Rio – Dados do Banco Central apontam que 80 milhões de brasileiros estão endividados. É quase metade da população do País. Só em bancos, os débitos somam a fortuna de R$ 442 bilhões. Nada menos que 15,5 milhões de pessoas têm contas pendentes acima de R$ 5 mil.
Na avaliação de economistas, o aumento da inadimplência é uma tendência para os próximos meses. Eles mencionam a explosiva combinação de juros e inflação em alta, com crédito fácil, o que pode levar as dívidas a se transformarem numa verdadeira bola-de-neve.
Assessor econômico da Serasa, Carlos Henrique de Almeida lembra que a elevação dos juros encarece os novos financiamentos e a inflação maior reduz a renda do trabalhador, obrigado a pagar mais por alimentos e aluguel: “Por isso, a perspectiva é de alta na inadimplência”.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, disse que ainda é cedo para afirmar se o aumento do calote no crédito à pessoa física é uma constante, porque as altas foram muito pequenas e ocorreram em apenas dois meses: “Ainda é preciso observar se isso é uma tendência, mas começa a apresentar uma pequena elevação”. Para Lopes, o movimento “não preocupa”, embora ressalte que é necessário que o assunto seja acompanhado de perto pelo BC e pelo sistema financeiro.
Juros do especial no maior nível desde 2003
Pesquisa do Banco Central mostra que a taxa média dos juros bancários subiu de 37,4% em abril para 37,6% ao ano em maio, patamar mais elevado desde abril de 2007 (38,1% ao ano). O principal impulso veio das linhas de crédito para pessoas jurídicas, cuja taxa média passou de 26,3% para 26,9%.
Nas operações para pessoas físicas, apesar da leve queda da taxa média (de 47,7% para 47,4%), os juros do cheque especial tiveram a maior variação mensal dentre as modalidades de crédito, avançando 4,4 pontos, para 157,1% ao ano — o nível mais alto registrado desde 2003 (163,9%).
Segundo o BC, os juros das operações de crédito para pessoa física caíram devido ao fim da Tarifa de Abertura de Crédito (TAC).
Volume total de crédito vai a R$ 1,044 trilhão
O volume total de crédito no sistema financeiro chegou a R$ 1,044 trilhão em maio, alta de 2,6%. O valor corresponde a 36,5% do Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto de riquezas geradas pelo País). É o maior desde janeiro de 1995, quando estava em 36,8% do PIB.
Na avaliação do Banco Central, no entanto, o mercado de crédito para pessoa física dá sinais de desaceleração. Segundo Altamir Lopes, os números mostram que as famílias continuam tomando empréstimos, mas em ritmo menor que há alguns meses. Para ele, o aumento da taxa básica de juros (Selic) e as medidas adotadas pelo governo vêm desestimulando os novos financiamentos.