A TARDE
Já passa de 48 horas a duração do crime de cárcere privado perpetrado pelo desempregado Genivaldo Pereira dos Santos Júnior, 20 anos, conhecido como Saulo, que mantém a companheira Driele Pitanga Santos, 18 – grávida de oito meses –, presa em casa e sob ameaça desde a noite de quarta-feira, 23, no bairro do Pau da Lima.
Apesar de ela estar sem poder se comunicar com parentes e amigos desde a noite de quarta, a polícia só foi acionada na manhã desta sexta, depois que vizinhos escutaram uma briga em que a jovem estaria sendo agredida e Genivaldo teria destruído objetos no interior da residência.
Cerca de 60 policiais civis e militares estão no prédio e em torno dele desde o meio-dia desta sexta, trechos da rua foram isolados, a própria via já passou por interdições completas, centenas de pessoas não arredam pé das imediações e todos os ônibus que deveriam parar no fim de linha do bairro foram desviados para retorno no Largo de Pau da Lima, causando transtorno a milhares de moradores e comerciantes.
Até o fechamento desta matéria, Genivaldo não havia feito nenhuma exigência à polícia. Exigiu, sim, da jovem que ela não rompesse o relacionamento amoroso, que já durava cerca de um ano, dez meses morando juntos.
A DENÚNCIA – O caso se tornou público por volta das 11h desta sexta, quando a polícia foi chamada pelo telefone 190 (Central de Polícia). “Teve uma briga na quarta, eles não saíram de casa no dia seguinte, mas hoje [sexta], brigaram feio e ele quebrou coisas, então alguém resolveu chamar a polícia”, relatou Ronaldo de Jesus Bispo, 28 anos, vendedor de beijus e vizinho de porta no sobrado 222 da Rua Artur Gonzales, transversal da principal do bairro.
Segundo vizinhos e conhecidos do casal, Genivaldo está desempregado há cerca de três meses, depois que foi demitido da serralheria do pai e patrão dele. Ela, que fazia serviços de manicure em um salão do bairro, teve de parar por causa da proximidade do parto e teria decidido retornar para ter o filho na casa dos pais, no bairro de Pirajá; tanto pelas dificuldades financeiras que atravessam, quanto pelo desgaste da união, que já passava por brigas constantes.
CRISE – Inicialmente, o comandante da companhia militar da área, major Gilson Seixas, e o delegado titular do bairro (da 10ª CP), Pedro Andrade, tentaram convencer Genivaldo a soltar a jovem, depois chegou o capitão Cledson, gerenciador de crises do Batalhão de Choque (BC), que assumiu a negociação.
O major, então, localizou as mães dos jovens, a pedido de Genivaldo. “A informação inicial é que ele mantinha uma faca no pescoço da jovem, mas ele se acalmou com a chegada da mãe e da sogra. Só não sabemos se tem ou não algum outro tipo de arma”, disse o major Seixas no fim da tarde.
A determinação era negociar, continuou Seixas: “É nossa estratégia. Sabemos que a decisão final é dele, por isso precisamos mantê-lo sempre tranqüilo e conquistar sua confiança”, disse o oficial. Ele informou que a jovem garantiu estar alimentada e passar bem. “Felizmente, ele não aparenta agressividade. Os contatos são feitos pelo negociador, à viva-voz (através da porta) ou pelo celular que passamos para o Genivaldo”, acrescentou o oficial.