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Ana Cláudia Laurindo*

Apesar da insistência de alguns indivíduos em negar as artimanhas ideológicas próprias do sistema capitalista; o mesmo, mais rebuscado nas denominações neoliberais, dá vazão à sanha opressora que devora seu âmago, redefinindo relações com trabalhadores, esvaziando de sentido o próprio ato de trabalhar.
Os bons livros orientam o entendimento, para a vivência orientada que nos torna participantes ativos e perspicazes, da mesma sociedade que gera opressores e oprimidos. Esse não é um discurso antigo! Cada vez mais atual, nas roupagens de um tempo venal, em tantos aspectos!
Meu Trabalho de Conclusão de Curso tem como titulo: “Escolaridade, desafio alagoano – análise de Infância, história de vida de Graciliano Ramos”. Nessa pesquisa literária, encontrei os ranços de uma cultura violenta, grosseira, impedindo o desabrochar da autonomia do pensamento e das ações! A luta de Graciliano pela alfabetização, a saga pela escolarização, em uma Alagoas antiga, tão presente na atualidade.
Também lá, na Alagoas descrita pelo autor, existia aqueles silenciados pelo medo ou pela covardia, pelos interesses umbilicais e pela truculência da perseguição política. Ideais, ações e vidas valiam o peso das negociatas.
Hoje, ainda desafiada pela necessidade de escolarizar seus rebentos, Alagoas se denuncia na voz do Ministério Público, mas se justifica na falácia dos representantes políticos. Educação virou um problema jurídico.
Os parâmetros do moderno neoliberalismo podem ser usados livremente, entre “pareceres e decretos”, pelos corredores do Palácio! Antigos militantes tomam a frente nas esferas medianas de poder, exibindo lutas passadas, inibindo lutas necessárias no presente!
Professores foram transformados em escravos dos minutos! O tempo, minuciosamente contabilizado, esquarteja sua carga horária! Já não existe um prédio, uma escola, uma sala de aula para trabalhar. Existe a divisão do tempo! Com 40 horas professores correm o risco de trabalhar 5 hs em um bairro, 8hs em outro bairro, 7hs em outra comunidade, até fechar o último minuto!
O discurso em favor do aluno é a bandeira da frente! Sem forças para cortar o mal das “más gestões” pela raiz, sem vitalidade política para empreender a formação de boas equipes (diga-se “não corrompidas”), o governo e seu séquito de legalistas coloniza o tempo, a alma e a vida dos servidores da educação pública.
Entre uma viagem e outra para chegar até a próxima escola, não sobra tempo nem mesmo para pensar em coisas básicas, tais como dignidade do trabalhador, uma organização sindical que amplie suas propostas de luta para além das negociações salariais, e perceba as armadilhas jurídicas que estão sendo lançadas sobre a categoria cada vez mais dispersa, cansada, desmotivada, apolítica!
Pois é, “Velho Graça”, nosso Estado ainda capenga, lento, como naquele raiar de República, onde os coronéis se recusavam a abrir as porteiras! Escolaridade ainda é o que desafia!

* Mestra em Educação/Socióloga

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