Renan busca tempo para costurar apoios no Senado

A manobra protelatória adotada na quinta-feira, 12, pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi executada com o objetivo de ganhar tempo para dois usos específicos. Primeiro, o senador pretende decidir com seus advogados se vale a pena entrar com alguma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para diminuir ainda mais o ritmo das apurações.

A segunda necessidade de Renan é a de marcar conversas reservadas com a maioria dos senadores. O político do PMDB de Alagoas acredita que seu caso terminará numa votação secreta em plenário. Nessa hipótese, é necessário dedicar muito tempo em particular com os integrantes do colégio decisório para ter certeza de uma eventual absolvição no escrutínio secreto.

A Folha apurou que Renan considera perdida sua batalha no Conselho de Ética, com a mídia e com a opinião pública. Enxerga como uma única saída possível o anonimato confortável de seus apoiadores no voto secreto, em plenário.

Ganhar tempo

Por essa razão o tempo continua sendo, no entender do alagoano, o seu aliado viável neste momento. O presidente do Senado contabiliza no seu cálculo o desgaste por decisões como as de quinta – ao postergar para terça-feira uma reunião da Mesa Diretora da Casa.

Renan considera a relação custo-benefício favorável para ele na manobra. O desgaste pela protelação deteriora sua imagem, mas um encaminhamento rápido do seu processo ao plenário resultaria apenas em uma condenação certa.

Por isso cada semana de atraso no processo é uma semana a mais para o político alagoano sentar na cadeira de comando do Senado e fazer política.

Opções

Até terça-feira Renan continuará a conversar com seus colegas senadores de maneira individual. Mas ele também estudará três opções estratégicas nos próximos dias:

1) esvaziar o quórum da reunião da Mesa Diretora. Para haver reunião é necessário que estejam presentes pelo menos quatro dos sete integrantes dessa instância;

2) recorrer ao Supremo Tribunal Federal para impedir a Mesa Diretora do Senado de requerer à Polícia Federal a perícia na documentação contábil das operações comerciais de seu rebanho;

3) deixar a reunião da Mesa Diretora encaminhar o pedido de perícia à Polícia Federal para só então recorrer ao Supremo tentando impedir esse procedimento.

O recurso ao STF ainda não é uma decisão certa de Renan. Ele vem sendo aconselhado por alguns amigos da área jurídica a não escolher esse caminho. Uma derrota no Supremo apenas agravaria mais a situação.

Embora pareça desnorteado e um pouco avoado quando aparece em público, Renan tem tomado todas as suas decisões de maneira muito refletida nos últimos dias –diferentemente de suas atitudes no princípio da crise, no final de maio, período em que cometeu vários erros táticos e políticos.

Confronto

No contato com jornalistas, o presidente do Senado já chegou a hostilizar repórteres da Folha e da TV Globo. Acredita que alguns meios de comunicação se comportam como se fossem adversários –devem, então, ser combatidos.

Na semana passada, outro exemplo de atitude deliberadamente ofensiva se deu quando endureceu o discurso durante uma alteração mantida com o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM). Renan fez um gesto calculado. Emitiu um recado forte e ambíguo aos senadores ao pronunciar a frase "vão ter de "sujar as mãos".

É que Renan já considerava irremediavelmente perdido o voto de Virgílio. Usou-o então como "sparing" para dar uma demonstração de força porque no dia seguinte, quarta-feira, teria de emitir um sinal inverso ao não aparecer na sessão conjunta do Congresso Nacional –na qual foi votada a Lei de Diretrizes Orçamentárias.

Ou seja, ele quis demonstrar coragem num dia para não ser acusado de covardia num momento posterior.

Fonte: Folha Online

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