Os remédios contra a Aids, como em qualquer tipo de remédio de uso humano na verdade, a fase 3 é o estágio de prova que abre as portas para a comercialização, explica de seu escritório em Houston, e depois de um rápido almoço, o médico argentino Roberto Arduino, 48, radicado nos Estados Unidos há quase 20 anos. Junto com uma equipe de cientistas da Universidade do Texas, Arduino participou da fase final das pesquisas de um novo medicamento de combate ao retrovírus, o Maraviroc, que impede a entrada do HIV nas células de pacientes já infectados com o vírus.
O Maraviroc, conta Arduino, não é um remédio para qualquer paciente de Aids. No entanto, abre uma nova porta de esperança aos doentes para os quais a bateria de remédios de combate ao retrovírus mais difundidos não tenha dado bons resultados. "Esta droga está aprovada pura e exclusivamente para pessoas que estiveram expostas previamente aos remédios de combate ao retrovírus mais frequentemente utilizados – como os inibidores da transcriptase reversa e os inibidores da protease -, que tenham adquirido resistência a esses medicamentos e que tenham falhado pelo menos duas vezes em tratamentos prévios", explica o médico. "Mas tampouco funciona para todos. Tem como foco específico aqueles pacientes que estão infectados com um vírus que utiliza o co-receptor CCR5", a porta de entrada do vírus na célula.
Normalmente, os tratamentos contra o HIV são baseados na ação de três drogas conjuntas. E supõe-se que, se o paciente nunca teve acesso a estas drogas, seu corpo não será imune a elas. "Mas o que acontece é que uma pessoa começa o tratamento e o remédio falha", detalha o investigador. "Isso pode ser por muitas razões, e uma delas é porque o vírus tenha adquirido mutações que lhe conferem resistência às drogas. É quanto a isso que o Maraviroc serve – para construir um novo regime que idealmente tenha três drogas ativas, ou que pelo menos tenha duas drogas ativas que conservem atividade dentro do novo regime".
A idéia por trás do desenvolvimento deste novo remédio de combate ao retrovírus é a de ter uma droga que, a partir de um mecanismo de ação distinto, continue sendo efetiva na hora de tratar pacientes com vírus que passaram por mutações e resistentes tanto aos coquetéis como aos medicamentos da família do AZT.
Segundo Arduino, os estudos clínicos realizados com o Maraviroc – dentre os quais, diversos foram desenvolvidos na América do Sul – deram resultados surpreendentes. Em um grupo de mais de mil pacientes, dos quais 800 foram tratados com o medicamento ativo e 200 com placebos, depois de 24 semanas de uso do medicamento, quase a metade dos infectados tinham níveis de vírus não detectáveis em seus organismos. "Uma carga viral menor que 50 cópias não é detectável para nós", explica Arduino. "E o dobro de pacientes que usaram o Maraviroc chegaram a esses números comparados com os que receberam o placebo".
Os estudos sobre esta nova droga, depois de 48 semanas de tratamento, também mostraram que a carga viral se manteve não detectável na mesma quantidade de pacientes. "Isso é o que nos preocupa em drogas novas: a durabilidade ao longo do tempo", detalha o pesquisador. A durabilidade também esteve acompanhada de um aumento de células imunes, linfócitos do tipo CD4. "Isso quer dizer que a droga, além do mais, contribuiu para a restauração do sistema imunológico".
Uma das características do tratamento com Maraviroc é que, quando se reduz a carga viral, o risco de contágio também se reduz, e isso se aplica também à transmissão de mãe para filho durante a gestação. "Conseguir que uma pessoa tenha nível não detectável de presença de vírus, que não tenha vírus circulantes em volume detectável ou abaixo dos limites da pessoa naquela momento, implica em que essa pessoa tenha menos risco de contagiar", conclui Arduino.
Do Portal Terra