Não faz muito tempo que, no domingo à noite prestes a dormir, abria a mensagem enviada por minha atendente com a lista de pacientes agendados e confirmados na segunda de manhã e via quem seriam os ditos cujos. Então, ao reconhecer um a um, ia lembrando-me de suas características: “O de 8:00 é fulano que...
Não faz muito tempo que, no domingo à noite prestes a dormir, abria a mensagem enviada por minha atendente com a lista de pacientes agendados e confirmados na segunda de manhã e via quem seriam os ditos cujos. Então, ao reconhecer um a um, ia lembrando-me de suas características:
“O de 8:00 é fulano que é gente boa; o de 8:30 é aquela senhora que sempre chega atrasada e depois fica reclamando; o de 9:00 é aquele rapaz que sempre quebra as pecinhas do aparelho; a de 9:30 é aquela menina que é bastante educada e cuidadosa; xiii!!! Dez horas é aquela família super barulhenta que me estressa logo cedo…”
E assim, naquele domingo à noite, quando deveria dormir em paz relaxando para a semana que se inicia, eu começava a me antecipar ao dia seguinte, passando a sofrer duas vezes; a primeira bem antes do que deveria, levando-me, às vezes, a uma leve ansiedade ou até uma breve insônia horas antes do fato em si. Embora eu saiba dos porquês dessa minha atitude insensata, é muito difícil para pessoas controladoras e que temem eventuais sofrimentos resistirem à tentação de não se antecipar ao futuro, sejam em horas, dias ou meses até.
Quem tem esse perfil, acaba cometendo o autoengano de achar que na tentativa de prever o desenrolar do futuro, este poderia ser modificado ou quiçá atenuado – ao ser vivida antecipadamente alguma situação dolorosa ou estressante, tornar-se-ia menor e mais amena. Todavia, geralmente acontece o oposto -acabamos sofrendo duas vezes, ou muitas vezes somente a primeira, pois nem sempre as dores se apresentam tão contundentes quando finalmente vividas.
Porém, finalmente comecei a relaxar pondo o racional à frente do emocional. Para quem numa cobrança de pênaltis sempre imaginava o resultado adverso para o meu time a cada cobrança para antecipar-me a uma eventual frustração, foi um verdadeiro avanço. A agenda da segunda-feira, a viagem, a festa, o resultado do exame, o sim ou não tão esperado ou a cobrança do pênalti decisivo, agora finalmente se apresentam no tempo certo. O futuro está ali em frente, a poucos metros ou poucas horas esperando sua vez de se apresentar no palco da nossa vida, para que ler a sinopse então?
Melhor que se antecipar ao futuro é manter-se sempre preparado para ele – para o que vier. Então, se a primeira paciente vai ser a dona Maria que sempre reclama – que seja. Se a bola entrar ou sair do pênalti, paciência, é assim que as coisas simplesmente acontecem – não dá para controlar o que está fora do nosso controle.
Que venha então o primeiro paciente, que venha o amanhã, que venha o ano novo. No final, o futuro, mesmo próximo, é sempre um tiro no escuro.