A Operação Persona realizada pela Polícia Federal (PF) desarticulou na manhã desta terça-feira um esquema fraudulento de comércio exterior, criado por empresários brasileiros para beneficiar uma empresa multinacional americana. A PF não quis informar o nome da multinacional alegando que a investigação ainda está em curso e o processo corre em segredo de Justiça. Até agora, foram presas 40 pessoas, sendo que seis delas eram auditores fiscais da Receita Federal (quatro da ativa e dois aposentados). Cerca de R$ 1,5 bilhão de impostos deixaram de ser arrecadados com o esquema.
A multinacional é líder no segmento de serviços e equipamentos de alta tecnologia para redes corporativas, Internet e telecomunicações. Outros cinco brasileiros que moram nos Estados Unidos ainda podem ser presos.
Segundo a delegada Érika Tatiana Nogueira, já foram lacrados vários estoques de empresas e apreendidos US$ 290 mil, R$ 240 mil, US$ 10 milhões em mercadorias, um avião e 18 veículos. Ainda restam quatro mandados de prisão para serem cumpridos no Brasil.
Até o momento, os policiais prenderam quatro pessoas em Campinas, duas em Ilhéus, duas no Rio de Janeiro, oito em Salvador e 28 em São Paulo e Santos. As autoridades brasileiras estão em contato com os policiais americanos para prender os brasileiros supostamente envolvidos com o esquema que vivem no país.
A investigação partiu da denúncia de uma ex-funcionária da multinacional no Brasil. Segundo a delegada, mais de 30 empresas estão envolvidas no esquema. A porta de entrada dos produtos era a cidade de Ilhéus, na Bahia.
O secretário-executivo do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto, disse que o esquema prejudicava diretamente as empresas brasileiras do mesmo setor.
"O desbaratamento da quadrilha é importante porque as empresas brasileiras sofrem prejuízos com o descaminho (contrabando) e a interposição fraudulenta adotadas por esses concorrentes. O que se desmantelou é um esquema poderoso de importação formal e que causa imenso prejuízo à indústria brasileira", comentou.
Os investigadores ainda não podem precisar se os clientes que compravam produtos oriundos do esquema tinham consciência das ilegalidades. O coordenador geral de pesquisa e investigação da Secretaria de Receita Federal do Brasil, Gerson Shaan, disse que os clientes do esquema são grandes empresas brasileiras. "Não temos indícios da participação e responsabilidade dos clientes finais, por enquanto", disse.
Ele alertou que se os clientes forem revendedores de materiais podem ser enquadrados pela sonegação de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Segundo Shaan, a novidade dessa operação é que a Receita e a Polícia Federal estão encontrando os beneficiários do esquema e não apenas os usuários da fraude.