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Blog do Fragoso

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A liberdade de escolha e o respeito ao resultado das urnas

Como é bom ver o brasileiro ir às urnas celebrar a festa da democracia. Escolhemos pelo voto da maioria a presidente da República, governadores dos Estados, senadores, deputados estaduais e federais.

Para os jovens de hoje tudo isso é uma coisa natural, mas para mim, que já ultrapassei meio século, significa conquistas que custaram o sangue e o sofrimento de muitos brasileiros. São conquistas que nos são muito caras e irrenunciáveis.

Nasci em setembro de 1963, meses antes do golpe militar que instalou a ditadura. Vivi minha infância e adolescência sob a égide de um regime autoritário e tenho lembranças da ausência de liberdade daquela época.

Ainda menino, lembro que a palavra comunista soava como sinônimo de coisa diabólica e era proibida de ser pronunciada, por medo e preconceito. Quando alguém ousava discutir o tema atraía para si olhares devastadores.

Nas escolas, silêncio sepulcral acerca dos assuntos que não fossem de interesse do governo. O eleitor não votava para os cargos do Executivo. O presidente da República era escolhido por um Colégio Eleitoral controlado pelos ditadores, os governadores eram nomeados pelo presidente enquanto os prefeitos das capitais, das instâncias hidrominerais e das áreas de segurança nacional eram nomeados pelos governadores após prévia indicação do presidente.

Não havia liberdade de expressão e a censura prévia era a marca registrada do autoritarismo. Tentava-se controlar tudo, só não era possível controlar o pensamento do homem livre.

E quantos homens e mulheres livres tombaram na luta contra a opressão militar? Quantas famílias não puderam sepultar os seus mortos? Quantos foram torturados nos porões da ditadura?

Votei pela primeira vez em 1982, quando tinha 19 anos de idade. Foram as primeiras eleições gerais, 18 anos depois do golpe militar. O brasileiro foi chamado a votar para governador, senador, deputado estadual, deputado federal, prefeito (excetuando as capitais, instâncias hidrominerais e áreas de segurança nacional) e vereador, numa eleição onde os militares impuseram regras casuísticas para favorecer o partido oficial.

Naquela eleição, o voto era vinculado, ou seja, o eleitor estava obrigado a votar em candidatos de um só partido, sob pena de anulação do voto. Eram proibidas as coligações partidárias e permitidas sublegendas para prefeito e senador, tudo com o propósito de favorecer os aliados da ditadura.

Na propaganda eleitoral só era permitida a apresentação da foto do candidato e a leitura do seu breve currículo. No dia da eleição os chefes políticos arregimentavam os eleitores em suas pomposas propriedades, dando-lhes cachaça, comida e outras benesses, angariando ao final o voto fácil e subserviente, tudo isso sem qualquer fiscalização.

Somente em 1985 se restabeleceu a eleição direta para os prefeitos das capitais, instâncias hidrominerais e áreas de segurança nacional e em 1989, ou seja, 25 anos depois do golpe militar, é que o brasileiro votou para presidente da República.

Por isso digo que apesar de todas as nossas dificuldades avançamos muito. Temos ampla liberdade para escolher em quem votar. Escolhemos nossos representantes no Executivo e no Legislativo, em todos os graus. As eleições são fiscalizadas e uma vez identificadas condutas lesivas ao pleito eleitoral os responsáveis são punidos, o que era inimaginável nos anos de chumbo.

Tivemos agora uma eleição para presidente disputada voto a voto e isso faz com que, aqui ou ali, as pessoas exagerem ou sejam mais voluntariosas, é natural.

O que não é natural é transformar o resultado das urnas num divisor de águas entre o bem e o mal, o certo e o errado. O que não é razoável é esse preconceito contra os que fizeram a opção pela candidata vitoriosa. O que não é aceitável é observar nas redes sociais o ultraje contra os nordestinos, que segundo alguns burgueses perfumados não deveriam sequer exercer o direito de escolha.

Vi algumas colocações, incabíveis numa democracia como a nossa, feitas por pessoas que se consideram mais “esclarecidas” que outras. Constatei, perplexo, alguns desses “esclarecidos” defenderem o retorno ao passado, chegando a enaltecer os militares, enxergando neles a solução para os graves problemas que enfrenta a nação brasileira.

Desse passado quero distância. Quero um país livre. Quero o povo escolhendo diretamente os seus representantes em todas as esferas. Se a opção feita pela maioria coincide ou não com a minha, não importa. O importante é que todos tenhamos o direito de escolha e o exercitemos democraticamente.

A eleição passou, mas a vida segue para os que votaram ou não na candidata reeleita. É certo que o Brasil se dividiu, não há dúvida, mas essa divisão se deu na escolha e não pode extrapolar esse campo, afinal, somos um só povo, o povo brasileiro, gostem ou não aqueles que não se conformam com a vontade manifestada pela maioria.

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