mãe da garota Isabella, Ana Carolina de Oliveira, descreve no Fantástico deste domingo (11) como era sua relação com o pai e a madrasta da menina, Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá.
Ela narra com detalhes o momento em que encontrou a filha caída no jardim do edifício, suas últimas palavras para a menina e dá sua opinião sobre a pisão do casal, ocorrida nesta quarta-feira (7). Veja abaixo as perguntas e as respostas:
Fantástico – Mais de um mês depois da morte da Isabella, como é que você está se sentindo hoje?
Ana Carolina Oliveira – Eu ando muito angustiada. Meus dias têm sido muito angustiantes. Acho que só Deus sabe de onde eu tenho tirado forças para conseguir continuar minha vida
Qual foi o momento mais difícil até agora para você?
O momento mais difícil foi depois desse mês, quando eu voltei a trabalhar. A minha volta do trabalho é muito difícil porque eu sei que eu vou chegar em casa e ela não vai estar. [Também são difíceis] as horas que eu vou dormir e as horas em que eu rezo para Deus realmente me dar força, para eu continuar, porque está sendo uma situação muito difícil para mim.
O que você lembra? Tem alguns momentos em que você pára para pensar na Isabella?
A hora mais difícil realmente é o momento de voltar para casa. Era a hora que a gente tinha de brincar, de eu ajudar a fazer lição. E sempre que ela ia dormir, porque nós dormíamos juntas. Tinha dia que ela pedia para dormir comigo, que a gente dormia com a perna entrelaçada. Ela me pedia toda noite para contar uma historinha diferente. São essas as horas mais difíceis para mim.
Que boas lembranças você guarda dela?
Ela era uma criança maravilhosa, que me ensinou muito. Como pessoa, como mulher e principalmente como mãe. A sabedoria de ser mãe, porque ela me ensinou muito.
Eu vi que, quando você entrou, trouxe uma girafinha
Nós tínhamos três ursinhos, um azul, que foi um ursinho que eu estava no dia do enterro, esse, que ela ganhou, e uma Magali. Cada noite que a gente ia dormir ela falava: mamãe, hoje você quer dormir com qual? Cada noite a gente fazia um revezamento e escolhia quem ia dormir com qual bichinho. Esse daqui é um que traz uma lembrança muito grande para mim.
Ana, demorou um pouco para cair a ficha?
Demorou. Na primeira semana eu ainda estava com a sensação de que foi uma semana que ela foi passar férias, uma semana que ela esteve lá [na casa do pai] e que eu tinha esperança de que ela fosse voltar, ia chegar o domingo.
Ter se afastado, ter ficado quieta. Foi uma decisão sua, pensada?
Não. Foi a maneira que eu escolhi até obter um entendimento do que tinha acontecido. Eu também não sabia de toda a situação, de toda a história, como a população. Foi a maneira que eu escolhi para também não falar sem saber.
Você tem sido muito forte desde que tudo isso aconteceu. Mas isso foi confundido como frieza. Você ouviu comentários das pessoas?
Eu escutei muitos comentários desse tipo, mas acontece o seguinte: eu não consigo chegar aqui ou em qualquer lugar e simplesmente chorar. Nas minhas orações, à noite, a única coisa que eu realmente peço a Deus é sabedoria para poder lidar com o caso, com a situação, com a falta dela e força para continuar.
Você é espírita?
Eu acredito muito e tenho buscado força também no espiritismo. Muitas vezes soa falsidade. Não é porque eu choro ou que qualquer outra pessoa chore que seja sinceridade.
No sábado em que tudo aconteceu, onde você estava quando você recebeu a ligação? Quem ligou para você? O que ela disse para você?
Eu tinha ido a um churrasco de uns amigos. Estava voltando de lá e estava indo para casa de uma outra amiga minha. Estava entrando na casa dela, que é bem próxima ao apartamento, porque ali no bairro, pelo que todas as pessoas perceberam, a minha casa, a casa dos pais dele, a delegacia e o [local do] fato são locais bem próximos. Eu cheguei com muita rapidez ao local porque eu estava próxima.
Quem ligou para você?
A Anna Carolina.
O que ela falou para você?
Ela gritava muito, ela gritava muito. Poucas coisas que ela falava eu entendia. Eu entendi que jogaram ela. Teve alguma hora que, pela gritaria, pelo nervosismo que eu fiquei na hora, eu entendi que ela tinha caído na piscina. Eu gritava para ela, eu falava: faz respiração boca a boca, vê o que você pode fazer. Vocês já chamaram o Resgate?
Dá para descrever desde o momento em que você recebeu essa ligação até chegar ao edifício em que tudo aconteceu, no Edifício London?
Eu recebi a ligação, [fiz] esse trajeto que eu te falei, e ela estava ali na rua. A Anna Carolina estava ali na rua, e quando eu estava chegando ela acenou ainda. Eu abri a porta e desci do carro, com o carro andando, estava meio devagar, mas o carro estava andando. Entrei correndo pelas escadas e ela [Isabella] estava logo ali no chão.
Quando você chegou lá, a Isabella ainda estava viva? Ela ainda respirava?
