.
Mesmo com a rápida adaptação, ninguém gostou da regra na Cimed. Segundo Pacheco, o vôlei já estava muito bom e não precisava de mais nenhuma adaptação. E os jogadores fizeram coro dizendo que esperam que esse seja o primeiro e o último torneio jogado dessa maneira. “É ruim dizer o que podemos ou não fazer dentro da quadra. Ficou muito ruim para o meio-de-rede”, disse o central Éder, que agora não poderá mais receber a primeira bola na frente da linha dos três. “O Brasil sempre teve o diferencial de jogar com o meio muito forte e essa é inclusive a bola de segurança da Cimed. Agora os atacantes de potência e força serão privilegiados. Os italianos e os russos, que já são especialistas nisso, nem precisam se preocupar, mas a gente sim”, falou Bruninho, referindo ao estilo de jogo dos europeus, que já é baseado em bolas altas e potentes.
Já Thiago Alves não tem tanta certeza de que os europeus se destacarão com a “Golden Formula”. “Não sei se os times mais fortes vão se sobressair ou se vai prevalecer mais o volume de jogo. Kaziyski e Stanley são uns animais e levam vantagem na força, mas podemos jogar mais na manha, explorando o bloqueio, que agora vai chegar a todas as jogadas pelo menos no duplo”, explicou o atacante.
Os jogadores também apostam que o público não irá aprovar a mudança na maneira de jogar. “O jogo vai ficar muito mais chato para o espectador”, afirmou o central Lucão. “Vai perder a graça porque não teremos mais a bola cravada do meio-de-rede”, disse o líbero Mario Jr.
O Mundial de Clubes começa nesta terça-feira. No grupo B, a equipe catarinense enfrentará PGE Skra Belchatow (Polônia), Payakan (Irã) e Al-Arabi (Qatar) na primeira fase. Trentino Betclic (Itália), Zenit Kazan (Rússia), Corozal (Porto Rico), Zamalek (Egito) formam a chave A.