Concursos exigem nova grafia

Fonte: Jornal do Commercio (Pernambuco)

As comissões responsáveis pelas aplicações de provas em concursos públicos vão começar a lançar editais, a partir de 2009, nos quais serão pedidas – nas provas de língua portuguesa – conhecimentos relativos à reforma ortográfica, que passa a valer no dia 1º de janeiro. Por isso, os concurseiros e vestibulandos devem se preparar para as novas regras de acentuação de palavras e, principalmente de hifenização, que promete infernizar a vida de quem estuda. A mudança, no entanto, não deve ser encarada como bicho de sete cabeças, pois haverá um tempo de transição, com as duas ortografias valendo até 2012 (a nova e a atual). Além disso, lembra o professor de português para concursos Edvaldo Ferreira, “as questões de ortografia representam, geralmente, 10% da prova de língua portuguesa” nas seleções públicas.

“As melhores instituições como Esaf, FCC, Upenet e Covest pedem, no máximo, dois problemas sobre ortografia nas provas de português, que vão de 15 a 20 questões. O assunto ortografia não compromete a aprovação de um candidato, mas poderá prejudicá-lo na redação, que tem um peso de 1/3 no conceito total”, explica Ferreira. O alívio é o período de adaptação, pois os dois tipos de grafia, a nova e a atual, terão de ser aceitas pelas comissões até 2012.

“Como o prazo termina, o candidato deve já tentar utilizar a nova regra para fixar e, é por isso que estamos focando o assunto nas aulas”, salientou. Em termos de língua portuguesa, o aluno tem de priorizar seus estudos na estrutura sintática das orações. “Este é o grande obstáculo para aprovação e, quem estuda por dois anos, fica em condições de resolver os problemas propostos. As provas se utilizam de termos deslocados, pontuação e advérbios, que mudam o sentido da frase”, alerta Ferreira.

Todos os editais lançados recentemente, mesmo aqueles em que as provas serão realizadas a partir de janeiro, não trazem em exigências de conhecimento sobre a nova forma de grafia das palavras. Mas a expectativa é que passem a fazer, principalmente por ser um assunto novo. Quem estuda, reclama. “Meus professores já tocam no assunto, mas não gostei da mudança. Acho inconveniente, pois tudo isso vai gerar mais confusão na hora de fazer a prova”, avaliou a estudante Érika Soares, que vai prestar vestibular para Direito.

HÍFEN

A mudança ainda não ocorreu, mas os professores já elegeram o vilão da reforma: as novas regras de hífen das palavras compostas. “O uso do hífen era ruim e vai continuar péssimo”, classifica a professora de pós-graduação em Letras da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Nelly Carvalho. “O inglês tirou completamente o emprego do hífen em suas palavras. O sinal não é lingüística, não se fala. É figura gráfica”, diz a professora.

“Será que os professores terão o mau gosto para pedir isso (novas regras de hífen) na prova?”, questiona. Nelly defende uma simplificação ainda maior nas regras ortográficas. “No caso dos ditongos abertos (ei, oi), caiu a acentuação, mas ficou mantido em algumas palavras. Se caiu para umas, deveria ter caído para todas”, disse. Um exemplo é a palavra bóia, que passará a ser grafada boia, enquanto herói continuará sendo escrito da mesma forma. A diferença, pela nova regra, é que herói é um ditongo aberto de palavra oxítona e monossilábica, a exemplo de constrói, dói e papéis. Vale salientar que os ditongos abertos em “eu” também continuam acentuados: chapéu, véu, céu…

Nelly Carvalho comenta que a reforma só não foi maior por causa do conservadorismo de Portugal. “Naturalmente eles são mais conservadores e refratários a neologismos, diferente do Brasil que possui uma sociedade de emigrantes”, comparou. O impacto da reforma, inclusive, será maior lá, pois no Brasil apenas 0,6% dos termos serão atingidos pela mudança, enquanto que em Portugal o índice sobe para 1,7%. Os portugueses, por exemplo, terão de reaprender a escrever palavras sem o “c” mudo, banido há décadas do português escrito no Brasil, a exemplo de nocturno. “Por outro lado, eles já haviam deixado de usar o trema desde 1943 e a pronúncia de palavras como agüentar não foi alterada”, disse Nelly Carvalho, acrescentando que palavras como assembléia, platéia e idéia, que perderão o acento agudo, poderão ter sua pronúncia modificada pelas próximas gerações: assembleia, plateia e ideia.

Veja Mais

Deixe um comentário