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Assembleia Legislativa de Alagoas

Assembleia Legislativa de Alagoas

O escritor Lima Barreto, em Recordações do Escrivão Isaías Caminha, mostra como o herói consegue mudar sua impressão de mundo, depois de assistir a uma simples sessão do parlamento carioca. Vindo do interior, Isaías Caminha imagina que das tribunas, sempre brilhantes e douradas pelos ectoplasmas das vozes sábias da humanidade, discursariam Sólons, Platões, Sócrates, Licurgos Moisés…

Tal a surpresa do nosso personagem ao perceber no parlamento uma cópia da sociedade dos piratas. De um lado, os ladrões do dinheiro público; do outro, os negociadores de cargos, vantagens. Eram os permissivos, os lacaios e os tolos em um mundo misturado, confuso. Eis ali, o parlamento real, sem as utopias nem as cavernas com suas sombras.

“Nada transpirava na sua preguiçosa e baça personalidade”. Era a decepção de Isaías.

Pois bem, conservada a memória de Barreto, uma sagaz descrição da política lá nos idos do ano 10, aterrissamos na Assembleia Legislativa, um pedaço deste nosso Brasil histórico. Ali brilham igualmente Sólons incompreendidos, como o deputado Manoel Sant’Anna, “o homem da folhinha”, carinhosamente chamado pela imprensa.

Hoje, a glória lhe sugeriu um empréstimo para a segurança pública. Descobrira que Alagoas é um dos estados mais violentos do Brasil. Em sua apologia- ainda incompleta- Sant’Anna esqueceu-se que o Estado deve R$ 7 bilhões aos cofres da União e compromete 15% de sua receita corrente líquida para honrar empréstimos de governos passados, em operações estranhas, piratas. Portanto, Alagoas está proibido de ter um novo empréstimo, mesmo sob desejos do nobre deputado.

Eis Isaías- “Sentei-me no último degrau de uma arquibancada grosseira, junto à balaustrada, tendo embaixo o vazio da sala das sessões. Faziam a chamada. Ouvi repetir uma chusma de nomes anódinos e obscuros”.
Em sua resenha socrática, o deputado Hélio Silva nos diz que Alagoas registra seu primeiro caso de gripo tipo A. O parlamento não entrou em chamego, afinal, é notícia hoje dos jornais, aliás, como se mostra a situação dos cofres, ao se falar de novo empréstimo. Interrompido o parlamentar pelo nosso Sócrates e sua apologia. Era Sant’Anna: o governador precisa conhecer a situação da Saúde em Alagoas. Faltou hoje inspiração ao nosso Sólon ou Licurgo, parido das barrigas e veias de Tavares Bastos: 94% da população alagoana não apenas depende do SUS como ainda se apinha nos 52 hospitais do Estado. Alguns fechados, como o de Santana do Ipanema. Já se vão 12 anos…

E o deputado Castelo… Bem, esse a história lhe fará justiça. Há algum modelo a servir-lhe de inspiração nos livros, senão da filosofia, da Comédia Humana, de Balzac…

Ah! Quase esqueceu-se o fim da caminhada de Isaías no parlamento. Ele virou as costas para sair do parlamento. Do lado de fora, o belo verão carioca. Aqui, a chuva, o inverno que começou em Alagoas na semana passada.

“Preparei-me para sair e, quando voltava as costas para o recinto, vi encostado a uma janela no andar do recinto, a figura espertalhona do Senhor Laje da Silva. Saímos eu e um outro popular, a quem perguntei: Que faz essa gente, hoje, aqui? Que fazem, respondeu-me, sei lá… Isto é, explicou-me logo o que fazem sempre: leis Estávamos na rua. O dia que amanhecera lindo, e relativamente fresco, esquentara e o calor por aquela hora era forte como se estivéssemos em pleno verão”…

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