O delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz disse a interlocutores que a fita divulgada nesta quinta-feira (17) pela direção geral da PF foi uma "adulteração" do conteúdo.
Na reunião, ocorrida na última segunda-feira na Superintendência da PF, em São Paulo, foi definida a saída de Queiroz e de outros dois delegados –Karina Murakami Souza e Carlos Eduardo Pelegrini Magro- do comando da Operação Satiagraha.
O delegado relatou aos interlocutores que a direção da PF promoveu o afastamento dos delegados e "filtrou" as informações para "induzir a erro" o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Cobrado por colegas da PF sobre a fala de Lula que o citou como "sujeito" que deveria dar "explicações", o delegado respondeu que planeja fazer uma declaração pública hoje à imprensa, na sede da Superintendência de São Paulo.
O delegado e o procurador da República que atua no caso, Rodrigo De Grandis, requisitaram uma cópia da fita à PF, mas não foram atendidos. A Comissão de Defesa Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara decidiu requisitar a íntegra do áudio, segundo informações do blog do Josias.
Conflito na PF
Segundo reportagem da Folha publicada ontem, Protógenes foi "convidado" pela direção geral da PF a se afastar das investigações por causa de supostos excessos cometidos durante a operação.
A Folha Online apurou que a idéia de divulgar a gravação foi apresentada a Lula na reunião desta quinta-feira com o ministro da Justiça e o diretor-geral em exercício da PF, Romero Menezes. A idéia era usar a gravação para mostrar que Protógenes saiu da investigação por decisão própria e acabar com as insinuações de que houve pressão para ele se afastar.
Oficialmente, a justificativa para a necessidade de haver uma seleção dos trechos é porque a reunião, realizada na Polícia Federal, durou cerca de três horas e tratou de uma série de temas –inclusive alguns considerados sigilosos pelo governo.
Porém, os trechos que interessam para divulgação são os que dizem respeito diretamente ao fato de Protógenes dar a entender que quer deixar as investigações e que pretende fazer um curso de reciclagem na academia de polícia.
Ontem, a PF convidou os delegados Karina Murakami e Carlos Eduardo Magro a retomarem as investigações da Operação Satiagraha.
Operação Satiagraha
Comandada por Protógenes, a operação foi criticada pelo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Gilmar Mendes, pelo fato de a prisão dos investigados, surpreendidos em suas casas na madrugada do último dia 8, ter sido mostrada na TV.
Mendes classificou a ação da PF de "espetacularização" também pelo uso de algemas nos presos.
Na operação, foram presos o banqueiro Daniel Dantas, o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, o investidor Naji Nahas e mais 14 pessoas, investigados pela suposta prática dos crimes em operações financeiras.
O Ministério Público Federal acusa o grupo do banqueiro Daniel Dantas de ter movimentado, entre 1992 e 2004, quase US$ 2 bilhões por meio do Opportunity Fund, uma offshore no paraíso fiscal das Ilhas Cayman, no Caribe. Dantas foi preso no Rio, juntamente com sua mulher –tida como "laranja" do marido–, a irmã dele e o cunhado.