Luis Vilar
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O colunista da Revista Veja, Diogo Mainardi, trouxe uma constatação interessante ao falar da Venezuela: em Caracas já se mata mais que em Maceió e Recife. O articulista ainda acrescenta o quanto é difícil superar estas duas cidades brasileiras em número de homicídios. Em Maceió, especificamente, ingressamos em uma guerra civil silenciosa e disfarçada. A terra dos paradoxos. Aqui, é o mundo surreal, a louvação ao faz de contas…
Vale ressaltar que quanto ao índice de homicídios por 100 mil habitantes, nós maceioenses ganhamos dos moradores de Recife. Nosso índice (número de 2006, que acredito ter aumentado) é de 75,4. Grande parte destes pretos, pobres e sem ninguém para clamar Justiça, ou fazer passeata na orla.
Fomos o primeiro lugar no rancking das capitais brasileiras em 2006. Durma-se com um barulho destes. A violência urbana em Maceió é um mar que cerca uma ilha paradisíaca onde poucos residem. No entanto, estes poucos movimentam – paradoxalmente – um dos comércios de luxo mais sólidos do país.
Montar uma loja, restaurante, ou prestadora com serviços de luxo em Maceió, estranhamente é lucro na certa. Mesmo sabendo que a maioria dos homicídios – conforme recentes estudos – estão ligados às regiões mais pobres, Maceió apresenta oásis de riqueza, que às vezes têm chiliques ao lerem jornais. Eles acreditam piamente que violência é só caso de polícia. Se ela não resolve, então a justiça com as próprias mãos resolve.
A maior parte destas riquezas acumuladas proveio do roubo…
Até pouco tempo atrás, se registrava – dos quase 900 mil habitantes de Maceió – cerca de 400 mil pessoas abaixo da linha de miséria. Havia ainda um pequeno grupo que podia viver alheio à violência que come no centro de Maceió. Hoje, o sangue começa a respingar nas camisetas Lacoste.
Eles bebem champanhe e caviar enquanto as balas ricocheteiam em suas janelas blindadas, nas mais altas coberturas da cidade. Dados paradoxais interessantes de nossa capital: o comércio imobiliário de luxo prospera, vendendo apartamentos que ultrapassam as cifras dos R$ 500 mil e “dos R$ 1 milhão”; Maceió é a capital com uma das mais novas frotas de carros do país, em sua grande maioria importados e de luxo; existem lojas – em pequenos shoppings de luxo da capital – que vivem às moscas e mesmo assim conseguem ter receitas…enfim…
O que tudo isso tem haver com os homicídios? Bem, a quantidade assustadora de mortes violentas em Maceió assombram desde o início do novo século. Não é de hoje. E pasmem, alguns sociólogos estão certos sim. Não está tão somente ligada a uma questão de polícia, mas sim a uma construção urbana desordenada, onde uma pequena elite com rei na barriga achou que poderia dispor da cidade, da riqueza produzida, dos espaços e dos apadrinhamentos políticos como bem entendesse.
Muito dinheiro público – que poderia ter mudado esta realidade – escorreu pelo ralo e foi dá em alguma conta bancária, longe daqui…talvez no exterior!
Resultado: a maior parte das pessoas desta cidade estão excluídas de qualquer futuro que apresente boas perspectivas. Sendo assim, as coisas podem piorar e muito diante da falência do Estado de Direito, que em Alagoas – de forma oligárquica e servil – patrocinou a violência institucionalizada, a corrupção desenfreada e a bandalheira. A classe média maceioense possui uma ligação tão estreita com a politicagem; construída numa dívida de favores que vai desde a alocação em um órgão público por meio de um concurso fraudado ao político que “deu um jeito” de sumir com alguém que incomodava.
Quem não encontrou estas vias de acesso na formação da sociedade maceioense tem virado estatística na mesa do secretário de Defesa Social – independente de ser este ou de ser outro. Nestas estatísticas ou se é a vítima, ou se é o algoz. Enquanto isto, com o vidro do meu carro importado fechado, ar condicionado topado e pensando apenas no cargo comissionado que eu ocupo, eu reflito: “Tem mais é que linchar mesmo estes ladrões FDPs que roubaram uma margarina no supermercado”.
Mas, nessa história toda quem mais roubou e ajudou na construção destes índices negativos e assustadores, está sentado na varanda de frente para o mar, chupando um rolete de “cana-de-açucar”.