Ela respirava. O coração dela batia e ela estava no chão. Eu ajoelhei na frente dela, coloquei a mão no peito dela e falei “filha, fica calma, mamãe está aqui. Vai dar tudo certo”. A minha vontade, quando eu cheguei, era de pegá-la e levá-la, de tirar ela dali e levar para socorrer ela. Só que eu não conseguia mensurar a altura que ela tinha caído.
Você não sabia que era do sexto andar?
Eu sabia que era do sexto andar, mas eu não conseguia olhar para cima, para ver. Então, a minha preocupação foi com ela, eu estava muito centrada em ter ela ali, fosse com problema, com qualquer problema, com qualquer seqüela, mas eu queria minha filha viva. Uma coisa, ela estava com a cabecinha de lado. Então eu falei, será que deve ter prejudicado ela? Como estava viva, a minha maior esperança era ela continuar viva. Eu pensei que se eu tirasse ela dali, eu pudesse mexer alguma partezinha do corpo dela que fosse, que eu pudesse prejudicá-la, entendeu?
O que você sentiu naquele momento, vendo ela ali?
Uma dor muito grande de eu não poder ter defendido, de eu não poder estar ali com ela naquele momento.
O que o pai e a madrasta falaram para você naquela hora?
Eles não me falaram nada. Eles nem conversaram comigo. O Alexandre estava próximo e ficou próximo dela. Ele ia para todos os lados e falava para a polícia: sobe, sobe. Ele deu muita ênfase para a polícia invadir o prédio, que tinha alguém lá e ela gritava muito. Ela gritava, gritava. E eu não consegui ter o foco das pessoas que estavam ali. Eu só conseguia pensar e olhar para ela. Tanto que, por duas vezes, ela ainda suspirou. Talvez fosse a hora que ela teve uma parada cardiorrespiratória. E eu estava ali, focada nela, porque o resto não me interessava, eles não me interessavam.
Ela morreu a caminho do hospital ou no hospital?
Olha, eu não sei dar essa informação precisa para você, mas eu creio que ela tenha falecido a caminho do hospital.
A sua mãe estava no hospital com você, deu tempo de a sua mãe chegar ao hospital?
A minha mãe chegou no edifício ainda. Eu estava dentro da ambulância, a minha mãe entrou na ambulância, porque ela não sabia direito o que tinha acontecido. Ela sabia apenas que ela tinha caído do prédio, mas não sabia também o que tinha acontecido. Nós fomos, a minha mãe teve que sair da ambulância, porque não dava para ir lá, mas a minha família toda seguiu para o hospital.
Naquele momento, no hospital, você imaginava que a Isabella tivesse sido vítima de esganadura, o que você achava, o que passou pela sua cabeça naquela hora?
Quando eu a vi no chão, ela estava com a mãozinha roxa, com os lábios roxos. Eu olhei aquilo, achei até que fosse por causa do frio. Tanto que, a gente chegou ao hospital, pouco tempo depois a médica veio nos dar a notícia e nós entramos no quarto. Um momento assim, que a minha mãe ficou o tempo todo. Eu entrei algumas vezes e saí porque eu também, era uma coisa assim muito dolorosa para mim ver minha filha, que a minha filha dali não ia voltar. E ela estava com a língua para fora, com a lingüinha para fora, e eu não sabia o por quê. Achei, você não pensa. Eu não pensei na hora na conseqüência. A minha mãe ainda cuidou dela toda. Minha mãe colocou a língua dela para dentro. A minha mãe cuidou dela o tempo todo, beijou, beijou. Eu também, quando entrei no quarto, eu abracei ela muito forte, eu dei muito beijo nela, muito beijo e falei “filha, a mamãe vai deixar você ir em paz e a mamãe vai ficar aqui para lutar por você”.
No enterro, o que o pai fez? Ele falou com você?
Ele não fala comigo em momento algum. O velório correu a noite toda. Eu acabei cochilando um pouco porque eu também estava muito cansada, que no outro dia eu fiquei acordada a madrugada toda. Eu cochilei no sofá do velório e eu não os vi chegar. Quando eu acordei, fui lá para o caixão e eles já estavam lá. Ele também estava cochilando e ele não olhou para mim, não veio falar comigo.
Nem uma palavra?
Nem uma palavra, nem um olhar.
E a madrasta?
Ela me viu chegar, ela levantou, me deu um abraço. Indiferente, olhou para mim e falou: “você nem ligou para ela no sábado”.
E você?
Achei aquilo de uma frieza e eu não perdi o meu tempo respondendo. Eu saí, fui ficar perto da minha filha. No sábado, eu tentei ligar, deu caixa postal, mas era uma coisa assim. No domingo logo de manhã a gente se falava, no domingo, ela estava de volta.
Quando foi a última vez que você falou com a Isabella?
A última vez que eu falei com ela foi na sexta-feira, por volta de umas 18h, quando eu saí do meu trabalho e ela já tinha ido para a casa do pai. Eu liguei para saber como ela estava e ela atendeu super feliz, com uma voz alegre. Conversamos e eu fiz a pergunta se ela estava feliz. Ela falou que estava muito feliz. No sábado, eu tentei ligar, deu caixa postal, mas era uma coisa assim. No domingo, logo de manhã a gente se falava, no domingo, ela estava de volta.